Os paparazzi franceses sabem mais do que dizem.

Ou, quando dizem, não são ouvidos com a devida atenção.

Em janeiro de 2013, um ano antes de estourar o escândalo do relacionamento do presidente François Hollande com a atriz Julie Gayet, o paparazzo Sébastien Valiela, em conversa com um repórter do jornal francês Le Monde, afirmou, entre um café e outro, como quem não quer nada:

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– E se alguém conseguisse fotografar François Hollande e Julie Gayet juntos? Seria um enorme golpe. Mas quem ousaria publicar?

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Um ano depois, o próprio Valiela conseguiu. Fez as fotos que levariam à separação do casal presidencial. A revista Closer ousou publicar. Hoje, ele admite:

– Quando eu falei aquilo, já sabia de tudo.

Na época, a brincadeira não colocou nem o Le Monde nem nenhum outro veículo de prontidão. Talvez seja por isso que, desta vez, a provocação de outro paparazzo francês, Pascal Rostain, sobre a suposta relação entre o presidente americano Barack Obama e a cantora Beyoncé, tenha ganhado tanta repercussão na imprensa francesa. Vacinados, os veículos tradicionais não hesitaram em levar a sério a declaração de Rostain, que circulou por sites e debates de rádio até o jornal Washington Post desmentir a informação. Sozinho com seu furo na mão, Rostain deu explicações desencontradas. Por fim, ao Le Figaro, afirmou que foi uma piada:

– Eu estou em plena divulgação do meu novo livro. Se você escutar bem a minha entrevista na rádio, vai ver que eu dou risada no final.

A piada não funcionou: quem ouve a gravação do programa não percebe traço algum de ironia na declaração. Já a promoção do livro funcionou: contatada por Zero Hora ontem à tarde, a tradicional editora Grasset se via às voltas com um número sem precedentes de pedidos de entrevista. A assessora pessoal do paparazzo afirmou que a agenda de monsieur Rostain estava lotada demais para que pudesse conversar conosco.

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O tempo dirá se a brincadeira tem o mesmo fundo de verdade que tinha a de Sébastien Valiela. Mas Pascal Rostain não é um mero paparazzo. Com um acervo fotográfico que inclui flagrantes de Orson Welles, Caroline de Mônaco e Marlon Brando, ele frequenta o gabinete de François Hollande como quem pede dois pastis em um balcão de boteco. Soube do início do romance de Hollande com a ex-primeira-dama Valérie Trierweiler da boca do próprio presidente, antes de todos. Alertou Hollande quando soube que este estava prestes a ser flagrado com a nova amante. É um misto de “sniper (atirador) e bajulador”, como definiu a repórter francesa Sophie Des Deserts.

O episódio chama a atenção para a volta dos paparazzi franceses aos holofotes, inaugurada pelos seios desnudos de Kate Middleton em um castelo da Provença em 2012 – outro furo da Closer. Em um país cuja imprensa tem pouca tradição em investigar a vida privada de personalidades em geral, o trabalho dos fotógrafos de celebridades é visto como maldito. A morte de Lady Di em Paris, em 1997, após uma perseguição de paparazzi, piorou a imagem da classe. Valiela, o paparazzo de dois presidentes – antes de Hollande, em 1994 já havia conseguido provar um caso extraconjugal de François Mitterrand -, passou os anos 2000 nos EUA, onde, ao contrário da França, qualquer foto feita em espaço público é autorizada. Retornou à Europa para abalar a República.

Não por acaso, Valiela é um dos discípulos de Rostain. No episódio Mitterrand, Valiela fez as fotos e Rostain as vendeu para a revista Match. No episódio Hollande, Rostain sabia do caso, mas se recusou a fazer as fotos por causa da proximidade que tinha com a primeira-dama traída. Valiela apareceu com os clichês pouco depois. Não se sabe se, neste caso, houve novamente trabalho em equipe – um atirador e um bajulador. Mas a dupla sabe mais do que diz. Quando diz, é melhor prestar a atenção.