Está longe do exagero afirmar que o reggae é celebrado por seus seguidores como uma questão de fé. Mas a devoção exige também oxigênio para se manter relevante. Esse respiro o advogado e ex-integrante da banda Iriê Marcello Tonelli, o Tarta, foi buscar em cantos diversos do planeta, nos quais a cena artística regueira se revigora ao largo do circuito mainstream das gravadoras e dos veteranos cânones do gênero. A partir de Floripa ele compilou uma seleção de novos artistas e músicas com o único intuito de difundi-los e divulgá-los entre a malta de fãs do reggae da Ilha. O primeiro volume do projeto Tarta Selecta acaba de ser prensado e apresenta 18 faixas de nove bandas da Jamaica, Alemanha, França, Estados Unidos e Brasil. Dentro de um mês o material estará disponível para download gratuito no YouTube.
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Entre as nativas estão Iriê (com a qual Tarta divide a autoria da música Dia a Dia) e Jezux Raggaman. O material foi reunido e mixado em parceria com o músico e produtor Cleo Borges (Iriê). A meta é lançar um volume (ou mixtapes) por ano. As faixas são recentes, na sua maior fatia lançadas no decorrer de 2012 e 2013.
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– O interesse deles é divulgar o trabalho e também virem para cá. Todos compraram a ideia e cederam as canções. O princípio do modelo (selecta) ainda é pouco utilizado no Brasil, mas é uma ferramenta muito aplicada na Europa para ajudar a disseminar o trabalho dos novos artistas – explica.
Em dois anos de garimpo, Tarta arregimentou mais de 200 canções de 25 autores – entre bandas, cantores e DJs. O predomínio é de artistas da Jamaica, o berço do reggae e inclui nomes proeminentes a exemplo dos jamaicanos Perfect Griddmani – indicado ao Grammy de 2011 e o contato inicial de Tarta no projeto -, Burning Spectacular e Pressure Buss Pipe e da alemã Jahcoustix – que lança pela mixtape um dos singles do seu novo álbum Frequency. São exemplos de uma sonoridade popularmente chamada de “new roots”. Ali há desde o reggae de raiz ao sound system jamaicano, dub ao ragga e dance hall.
– O que facilitou o contato foram as palavras-chaves Floripa-Brasil. Isso os motivou a buscar uma abertura no nosso mercado e claro a minha intenção é disseminar entre os regueiros daqui novas possibilidades dentro da música. Temos uma cena muito forte, mas ainda restrita aos nomes tradicionais. Eu tenho 30 anos de reggae no meu coração, mas preciso também oxigená-lo – explica.
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O primeiro volume rendeu um lote promocional de mil CDs prensados que foram distribuídos gratuitamente entre DJs, profissionais de rádios e promotores em comunidades da cidade. A base digital é o perfil que ele criou para o projeto no Facebook (Tartakingdon Reggae Riddim), onde é possível acompanhar a pesquisa e fazer uploads. Tudo a custo zero, com o suporte de patrocínios, como prega a cartilha das selectas em outros pontos do mundo. Uma nova coletânea sairá em 2014, ampliando as fronteiras e agregando artistas da Inglaterra, Portugal e daqui. Com a ponte estabelecida entre Floripa e estes cenários, Tarta continuará o garimpo mas espera que isso se efetive também na consolidação da Ilha como um circuito de passagem para os novos arautos de Zion. A Copa está com a gente em 2014 e a bola está passada.