* Repórter viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro

Nome: Bruna Costa Alexandre. Idade: 19 anos. Profissão: mesatenista. Rotina: treinar todos os dias, em mais de um período. Sonho: participar de uma Olimpíada. Esse é o perfil da jovem promessa criciumense que hoje treina com a Seleção Brasileira em São Caetano do Sul (SP) e compete entre as melhores atletas do país. Com uma pequena diferença para as rivais: não tem o braço direito, amputado quando ainda era bebê.

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Diferença, não inferioridade. Bruna tenta fugir do estigma de “coitadinha”. Mais do que exemplo de superação, ela quer ser exemplo de atleta, de competência.

– Sempre me senti normal, o braço não me faz falta. As pessoas sempre me trataram normalmente, ninguém tem pena de mim, muito menos as adversárias – conta em tom de brincadeira.

Nem por isso, Bruninha deixa de ser reconhecida pelos seus feitos alcançados dentro do paradesporto. Depois de ganhar duas medalhas de bronze do Mundial Paralímpico de Tênis de Mesa 2014, foi escolhida pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) a melhor atleta da modalidade no ano. Recebeu a honraria na cerimônia Prêmio Paralímpicos realizada na noite de quarta-feira no Rio de Janeiro, em que foi um dos destaques ao concorrer à principal premiação entre as mulheres: a de melhor atleta geral.

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Para além dos resultados expressivos, foi justamente a coragem de encarar de frente, e de igual para igual, adversárias sem deficiências que fez com que fosse convidada a estrelar a nova campanha do CPB. Ela é a prova viva do novo slogan: “mude o impossível”.

Confira a entrevista completa que a mesatenista deu ao Diário Catarinense ainda no Rio:

Diário Catarinense – ficou surpresa com a indicação de melhor atleta paralímpica de 2014?

Bruna Alexandre – Ganhei como melhor atleta no tênis de mesa nos dois últimos anos, mas esta foi a primeira vez que concorri ao de melhor atleta geral. Recebi a notícia por telefone e não esperava. Há grandes atletas em todas as modalidades, campeãs mundiais, paralímpicas. Fico muito feliz só de estar entre as melhores do Brasil. São atletas mais experientes, mais velhas, com um currículo muito maior.

DC – Como foi parar no tênis de mesa?

Bruninha – Treino desde o sete anos. Comecei porque meu irmão já jogava, então foi natural. Fazia antes futsal, bike, até que encontrei o tênis de mesa. O que gosto no esporte é que a bolinha é muito rápida, você tem que ser malandro para jogar, mais esperto do que o adversário, não adianta só colocar a bola na mesa. E a bolada tem que ser forte, porrada. Quando entro na mesa, mudo completamente. Fico sorrindo aqui, mas quando estou jogando sou outra pessoa.

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DC – Você já participou de uma Paralimpíada, como vê sua evolução neste novo ciclo paralímpico?

Bruninha – Em Londres, cheguei até as quartas de final, mas fui muito mal. Este ano, no Mundial, já melhorei muito. Avancei até as semifinais e só caí diante da polonesa Natalia Partyka, que é a melhor atleta do mundo, muito forte. Hoje sou a terceira do ranking mundial e preciso estar entre as oito melhores para garantir a vaga na Paralimpíada do Rio. O foco em 2016 está grande, não só na Paralimpíada, em que a meta é chegar na final, mas quem sabe em uma oportunidade de jogar a Olimpíada também.

DC – Essa é uma realidade possível, participar de uma Olimpíada?

Bruninha – Com certeza. Já treino e jogo com os atletas olímpicos. Hoje em dia jogo mais campeonatos olímpicos do que paralímpicos. Em São Caetano do Sul (SP), onde moro, treino com meu clube e com a Seleção Brasileira. Enfrento as melhores atletas do olímpico. Segunda-feira, por exemplo, vai ter uma seletiva do adulto olímpico, em que vou encarar as melhores jogadoras do país.

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DC – E você consegue encará-las de igual para igual?

Bruninha – Sim, elas também precisam só de um braço para jogar. Só o saque que é diferente, elas levantam a bola com uma mão e sacam com a outra. Já eu apoio a bolinha na raquete para sacar, tudo com a esquerda.

DC – Já se sentiu inferior por não ter o braço direito?

Bruninha – Não. Sempre me senti normal. Algumas vezes tive dificuldade de arrumar cabelo, essas coisas, mas sempre me senti normal, seja na escola, treinando. O braço não me faz falta. E as pessoas me tratam como se tivesse o braço, ninguém tem pena de mim. Muito menos as adversárias. Desde quando comecei, fui muito respeitada, dou porrada pra tudo quanto é lado, ninguém tem pena não (risos).

DC – Quem é seu maior exemplo no esporte?

Bruninha – Natalia Partyka, a polonesa. Ela tem 27 anos, já jogou três Olimpíadas, e é muito forte, tem muita experiência. Por enquanto, tirar o ouro dela nos Jogos Paralímpicos é muito difícil.

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DC – Voltar a morar em Criciúma está nos seus planos?

Bruninha – sabe quando eu parar de jogar eu volto, velhinha (risos). Mas sempre que posso vou para lá. Viajo muito com o olímpico e paralímpico, então de a cada três ou quatro meses eu vou. Semana que vem estou indo para lá ficar com a família e passar os meus 10 dias de férias.