A Operação Barriga Verde, que prendeu 42 pessoas ligadas do Partido Comunista em Santa Catarina durante a ditadura militar, será o foco dos trabalhos iniciais da Comissão da Verdade de Joinville.
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O presidente da comissão, o advogado Luiz Henrique Lima, apresentou os objetivos e parte do cronograma de audiências públicas nesta quarta-feira à tarde, na Prefeitura.
Em Joinville foram presas nove pessoas só durante a operação Barriga Verde. Durante todo o período do regime militar (1964 a 1965), o número de prisões foi superior a 60 e pelo menos 200 pessoas foram perseguidas ou fichadas na cidade.
A Operação Barriga Verde foi posta em prática pelo Exército em Santa Catarina no dia 4 de novembro de 1975 e as pessoas foram mantidas presas por até três anos. A caçada aos comunistas terminou com a prisão de 42 pessoas acusadas de pertencer ao PCB.
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Foi o pior período de caça aos comunistas. Cerca de 14 integrantes do Comitê Central do partido foram presos, mortos e estão desaparecidos até hoje.
A comissão formada em Joinville _ a primeira no âmbito municipal em todo o Estado _ também confirmou o depoimento de cinco mulheres na próxima terça-feira, dia 2 de setembro, na primeira audiência pública, na Câmara de Vereadores.
As informações coletadas nesses depoimentos complementarão os trabalhos da Comissão Estadual da Verdade.
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– Nosso prazo é até o final de novembro, porém nada impede de prosseguirmos na apuração de fatos relacionados com violações de direitos humanos para resgate da verdade histórica – disse Luiz Henrique Lima.
O vice-presidente da comissão, o professor de história Maikon Jean Duarte, disse que outro objetivo que a comissão pode alcançar é identificar a cadeia de comando das operações militares com base em nomes que atuaram direta e indiretamente na repressão.
– Uma grande dificuldade em todo país é a identificação desses nomes. A comissão ouvirá vítimas ou acusados que queiram se manifestar. O objetivo é expor o outro lado da história – disse.
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Durante os 21 anos do golpe militar, de 1964 a 1985, pelo menos 90 pessoas foram presas ilegalmente em Santa Catarina, quase todas ouvidas pela Comissão Estadual da Verdade.
– As que ainda não foram ouvidas precisam se sentir encorajadas a falar, seja como forma de colaborar com a verdade histórica, seja na fundamentação de possíveis medidas jurídicas cabíveis – disse o jornalista e professor do curso de Jornalismo do Instituto Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus/Ielusc, Sílvio Melatti.
A comissão não tem poder para convocar ou intimar as pessoas, apenas convidá-las. As pessoas que preferirem fazer seus depoimentos em sigilo também devem procurar a comissão.
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O grupo foi criado por lei no dia 26 de junho. É composto por dez membros entre titulares e suplentes que representam os poderes Executivo, Legislativo, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Braz, Univille e Ielusc.
– Além de ouvir as vítimas e realizarmos um resgate histórico daquele período, a comissão será um importante canal para ouvir outras pessoas envolvidas nesses episódios e que queiram se manifestar – explicou o coordenador.
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