Quem foi adolescente nos anos 70 e pertencia a família minimamente abastada deve grande parte de sua formação intelectual (e afetiva) a nomes como Carlos Castañeda, Alejo Carpentier, Mario Vargas Llosa e Jorge Luis Borges, autores que formaram o conjunto daquela maravilhosa variante literária à qual se convencionou chamar de realismo mágico. Nem todos esses autores, entretanto, eram unanimidade: uns achavam demasiadas as viagens lisérgicas de Castañeda, outros pensavam que Borges era muito cerebral ou que Carpentier era cubano demais. Assim íamos.
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A unanimidade nem sempre é burra e se materializava em García Márquez. Gabo nos alimentava com enredos espetaculares, personagens fabulosos, cenários de sonho. Todos nós, ou a imensa maioria de nós, tinha na cabeceira Cem Anos de Solidão, livro através do qual se podia entender o Sul do mundo, ou Crônica de Uma Morte Anunciada, que sempre teve o mais belo e valente início de romance de todos os tempos. Macondo era nossa bússola, nosso ideal romântico era o amor de Florentino e Fermina.
Para além de marcar nossa geração e as que se seguiram – Shakira é fã confessa de Gabo -, ele ultrapassou seus pares de realismo fantástico, fundando um estilo particular e de qualidade excepcional, que ia do rigor marcial ao melodrama mais batido sem perder a elegância. Dono de um texto admiravelmente preciso e delicado, que fazia suar tradutores do naipe de Eric Nepomuceno, o colombiano é um dos indiscutíveis responsáveis pela revitalização e pela abrangência internacional da literatura latino-americana.
Ministrante de oficinas de roteiro, fascinado pela criação literária, Gabriel García Márquez era o tipo de intelectual que não dispensava o contato, mesmo o mais prosaico, com o mundo. Com seu vasto bigode, Márquez encarnava aquela espécie de simpatia solar, personalidade sedutora que começou a declinar aos 85 anos, quando foi diagnosticado com demência.
Com sua morte, que é uma afronta à própria ficção, se empobrece tanto a realidade quanto a magia do povo das Américas e da literatura de todos os tempos.
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