As chuvas fortes que atingiram Joinville nos últimos dias, em curtos intervalos de tempo, são apontadas como a principal causa para os alagamentos na cidade, em especial nos bairros da zona Sul. É o que afirma o presidente da Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra) de Joinville, Romualdo França Junior.
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Segundo ele, o volume que caiu sobre a cidade na segunda-feira – 143 milímetros, conforme a Defesa Civil – é o esperado para 15 dias em janeiro. Na semana passada, outra grande enxurrada trouxe um volume de chuva calculado em 60 milímetros.
Para o presidente da Seinfra, as instabilidades impedem a recomposição do sistema de drenagem, com a retirada de entulhos e sujeiras de bueiros e valas. Além disso, há a influência da maré sobre o Cachoeira, que impacta na vazão do rio e afeta diretamente os afluentes que deságuam nele, como o Mathias, Bucarein, Jaguarão e Itaum.
– O que aconteceu é que a condição climática não colaborou. Tivemos um volume de chuva muito grande em um curto espaço de tempo e a maré alta do Cachoeira. Com isso, toda a região do Anita Garibaldi, do Bucarein e da zona Sul foi muito afetada – explicou.
Famílias contabilizam estragos causados pela chuva
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Entre as ações implementadas pela Prefeitura para diminuir a ocorrência de alagamentos está a macrodrenagem dos principais rios, com a limpeza, desassoreamento e retirada de entulhos e vegetação das calhas. Na bacia do rio Morro Alto, a macrodrenagem iniciada em 2012, no governo Carlito Merss, já surtiu efeito, reduzindo a incidência de alagamentos.
O rio Águas Vermelhas, no bairro Vila Nova, é outro que vem recebendo melhorias. Romualdo ressalta que as obras de macrodrenagem no local ainda não estão concluídas – restam cerca de oito quilômetros para o término -, mas os resultados já são satisfatórios. Atualmente, os trabalhos se concentram no rio Mathias, que corta o Centro da cidade e também deságua no Cachoeira.
– Para evitarmos os alagamentos, só mesmo com obras de macrodrenagem, assim como fizemos no (rio) Morro Alto. Já apresentamos um projeto no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para atender à zona Sul e pegar toda a bacia do rio Itaum, incluindo o Jaguarão e o Bucarein. A obra requer investimento de R$ 180 milhões e, se conseguirmos esses recursos, certamente teremos uma resposta muito melhor.
Já os trabalhos de microdrenagem, que incluem a limpeza de valas e bueiros, são feitos duas vezes por ano em todos os rios de Joinville. Romualdo França salienta que o ideal seria fazer quatro vistorias por ano, mas isso não ocorre por causa da limitação orçamentária do município.
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– O trabalho nunca deixou de ser realizado. Desde 2014, fazemos duas vistorias completas dos rios e dos córregos, mas o ideal é que fossem quatro vistorias. O problema é que não temos a condição financeira para isso – afirmou.
Para deixar o sistema de drenagem novamente em condições de funcionamento, ele calcula um gasto de cerca de R$ 4 milhões.
Alagamentos ocorrem por causa de uma soma de fatores, diz professor
O professor de climatologia na Universidade da Região de Joinville (Univille), Paulo Ivo Koentopp, concorda que o volume de chuva registrado em Joinville nos últimos dias foi acima do normal, mas ele ressalta que os alagamentos poderiam ter sido evitados se não houvesse o acúmulo de detritos nas calhas dos rios e o avanço da ocupação urbana para as margens.
– É uma soma de fatores. Choveu muito em pouco tempo, mas também há o avanço desordenado das construções sobre áreas que deveriam ser preservadas. As calhas dos rios estão ficando cada vez mais estreitas e isso se reflete nos alagamentos – destacou.
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Para Koentopp, as alterações climáticas também estão relacionadas com o aquecimento global, que provoca chuvas mais intensas.
– A tendência é só piorar. Vivemos em uma grande panela de pressão – alerta.
Na avaliação do professor, o resultado da enchente poderia ter sido muito pior se a maré estivesse sob a influência da lua cheia ou da lua nova. Nesse caso, ele acredita que quase toda a cidade ficaria debaixo da água.
Abrigo é montado no Morro da Formiga
Nesta terça-feira, a intensidade de chuva foi menor, mas também causou transtornos em Joinville. Moradores dos bairros Floresta, Anita Garibaldi e Fátima relataram alagamentos em pelo menos 15 ruas.
Segundo a Defesa Civil, até o início da noite desta terça-feira, apenas uma família estava desabrigada – dois adultos e três crianças – e foi acolhida na Igreja Nossa Senhora de Aparecida, no Morro da Formiga, no bairro Petrópolis.
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Os volumes
– Entre a meia-noite de sábado para domingo e as 19 horas de ontem, a Epagri/Ciram registrou nas estações meteorológicas do Vila Nova e de Pirabeiraba o volume de 195,6 milímetros de chuva.
– Na estação do Vila Nova, choveu 117,8 milímetros no período, enquanto que na estação de Pirabeiraba choveu 77,8 milímetros.
O que aconteceu
– Na segunda-feira, choveu 143 mm em Joinville, volume esperado para 15 dias no mês de janeiro.
– Toda essa água foi levada para os rios da bacia do Itaum (Itaum, Bucarein, Jaguarão e Mathias), que são afluentes do rio Cachoeira.
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– Sob a influência da maré, o Cachoeira não conseguiu absorver essa carga excessiva e a devolveu para os leitos dos afluentes.
– Como consequência, os rios transbordaram e alagaram várias ruas e casas dos bairros da zona Sul.