Em junho deste ano, o São José Istepôs finalmente desengasgou as derrotas consecutivas que tomou do Corupá Buffalos em 2011 e 2012, tornando-se campeão catarinense pela primeira vez. Não foi uma vitória nada limpa: havia chovido torrencialmente a semana inteira e os jogadores terminaram a partida sujos de lama até os joelhos. A batalha contra o lamaçal poderia ter sido muito pior, mas os istepôs resolveram ultrapassar os papéis de jogadores e, junto com o técnico Ernâni Valério, passaram o dia anterior secando o gramado com baldes, colchões e cobertores velhos.

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No campo onde treinam atualmente e recebem os adversários, atrás do ginásio Forquilhão, São José, o mato alto complica a vida dos jogadores. As arquibancadas estão bastante estragadas e o alambrado praticamente não existe. Sempre que um time de fora vem jogar na cidade, os próprios Istepôs pintam as faixas no chão, erguem as traves de PVC e preparam o campo para a partida.

Quando chove com intensidade, o treino é feito num gramado da Beira-Mar de São José para não estragar o campo do Forquilhão. Para o técnico Ernâni Valério uma reforma definitiva no gramado não valeria o esforço:

– Se este estivesse bom tinham nos tirado daqui também. Foi o que aconteceu no Estádio de Potecas: o campo estava horrível, a gente limpou e drenou. Daí nos tiraram de lá com a desculpa de que estávamos “estragando” o campo – conta Valério.

Caráter nômade é característica do time

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O caráter nômade do Istepôs acompanha o time desde o início da trajetória, em 2006. O time começou sem nenhuma pretensão profissional, com treinos entre conhecidos na praia do Campeche. Na época, resolveram batizar a equipe de Floripa Istepôs, uma brincadeira em oposição aos nomes americanizados dos outros times.

Quando começou a ser planejada uma Liga Catarinense de Futebol Americano, os jogadores se mudaram da praia para a grama. Primeiro alugaram o campo da Associação de Moradores do Abraão e depois conseguiram uma autorização para disputar as partidas no estádio da Academia de Polícia Militar, na Trindade, em Florianópolis.

Após perder o direito de jogar no terreno da PM, o Istepôs pulou de campo em campo até firmar um convênio com a Fundação Municipal de Esporte e Lazer de São José (Funesj). Em 2009, com a mudança de sede para o estádio de Potecas, o time também foi rebatizado de São José Istepôs.

Foto: Daniel Conzi/Agência RBS

A troca de casa parecia definitiva até o meio de 2011, quando eles perderam o direito de usar o estádio de Potecas. O quaterback João Gabriel Crema, 30 anos, reclama que falta prioridade e afirma que no Forquilhão eles preferiram não gastar dinheiro, nem investir esforço, como fizeram antes.

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– A princípio o campo do Forquilhão é nosso, mas algum dia vamos chegar aqui e encontrar 11 jogadores de futebol no nosso lugar. Uma vez, antes de uma partida importante, precisamos nos trocar na rua porque os vestiários estavam sendo ocupados por uma festa junina que estava ocorrendo na escola. São esses pequenos sinais que nos deixam inseguros.

O tipo de problema no qual o Istepôs tem esbarrado se repete em âmbito nacional. Durante este ano, um grupo de aficionados tentou montar uma liga profissional no país inteiro. Mas a ideia não deslanchou porque faltou patrocínio na reta final, explica Ty Evans, diretor-executivo da Play Gestão do Esporte e um dos responsáveis pela iniciativa.

“Estamos torcendo pelo Storm porque SP é mais perto”

– Tecnicamente, o São Paulo Storm e o João Pessoa Espectros são muito parecidos. Não temos preferência por nenhum. Mas a torcida é maior pelo São Paulo porque é muito mais fácil chegar em SP do que na Paraíba – brinca o técnico Ernâni Valério, ao comentar sobre os times semifinalistas que disputarão uma vaga na final do Campeonato Brasileiro no dia 24 de novembro.

No dia anterior o Istepôs enfrenta o Coritiba Crocodiles. Os vencedores de cada jogo vão para a final e se o time de São José ganhar a partida a próxima parada será São Paulo ou João Pessoa.

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A preocupação do técnico tem um motivo bem instrumental: o rombo que uma viagem de quase 50 jogadores causa no orçamento do time. Sem patrocínio, os Istepôs recebem auxílio financeiro da prefeitura de São José, mas o dinheiro é insuficiente para bancar as despesas. Por isso, cada jogador paga uma mensalidade e, em ocasiões especiais, eles organizam blitz para pedir apoio aos motoristas.

Os jogadores novos pegam equipamentos emprestados do time, mas quem prefere comprar as próprias peças deve reservar pelo menos R$ 1 mil. João Crema, no time desde os primeiros treinos, lamenta que o desenvolvimento do time não esteja criando oportunidades no mesmo ritmo:

– No começo as pessoas vinham por curiosidade. Hoje se percebe um perfil diferente, os jogadores chegam com interesse e bastante conhecimento prévio. Estamos em evidência, mas mesmo assim ficamos sempre nesta insegurança.

:: Vídeo mostra a final do catarinense de Futebol Americano 2013: