Duas semanas foi o tempo que Oladiane Fátima Werner e Ricardo Marcos Fernandes tiveram para tomar uma decisão que definiria o futuro do filho ainda no ventre da mãe. Submeter o bebê na 27ª semana de gestação a uma delicada cirurgia, sendo que ele poderia não resistir, ou deixar a criança nascer, com o risco de não poder andar ou ter hidrocefalia.

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Ao olhar hoje para Igor, que completou um ano no dia 17 março, com os brinquedos em casa em Palhoça e sem qualquer sinal de que passou por um procedimento complicado antes mesmo de nascer, a mãe comemora a decisão tomada. O menino foi o primeiro bebê no Brasil a ser operado dentro do útero para corrigir a mielomeningocele, um defeito congênito que cria uma espécie de calombo na espinha dorsal. O problema causa lesão nos nervos, que ficam expostos ao líquido amniótico.

– O sentimento que temos é de vitória! Fizemos a opção certa – diz, diante do bebê de pernas e braços gordinhos entretido com os brinquedos no chão e a Galinha Pintadinha na TV.

O aniversário de Igor teve outros motivos para ser celebrado. Quatro dias depois de completar um ano, ele foi a São Paulo fazer exames no crânio, na coluna e nos rins, com a obstetra Denise Pedreira, responsável pela cirurgia, e teve resultados animadores. O prognóstico prevê que até os dois anos ele começará a andar.

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Por enquanto, Igor segue na fisioterapia duas vezes por semana para fortalecer as pernas, que ainda não se firmam no chão. Os pais estão confiantes no progresso.

Para o casal, os movimentos são questão de tempo. Todas as recomendações estão sendo seguidas. Das sequelas da cirurgia, apenas uma sonda na bexiga, que teve o formato alterado por causa do procedimento. O tubo serve para retirar o resto de xixi que não sai naturalmente.

O método pouco invasivo utilizado por Denise nesta cirurgia junto à técnica da endoscopia é pioneiro no mundo. A médica pesquisou esta forma por 14 anos. A técnica (veja na info) pode antecipar o nascimento da criança, como foi o caso de Igor, que nasceu com sete meses, em São Paulo. A obstetra precisa operar 10 pacientes com o mesmo diagnóstico em até dois anos para comprovar a eficácia do procedimento e começar a expandi-lo pelo país.

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Confira como é feita a técnica inovadora

::HU aguarda chegada de equipamento::

O diagnóstico da mielomeningocele foi dado pelo médico ginecologista e obstetra Roberto Noya Galluzzo, que atua no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na 25a semana de gestação de Oladiane, a duas semanas do prazo limite para fazer a cirurgia.

A mãe do menino lembra que nesse dia recebeu duas notícias surpreendentes do médico. A da doença, da qual ela e o marido Ricardo nunca tinham ouvido falar, e a de que o bebê era um menino – no ultrassom anterior tinham dito ser uma menina. O berço rosa já comprado e outros objetos precisaram ser trocados.

De acordo com Denise, somente com mielomeningocele do tipo espinha bífida – a mesma de Igor – nascem três mil crianças no Brasil ao ano. Para evitar que em casos como o dele e de outros diagnósticos que exigem a cirurgia intrauterina, a mãe tenha que ir para fora do Estado, Roberto Galluzzo está batalhando a aquisição de equipamentos apropriados para o HU. De acordo com o médico, o pedido está em processo de compras e a expectativa é que ainda neste ano os aparelhos estejam no hospital.

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Prevenção

– A ingestão da quantidade necessária de ácido fólico reduz em até 70% o risco de má formação do tubo neural, que é a estrutura precursora do cérebro e da medula espinhal, no feto.

– O ácido fólico, vitamina do complexo B, pode ser encontrado também em vegetais verde escuro, fígado, frutas cítricas, grãos e carnes. Mas para garantir a ingestão da quantidade necessária, a recomendação é se ingerir 0,4 mg da substância em cápsula um mês antes de se engravidar e continuar a ingestão até o 3º mês de gravidez.

– Quem já teve um filho com mielomeningocele e for engravidar novamente, deve ingerir de 4 mg da substância por dia.

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– As orientações para essas doses devem partir dos médicos. As cápsulas são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde.

– Desde 2004, por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), todas as farinhas de trigo e milho fabricadas no país ou importadas devem ser enriquecidas com ferro e ácido fólico.