De um mal-estar à morte. Esse é o resumo de algumas horas que vão deixar para sempre a tristeza na família de Edvirge Gaudeda, grávida de nove meses.
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A morte de Edvirge Gaudeda, grávida de nove meses, e o seu bebê, no dia 6 de maio, em Tijucas, é mais um triste relato da situação emergencial que se encontra a saúde nos pequenos munícipios catarinenses.
Pela falta de obstetras na única maternidade da cidade, Edvirge precisou ser transferida para Balneário Camboriú após uma piora em seu estado, porém já era tarde.
O marido de Edvirge, André de Souza e Silva, acredita que houve negligência por parte da equipe da Maternidade Chiquinha Galotti, anexa ao hospital São José.
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– Minha esposa tinha 35 anos e a gravidez foi toda acompanhada. Se eles não tinham condições de atender, por que já não me falaram desde o começo, que eu dava um jeito de levar ela pra outro lugar? – questiona.
Foi atendida por uma enfermeira
André levou a esposa pela primeira vez até a maternidade às 19h30 de domingo, dia 5. Ela estava com um sangramento no nariz e mal-estar. Foi atendida por uma enfermeira, recebeu orientações e voltou pra casa. Pelas 21h30, Edivirge voltou ao hospital, sentindo-se pior. Outra enfermeira atendeu o casal, por não haver médico.
Mãe e filho não resistiram
– Eu ouvi o coração do bebê batendo até 20h. Mas quando veio a enfermeira, depois da meia-noite, o bebê não apresentava sinais de vida. Aí apareceu um médico – conta André.
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Já o hospital conta outra versão. Segundo o gerente de enfermagem, Gabriel Stanck, às 21h50 Edvirges foi avaliada pelo clínico geral, que já percebeu a ausência de batimentos cardíacos do bebê, e pediu a transferência.
Segundo Gabriel, o médico suspeitou de Síndrome de Hellp, uma doença rara que acomete gestantes, muito difícil de diagnosticar. Ele não realizou o parto porque seria necessário fazer uma cesariana, e o hospital está sem obstetras.
Edvirge e o filho foram encaminhados para o Hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, Litoral Norte. Foi feita uma cesariana de emergência, e o menino nasceu morto, às 1h45min. A mulher não resistiu e morreu 15 horas depois.
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“Dor insuportável”
No Hospital São José, a coordenadora administrativa, Irmã Lucenira Hilleshein, afirma que não houve negligência, mas vão abrir um procedimento interno para verificar o caso.
– Estamos abertos para prestar todos os esclarecimentos – disse a Irmã.
O gerente de enfermagem afirma que o procedimento foi correto, e que Edvirge não apresentava sintomas de algo mais grave.
Difícil vai ser explicar para André como uma grávida de nove meses, que chega ao hospital com dores e mal-estar, vai para casa sem uma avaliação médica. O porquê da transferência tardia e ainda a falta de um médico na ambulância, dada a gravidade da situação.
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– Não quero indenização. Só desejo que isto não aconteça com mais ninguém, porque a dor que eu estou sentindo é insuportável – relata André emocionado.
Investigação
Na última sexta-feira (10), André registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Tijucas. O delegado Pedro Henrique Mendes confirmou que vai abrir um inquérito, e deve começar a ouvir os envolvidos no caso na próxima semana. O Conselho Regional de Medicina (CRM) também deve abrir uma sindicância para apurar todos os procedimentos realizados.
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