A economista do Banco Safra Priscila Deliberalli traçou panorama macroeconômico nacional. Historiou desde a era Fernando Henrique Cardoso até os dias atuais e foi clara: a crise política vai determinar saídas para a crise econômica. Afirmou também que os programas de investimentos em infraestrutura são inviáveis neste momento. A economista fez palestra para um auditório lotado na Associação Empresarial de Joinville (Acij) na última segunda-feira. Confira o que ela disse ao “AN”:
Continua depois da publicidade
A Notícia – O que vai acontecer com a economia brasileira?
Priscila – Não temos muitas respostas para o que vai acontecer. O Brasil passa por uma crise bem grave. Pela primeira vez desde os anos 1930, teremos dois anos seguidos de contração do PIB. A situação é peculiar. A economia não cresce e a inflação continua alta. A solução não é fácil e nem virá rapidamente.
AN – Qual é a importância do ambiente político nessas horas?
Continua depois da publicidade
Priscila – A crise política está impedindo a equação para uma solução do quadro econômico. É a política que vai determinar saídas da crise econômica. Se a crise política não for resolvida, a econômica não terá fim. A gente gasta muito tempo lendo comentaristas de política falando com cientistas políticos. É fundamental compreender os fatos e estar atento aos próximos passos.
AN – A inflação, que não cede, é um problema?
Priscila – A inflação (ao redor de 10% ao ano) se explica pelo fator credibilidade do governo. No momento atual, pela sua falta. Isso se confunde com a inércia natural do processo inflacionário. Como eles (os governantes) perderam a credibilidade, é preciso ter juro alto para tentar baixar a inflação e trazê-la para a meta em algum momento.
Leia mais colunas de Claudio Loetz
AN – O câmbio está muito valorizado?
Priscila – O câmbio está valorizado demais. A cotação atual do dólar reflete as incertezas com o cenário político. É importante perceber que o movimento de depreciação da moeda brasileira também acontece com as moedas de outros países. Com a moeda forte, o dólar deixa a inflação bem baixa nos Estados Unidos. Acredito que o Fed (Banco Central dos EUA) deve começar a subir os juros no primeiro trimestre de 2016, numa trajetória suave.
Continua depois da publicidade
AN – E a desaceleração da China é prejudicial?
Priscila – A situação da China preocupa mais do que a dos Estados Unidos. Mudou o patamar de nível de crescimento econômico deles. O foco passou a ser o consumo interno. O Brasil surfou na onda da expansão chinesa e aproveitou para ganhar com negócios de commodities. Isso não vai voltar. De todo modo, a crise externa não explica a nossa.
AN – O BNDES ajudou diversos setores. Que efeitos isso teve?
Priscila – O BNDES injetou R$ 450 bilhões desde 2008 para atender às demandas por empréstimos de variados segmentos econômicos. Os subsídios dados são pagos pela sociedade. Não são de graça.
AN – O País precisa de investimentos em infraestrutura?
Priscila – Agora, não há a menor condição de ter um programa de investimentos em infraestrutura. Os empresários não estão dispostos a investir.
Continua depois da publicidade
AN – É possível o Brasil não honrar seus compromissos financeiros?
Priscila – Não haverá calote. A crise se resolverá antes.
AN – Os bancos restringiram crédito. E os juros são altos demais. Os bancos ganham mais dinheiro com a crise?
Priscila – O crédito só cresceu nos bancos públicos. O banco ganha mais dinheiro quando a economia gira e cresce, quando há maior demanda e empréstimos. Os caixas dos bancos estão abarrotados. Porque os empresários preferem aplicar nos bancos, ganhando com os juros.
AN – E a questão das contas públicas?
Priscila – O principal problema é o do desequilíbrio nas contas públicas. Isso permeia todas as áreas da sociedade. Se a economia não crescer, a arrecadação do governo também não tem como aumentar. Pelo contrário, ela cai. Não há regra do gasto público vinculado ao crescimento. Oitenta por cento das despesas são obrigatórias constitucionalmente.
Continua depois da publicidade