A comunidade internacional, cujo imobilismo vem sendo tratado como omissão à medida que aumenta de escala as atrocidades na Síria, perdeu o momento adequado de agir e terá de ser criativa para socorrer o país árabe.

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Essa é a avaliação de analistas a respeito do conflito que já deixou mais de 100 mil mortos e que na quarta-feira chocou o mundo com imagens dantescas de pessoas, incluindo crianças, mortas pelo suposto uso de armas químicas. Teriam sido 1,3 mil vítimas só nesse ataque.

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Por interesses geopolíticos e econômicos, sabe-se que o Conselho de Segurança da ONU deve continuar de mãos amarradas. A Rússia, um dos seus membros permanentes, tem direito de veto nas decisões que exigem unanimidade. E o presidente americano, Barack Obama, estaria se aproveitando da situação para jogar nos russos a responsabilidade pela ausência de uma ação mais contundente.

Outro elemento considerado: o Egito, o maior país árabe, que se afunda na instabilidade depois que o ditador Hosni Mubarak foi apeado do poder. Ninguém quer vê-lo como exemplo.

– Temos de levar em conta o que ocorre no Egito, que tem reflexos nos outros países da região, é tudo interligado. Mas não é de hoje o não intervencionismo dos Estados Unidos nesse caso. Eles ficam cômodos na posição de que a Rússia impediria uma aprovação do conselho de segurança – analisa Arlene Clemesha, professora de História Árabe do curso de Árabe da Universidade de São Paulo (USP).

A única certeza de Arlene:

– A está altura, uma solução exigirá extrema criatividade.

E a intervenção humanitária?

– Não acho que seja possível nem desejável neste momento. Passou a hora de fazer uma intervenção humanitária. Caso se fizesse com o intuito de realmente ser humanitário, precisaria ter ocorrido quando Bashar al-Assad começou a reprimir manifestações ainda pacíficas, nos primeiros meses do levante, em 2011.

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Mas, então, qual a saída?

– A saída é uma pressão internacional por negociações. Mas como? Com que meios? Poderia ser aprovada uma zona de exclusão aérea com bombardeios a postos militares do regime. Mas é preciso a certificação de que houve uso de arma química. E qualquer pressão deve ser acompanhada da busca por diálogo. Não há uma oposição para assumir a transição. Falta uma liderança clara, e ela é permeada por terroristas.

O fato é que nenhum país ocidental, em especial os EUA, tem vontade política de se jogar numa aventura que poderia levar a um panorama hostil como os que se viram no Afeganistão, no Iraque e na Líbia.

Pior ainda: a hipótese de uma zona de exclusão aérea esbarra na forte capacidade militar síria.

O mais provável, por ora, é que os EUA, países europeus, Arábia Saudita, Catar e Turquia forneçam parcimoniosamente armamento para os rebeldes, até que haja conclusão irrefutável de que o regime sírio usou armas químicas os constranja a agir com mais intensidade.

Julián Schvindlerman, especialista em Oriente Médio da Universidade de Buenos Aires (UBA), vai na mesma linha: alguma perspectiva de ação virá quando não haja mais dúvidas de que Al-Assad usou armas químicas.

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E a possibilidade de negociações?

– A falta de credibilidade das partes não ajuda. Há uma tirania atroz e parte da oposição tomada por terroristas. Mas, política e humanitariamente, a Síria desceu a um nível infernal.

Justamente esse “nível infernal” é o que faz crescer a pressão sobre a comunidade internacional para algo ser feito. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) relata que 1 milhão de crianças sírias estão refugiadas por causa da guerra.

Por meio da assessoria de imprensa do Acnur, o alto comissário António Guterres comenta:

– O que está em jogo é a sobrevivência de uma geração de inocentes. A juventude síria está perdendo sua casa, sua família e seu futuro. Esses jovens precisam de esperança.