O primeiro dia de júri popular do caso de decapitação de Israel Mello Júnior aconteceu com as portas fechadas em Joinville. A sessão começou por volta das 10 horas desta segunda-feira no Fórum da cidade. O crime ocorreu em fevereiro de 2016, quando a cabeça do jovem foi encontrada em uma mochila no bairro Jardim Paraíso. Sete homens foram denunciados pela decapitação.
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‘A vida já tirou tudo o que eu tinha’, disse Israel, meses antes de ser assassinado
O julgamento, que deve durar cerca de três dias, é presidido pelo juiz Walter Santin Junior. A lei prevê que sejam intimadas 25 pessoas para a bancada do júri. Entretanto, como cada réu tem direito à recusa de três jurados, foram chamadas 60 pessoas no total. Após sorteio, sete delas compuseram a mesa. Na defesa estavam dois advogados privados e dois defensores públicos. A acusação foi conduzida pelo promotor Guilherme Luis Lutz Morelli.
Durante os três dias de júri, acusação e defesa planejam ouvir 21 testemunhas que estão descritas no processo e cinco réus: Leonardo Felipe Bastos, 19 anos; Luciano da Silva Costa, 23; Henrique Alexandre Guimarães, 21; Jonathan Luis Carneiro, 21; e Thomaz Anderson Rodrigues, 18. O denunciado Valter Carlos Mendes, 34 anos, foi desmembrado do processo original porque entrou com recurso.
O réu Carlos Alexandre de Melo, 27 anos, também foi separado do processo. Durante o júri, o defensor público, Vinicius Manuel Ignácio Garcia, solicitou a separação porque ‘não teria discernimento do que estava fazendo no momento da prática do crime’. Um exame de sanidade mental chegou a ser requisitado durante a fase de interrogatório, segundo Garcia, porém não foi realizado.
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Cabeça de jovem é encontrada em mochila na zona Norte de Joinville
Por se tratar de um crime envolvendo organizações criminosas, existem testemunhas protegidas ouvidas durante o processo. A decisão de manter as portas da sessão fechadas foi tomada para manter a segurança dos envolvidos. Familiares, imprensa e estudantes não tiveram acesso ao júri.
— Deliberamos em razão de haver muitas testemunhas protegidas. A todo momento, elas serão citadas nos debates. Portanto, o julgamento vai se realizar com as portas fechadas — explicou.
O advogado criminalista Antonio Luiz Lavarda defende apenas um denunciado. Entretanto, ele acredita que a defesa irá sustentar a negativa de autoria porque as provas do crime não indicam o possível culpado dentre os acusados pela decapitação. Lavarda também salienta que o júri será complexo, tanto para o Ministério Público quanto para a defesa, porque, sem a autoria definitiva, as circunstâncias do julgamento é que vão definir a sentença dos denunciados.
— Eu acredito que os defensores públicos e o outro advogado, pelo que já vem sendo amparado no processo até agora, irão sustentar a negativa de autoria. Quando se trata de um homicídio cuja autoria é incerta, as circunstâncias é que vão definir a situação de cada acusado — apontou.
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Os réus foram de denunciados por sete crimes: cárcere privado (duas vezes) contra duas pessoas, que foram usadas como isca para atrair Israel; homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe (briga entre facções); tortura e dissimulação (forma com que a vítima foi atraída); destruição de cadáver; ocultação de cadáver; vilipêndio (exibição da decapitação em vídeo); e formação de quadrilha.
A reportagem de ‘AN’ tentou contato com o promotor, mas ele não quis se pronunciar antes do julgamento. Os outros advogados de defesa também foram procurados, mas não quiseram conceder entrevista.
Relembre o caso
O jovem Israel de Mello Junior, de 16 anos, foi atraído para uma emboscada durante o sequestro de outras duas pessoas. Ele foi mantido em uma casa no bairro Ulysses Guimarães, onde foi torturado. Após a morte de Israel, sua cabeça foi cortada com golpes de machado e deixada em uma mochila no bairro Jardim Paraíso. A sacola foi localizada por moradores no dia 2 de fevereiro do ano passado. Um vídeo, gravado pelos criminosos, circulou nas redes sociais mostrando o crime.
O jovem foi apresentado ao mundo das drogas durante a adolescência, segundo informações reveladas por testemunhas ao ‘AN’ na época do crime. Os depoimentos revelaram a ausência de perspectiva do adolescente, que se envolveu com o mundo do crime em menos de dois anos até a morte com requintes de crueldade, em 2016.
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