Levou um ano e meio para finalizar as visitas em construções germânicas que findaram em grandes descobertas em Pomerode. A primeira delas revelou que a cidade não tem 196 casas enxaimel, mas 233. A segunda, que muitos imóveis catalogados não eram enxaimel e outros, que não constavam no Inventário de Casas Enxaimel (2008), eram, sim, legítimos.

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::: Especialistas em enxaimel mapeiam construções em Blumenau

O reboco usado para camuflar a descendência alemã foi um dos fatores que confundiu bastante, conta o gerente de Patrimônio Histórico de Pomerode, Theofanes Alexandre Klotz:

– Foi um desafio, vimos o inventário e a gente quis ver se tudo ainda existia. Fomos achando. Muitas casas eram enxaimel, mas não foram consideradas inicialmente pois era difícil confirmar. Internamente foi possível visualizar, no teto e em detalhes de madeira que aparecem na estrutura.

O pesquisador confirma que hoje, com o novo levantamento, Pomerode se torna a cidade com mais casas enxaimel fora da Europa.

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A Rota Enxaimel, destino turístico obrigatório para quem visita a cidade, tinha 51 casas catalogadas neste estilo ao longo de 16 quilômetros, e também teve alterações, segundo a nova pesquisa. Algumas construídas entre 1867 e 1940, que não eram consideradas enxaimel, foram reconhecidas como tal. Exemplo é a propriedade de Edegar Rahn, localizada no número 8.670 da Rua Testo Alto. A casa centenária, de 1912, foi uma das estruturas rebocadas revistas durante a pesquisa.

– Quando meu pai nasceu, e ele era o oitavo filho, a casa já existia. Está na família há muito tempo. Foi o pai dele, Wilhelm Rahn, mesmo nome do meu pai e agora do meu neto, que construiu esta e a casa do lado, onde morei antes de vir para cá – conta Edegar ao lado da família.

Enxaimel encoberto também é enxaimel

Quem olha a fachada da casa – apesar da estrutura se assemelhar com as da vizinhança – não diz que a construção é enxaimel. Mas basta observar atentamente a parte superior para confirmar o encaixe da madeira que constitui o teto, uma das principais características da arquitetura germânica. Dentro da residência também há imobiliário centenário conservado pela família Rahn. Armários, mesas e bancos permanecem intactos, mesmo com a passagem do tempo, há algumas gerações.

– Está na cultura germânica e daqueles moradores que vivem ali esta preservação. Eles mantêm viva esta tradição nas casas e nos cuidados – comenta o secretário de Turismo, Ivan Piske.

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Além do bairro Testo Alto, onde está a Rota Enxaimel, outros nove bairros têm exemplares, segundo a atualização do Inventário. Menos concentradas do que no roteiro turístico, mas tão peculiares quanto. Há particularidades em todas as construções enxaimel de Pomerode. Algumas têm varandas inteiras, outras dividem espaço com quartos construídos após o crescimento das famílias. Umas possuem muretas em madeira, outras em tijolo maciço. Placas com a data de construção e arabescos também podem ser vistos na varanda de alguns exemplares centenários.

– Fizemos o levantamento mais por questão de arquivo e planejamento do que para criar um novo roteiro, mas quem sabe um dia possa existir uma rota alternativa – observa Klotz.

Blumenau: a segunda cidade com mais casas enxaimel

Um estudo divulgado em 2015 mostrou que Blumenau tem 226 casas construídas com a técnica. O número é resultado de um trabalho de pesquisa de um grupo de carpinteiros que obteve recursos do Fundo Municipal de Apoio à Cultura. O relatório final, com mapeamento, fotografias e dados básicos dos imóveis, foi entregue à Fundação Cultural de Blumenau no ano passado. Até então, Blumenau era considerada a cidade com o maior número de construções com esta técnica fora da Europa.

>> DETALHES QUE REVELAM AS ORIGENS

Casa da Crista, propriedade de 1908, possui detalhes cerâmicos no topo do telhado – Foto: Pamyle Brugnago

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Casa localizada na Rua Curitiba tem na varanda o ano de construção, 1932, e mensagem em alemão – Foto Pamyle Brugnago

Pousada Waschholz, propriedade de Ilselora Wachholz, de 1867. A construção mais antiga foi restaurada em 2008 – Foto: Pamyle Brugnago

Construção de 1912, localizada na Rua Testo Alto e que não era considerada enxaimel, foi incluída no novo inventário. Detalhe mostra a estrutura de madeira no teto – Foto: Pamyle Brugnago

>> O MAPA ENXAIMEL