Nos próximos oito anos, as ruas de Joinville devem ganhar, cada vez mais, faixas horizontais e tachões amarelos sinalizando espaços exclusivos para bicicletas. Atualmente, a cidade conta com pouco mais de 145 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e faixas de passeio compartilhado, com planos de implantar pelo menos mais 16 quilômetros de ciclofaixas até o fim deste semestre.
Continua depois da publicidade
A partir do ano que vem, a Prefeitura de Joinville precisaria atingir pelo menos 70 quilômetros por ano para alcançar a meta instituída pelo Plano de Mobilidade Sustentável (PlanMob) de Joinville, que prevê 730 quilômetros de malha cicloviária em toda a área urbana até 2025.
Na semana passada, a rua Lages, no Centro de Joinville, recebeu um quilômetro de ciclofaixa, cumprindo a previsão do Plano de Mobilidade e as regras do financiamento da Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc), que permitiu o recapeamento do asfalto da via e de outras 50 ruas em Joinville. Entre elas, as que tinham projeto de ciclofaixa pendente e precisavam cumpri-la: é o caso da rua Orestes Guimarães, que está na lista das que receberão sinalização dividindo o espaço dos carros e das bicicletas nos próximos meses.
A Prefeitura, por meio da Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento (Sepud), agora prepara a licitação para outras quatro grandes ruas também receberem ciclofaixa até dezembro: a Boehmerwald e a Adolfo da Veiga, no bairro Boehmerwald; a rua Fátima, que já tem um trecho a ser completado; e a avenida Paulo Schroeder, no bairro Petrópolis, todas na zona Sul.
Além delas, há um projeto em estudo para aplicar uma estratégia de redesenho urbano na avenida Juscelino Kubitschek, no Centro, para que ela se torne mais atrativa para caminhar e pedalar, a partir do Projeto Ruas Completas. A primeira oficina de capacitação, oferecida pela empresa WRI Cidades Sustentáveis em parceria com a Frente Nacional dos Prefeitos, ocorreu na semana passada e envolveu representantes de outras dez cidades da região interessadas em desenvolver o mesmo conceito. Ter mais vias cicláveis é uma tendência mundial de democratização da rua.
Continua depois da publicidade
O desafio é atingir o objetivo do PlanMob com poucos recursos e sem produzir muito impacto para a população, que ainda tem os veículos motorizados como preferência para todas as atividades. Segundo dados de 2015, só 11% dos deslocamentos feitos em Joinville são por bicicleta.
– Estamos estudando para não tirar espaço da via para trânsito, só dos veículos parados. Quando pensamos em uma cidade para daqui a 30 anos, com a malha viária que temos hoje e a tendência de crescimento, será impossível transitar no Centro – afirma o gerente de mobilidade e desenvolvimento urbano, Marcus Faust.
Projeto de humanização
Quem passa pela avenida JK atualmente, encontra duas largas vias de veículos separadas por um canteiro, cada uma com uma faixa exclusiva para ônibus e calçadas por onde, na maior parte do tempo, os pedestres apenas dirigem-se apressados de um lado a outro. Com a aplicação do conceito de Ruas Completas, a ideia é que as cinco quadras da avenida voltem a serem vistas pelos moradores.
– Ela foi escolhida porque tem uma característica histórica muito forte. Por muito tempo, ali eram os desfiles cívicos, a catedral foi construída ali, e a JK era um centro comercial de Joinville. Mas, com o tempo, ela foi ¿esfriando¿ – explica Marcus Faust.
Continua depois da publicidade
Segundo a coordenação do projeto na WRI, o conceito de ¿rua completa¿ é ser projetada para permitir o acesso seguro a todos os usuários da via, independentemente da idade, habilidade e renda. Com isso, a JK deve ganhar projeto de acessibilidade, mobiliário urbano, arborização e iluminação, além de atender a todas as opções de mobilidade: carros, ônibus, bicicletas e passeios seguros para pedestres.
Ali, a ideia é que a ciclofaixa seja instalada no meio da avenida, com tachões segmentando o espaço e impedindo que os carros utilizem a ciclofaixa para realizar manobras. É uma opção que deve ser desenvolvida na maior parte da cidade, ainda que no canto das vias, mas sempre com a rua compartilhada com os carros. Já nas ruas principais, como Dr. João Colin, Blumenau e São Paulo, ela acontecerá na forma de passeio compartilhado, com a calçada dividida com os pedestres.
– A intenção sempre é fazer ciclovias, mas como nossas ruas são muito estreitas, as ciclofaixas são mais viáveis – informa Marcus, salientando que, para isso, as ruas centrais devem ter redução do limite de velocidade para 30 quilômetros por hora, garantindo a segurança dos ciclistas e pedestres.
Recursos escassos
Até pouco tempo, para executar obras e revitalizações necessárias para a criação de malha cicloviária, havia programas e editais frequentes no Orçamento da União, mas, nos últimos anos, ficou mais complicado conseguir estes recursos, afirma Faust. Atualmente, a captação mais provável é via projetos de ONGs internacionais e órgãos como o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Continua depois da publicidade
– Há também parceiros como a WRI, que ajudam na produção dos prospectos e podem até tentar ajudar a prospectar recursos. Mas os recursos virão, principalmente, da Prefeitura – afirma.
Para identificar as possibilidades de alterações e estratégias no trânsito de Joinville, a Sepud também firmou parcerias, como o acesso aos dados do Waze Cities, a partir dos quais é possível considerar as características das vias e o número dos acidentes que ocorrem nela para definir as ações prioritárias; e o desenvolvimento de um novo plano viário com a faculdade de engenharia de mobilidade da UFSC.
O Plano Municipal Cicloviário, previsto pelo PlanMob para já estar instituído, assim como o sistema de compartilhamento de bicicletas terão que esperar. Enquanto o primeiro aguarda novas definições, o sistema que ofereceria aluguel de bicicletas em vários pontos da cidade passa por reformulações em seu projeto.
– Quando se iniciou o processo havia possibilidade de pedir dispensa da licitação. Mas agora, a gente perdeu esta opção. Hoje, é difícil encontrar empresas que tenham interesse em uma cidade que não é tão turística.
Continua depois da publicidade