A Comissão Nacional da Verdade vai coordenar processo de exumação do corpo do ex-presidente da República João Goulart. O anúncio foi feito no início da noite desta quarta-feira, após reunião para tratar do tema na sede do Ministério Público Federal, em Porto Alegre.
Continua depois da publicidade
Participam do encontro cerca de 40 pessoas, entre elas a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, a coordenadora da Comissão da Verdade, Rosa Cardoso, familiares de Jango, representados pelos filhos João Vicente e Denize e pelo neto Christopher, membros da Polícia Federal, representantes dos governos argentino e uruguaio e das comissões da Verdade do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro.
O objetivo da exumação é investigar se Jango, como era conhecido o líder trabalhista, morreu de causas naturais ou se foi assassinado pelo regime militar em 1976.
A Comissão Nacional da Verdade está constituindo um grupo de especialistas, desde peritos forenses até antropólogos, para aprofundar a busca de análise de documentos e históricos clínicos de Jango, que serão buscados em países como Argentina, Uruguai e França, onde o ex-presidente costumava consultar.
As próximas fases da investigação também envolvem a troca de documentos entre Brasil, Uruguai e Argentina – países que investigam a morte do ex-presidente – e a busca por mais provas documentais.
Continua depois da publicidade
O principal objetivo é encontrar prontuários dos médicos que atenderam Jango, com o intuito de desvendar suas reais condições de saúde da época, os remédios que ingeriu e as condições em que estava vivendo.
– Não é simplesmente determinar uma data para ir no cemitério e retirar o caixão. É muito mais complexo – afirmou a coordenadora da comissão, Rosa Cardoso.
A intenção é concluir a exumação de Jango e obter resultados até novembro de 2014, quando se encerra o mandato da Comissão da Verdade. Devido à complexidade do procedimento, no entanto, não está descartada possibilidade de o prazo ser estendido.
Nesse caso, as opções seriam ampliar o mandato da comissão especificamente para tratar do caso de Jango ou deixar a investigação com a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência de República. O Ministério Público Federal – que já investiga a morte de Jango desde 2007 em um inquérito civil – também garante que dará continuidade ao processo de exumação.
Continua depois da publicidade
Depoimento reforçou suspeita de assassinato
O principal ponto que faz as autoridades acreditarem na possibilidade do assassinato de Jango é o depoimento de um homem que teria sido coautor do suposto crime. Em depoimentos à comissão e ao Ministério Público Federal (MPF), ele afirmou que o ex-presidente teria sido envenenado.
O problema é que o MPF encontrou contradições nos depoimentos do homem, que já cumpriu pena em regime fechado. Como já se passaram 37 anos da morte do ex-presidente, não há como afirmar que o resultado da exumação e da perícia será conclusivo.
– Os peritos com os quais eu conversei até hoje são unânimes ao dizer que depende muito do estado do corpo e do tipo de substância eventualmente utilizada. São muitas variantes, não tem como antecipar – disse a procuradora da República Suzete Bragagnolo.