As pernas de Igor Werner Fernandes agitam no ar dezenas de vezes. A atividade comum para um bebê de quase três meses contraria o diagnóstico que assustou a família quando ele ainda estava na barriga na mãe. O defeito congênito de nome difícil, mielomeningocele, indicava que a criança poderia ter problemas de locomoção e até hidrocefalia.
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Mas a correção à lesão veio sem cortes e antes do nascimento, em um procedimento inédito no continente americano. Há duas semanas, ele veio para casa em Palhoça, na Grande Florianópolis.
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Confira como é feita a técnica inovadora
Cirurgias similares serão feitas em Florianópolis
Na Alemanha, onde se desenvolveu a técnica de correção à mielomeningocele por endoscopia, foram realizadas mais de 80 procedimentos similares aos de Igor. No Brasil, a técnica é aplicada pela ginecologista e obstetra Denise Pedreira, do Hospital Samaritano, de São Paulo.
A médica pesquisou o método por 14 anos antes de fazer a primeira cirurgia, no bebê de Palhoça. Depois de Igor, foram feitas outras duas cirurgias em abril. A realização do procedimento tem a autorização do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e integra o projeto de pesquisa de Denise. A obstetra precisa operar um total de 10 pacientes com o mesmo diagnóstico em até dois anos para comprovar a eficácia da técnica e começar a expandi-la para o país.
Em Florianópolis, o médico Roberto Noya Galluzzo se antecipa na busca pelos equipamentos necessários para a realização da cirurgia no Hospital Universitário da UFSC.
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– Nosso pensamento é equipar o hospital para a médica conseguir fazer a cirurgia aqui, até que chegará o momento em que aprenderemos a fazer também – considera.
O processo ainda pode levar alguns anos, mas será um aliado importante no Brasil onde 3 mil crianças nascem com a chamada espinha bífida. Denise ainda explica que a correção ao defeito congênito antes do nascimento diminui a chance de lesão aos nervos da criança, reduzindo os riscos de problemas de saúde. O método também tem vantagens em relação à cirurgia a céu aberto, que requer um corte de até 10 centímetros na barriga da gestante antes de se operar o bebê.
A endoscopia reduz os riscos de se romper o útero durante o procedimento e de complicações em uma segunda gestação. Mesmo com os avanços, Denise espera que a cirurgia não seja tão necessária.
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– Para os médicos é um prazer poder ajudar, mas sem dúvida o melhor é prevenir. Toda mulher, antes de engravidar, deve ingerir o ácido fólico – expõe.
Prevenção
– A ingestão da quantidade necessária de ácido fólico reduz em até 70% o risco de má formação do tubo neural, que é a estrutura precursora do cérebro e da medula espinhal, no feto.
– O ácido fólico, vitamina do complexo B, pode ser encontrado também em vegetais verde escuro, fígado, frutas cítricas, grãos e carnes. Mas para garantir a ingestão da quantidade necessária, a recomendação é se ingerir 0,4 mg da substância em cápsula um mês antes de se engravidar e continuar a ingestão até o 3º mês de gravidez.
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– Quem já teve um filho com mielomeningocele e for engravidar novamente, deve ingerir de 4 mg da substância por dia.
– As orientações para essas doses devem partir dos médicos. As cápsulas são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde.
– Desde 2004, por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), todas as farinhas de trigo e milho fabricadas no país ou importadas devem ser enriquecidas com ferro e ácido fólico.
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