A Disney talvez não tenha planejado provocar a comparação. Mas, ao promover o reencontro com as princesas protagonistas do fenômeno Frozen: Uma Aventura Congelante (2013) no curta-metragem exibido antes da releitura para seu clássico desenho animado Cinderela (1950), o estúdio contrapõe dois universos fabulares distintos. Espelha a tradição que encanta gerações de crianças desde os anos 1930 na modernidade que dialoga com usos e costumes contemporâneos.
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Cinderela, em cartaz a partir desta quinta-feira, é a versão em carne e osso de um dos maiores sucessos da Disney, estrelado por uma das mais populares princesas de sua galeria. O filme tem estofo dramatúrgico garantido pela mão do bom diretor e ator britânico Kenneth Branagh, que escalou para os papéis protagonistas dois rostos conhecidos por seus trabalhos em consagrados seriados de TV: Lily James, de Downton Abbey, como Cinderela, e Richard Madden, de Game of Thrones. posando de Príncipe. Fundamental na trama, a madrasta cruel da heroína ganha brilho com a presença da oscarizada Cate Blanchett.
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Branagh não pretendeu modernizar, mesmo que sutilmente, a história consagrada no imaginário de crianças e adulto, como se viu recentemente em versões com atores para as fábulas de Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve e Bela Adormecida. Tampouco mirou em uma repaginação radical como fez o espanhol Pablo Berger em seu espetacular Blancanieves (2012).
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Diretor e ator formado nos palcos encenando Shakespeare, Branagh sabe que reverência à tradição também pode resultar em obras inovadoras e vigorosas. Sua versão de Cinderela evoca a memória afetiva e visual de quem conhece o desenho da Disney. A cenografia e a direção de arte são primorosas, e o elenco é todo ele ótimo dos personagens principais aos menos relevantes. A ambientação em uma Inglaterra rural com clima de romance de Jane Austen torna o conjunto bastante agradável de se assistir. Até mesmo para quem ressalta o anacronismo da heroína sofredora que cumpre seu calvário com resignação até ser resgatada pelo galante salvador.
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Na Inglaterra, a propósito dessa discussão, o jornal The Guardian destacou em reportagem recente os reparos que Cinderela sofreu por representar o que seria um retrocesso da Disney em relação às princesas mostradas em suas produções anteriores: as irmãs Elsa e Anna e a destemida ruivinha Merida, de Valente (em parceria com a Pixar). Especialistas em educação infantil e psicoterapeutas mencionam no texto os efeitos negativos que a imagem estereotipada de uma princesa submissa e de corselete apertado pode ter sobre a autoestima das meninas.
Por sua vez, o universo fabular que retorna com o curta de oito minutos de duração Frozen: Febre Congelante faz muito sucesso com uma nova geração de meninas (e os meninos também aprovam). Tem como protagonistas heroínas corajosas e questionadoras que não encaram de forma passiva que alguém guie seus destinos – e tampouco sonham com casamentos redentores. Na história, Elsa planeja um festa de aniversário surpresa para Anna. Como está gripada, e cada espirro potencializa seus poderes mágicos, a missão de Elsa será um tanto caótica.
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O sucesso de Cinderela (já faturou US$ 256 milhões) indica que esses dois mundos podem seguir alinhados sem maiores traumas quando bem representados. E a chance de assisti-los em um programa único, com cópias dubladas e legendadas, é bastante interessante.
Cinderela
De Kenneth Branagh, Aventura/fantasia, EUA, 2015, 111 minutos, livre.
Em cartaz no circuito com cópias dubladas e legendadas.
Cotação: bom
Heroínas de ontem e hoje
A princesa passiva
– A versão de Cinderela que estreia nos cinemas nesta quinta-feira tem como referência o popular desenho animado homônimo lançado pela Disney em 1950.
– Na história, a heroína maltratada reage de forma passiva às humilhações impostas pela madrasta e pelas irmãs de criação e depende do interesse do príncipe para mudar seu destino e ter um final feliz.
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– A fábula de Cinderela remonta ao conto egípcio Rhodopis, narrado pelo historiador grego Strabo no século 1 a.C. Ganhou versão de Charles Perrault, na França, em 1697, e releitura dos Irmãos Grimm, na Alemanha, em 1812.
– Cinderela apareceu há pouco no musical Caminhos da Floresta (2014) interpretada por Anna Kendrick.
As independentes
– Frozen encanta crianças e adultos com a fraternal história de amor das irmãs princesas Elsa e Anna – e um final feliz sem príncipe na jogada. São elas que conduzem seu destino – e o próprio reino.
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– Esta abordagem mais contemporânea da história de princesas – para alguns menos machista – está presente em produções como Valente (parceria Disney/Pixar).
– Com orçamento de US$ 150 milhões, Frozen faturou nos cinemas de todo o mundo
US$ 1,2 bilhão. Em números absolutos, é a quinta maior bilheteria de todos os tempos – a número 1 entre as animações.
– Ganhou os Oscar de melhor animação e canção original, para o sucesso Let it Go.
– Frozen 2 já está a caminho, segundo a Disney, que ainda não anunciou prazos de produção e lançamento.
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Trailer de Cinderela
Trailer de Frozen: Febre Congelante