Seria exagero afirmar que o mercado de cervejas especiais passa ao largo da crise econômica, mas a julgar pelos planos de expansão das cervejarias do Vale do Itajaí dá para dizer que é mais ou menos isso que acontece – pelo menos com a maior parte delas. O Santa levantou informações de 19 fabricantes da bebida na região e constatou que, juntas, elas projetam injetar R$ 12,5 milhões entre o segundo semestre deste ano e 2017.

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Enquanto algumas pregam cautela diante da turbulência enfrentada pelo país, outras já bateram o martelo e aceleram o passo para transformar os investimentos literalmente em resultados líquidos.

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Os planos variam desde a abertura de fábricas ao aumento da capacidade de produção, passando por ações de marketing e merchandising (saiba mais na tabela ao lado). É claro que o momento de retração atrapalha e impede que o crescimento seja maior do que o imaginado, mas o setor busca se apoiar no potencial do produto: as cervejas especiais ainda representam uma fatia irrisória do mercado nacional, algo entre 1% e 1,5%.

– O restante consome cerveja de massa, então tem bastante espaço para crescer. Isso influencia bastante nessa perspectiva positiva do segmento – avalia Carlo Giovanni Lapolli, presidente da Associação das Microcervejarias Artesanais de Santa Catarina (Acasc).

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Muito além do tamanho do mercado que pode ser abocanhado, uma série de acontecimentos nos últimos anos contribuiu para fortalecer o segmento. A Oktoberfest, por exemplo, foi um trampolim para as cervejarias artesanais: ao dar mais espaço para elas, a festa abriu as portas para que fabricantes locais impulsionassem a divulgação de suas marcas Brasil afora.

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O Festival Brasileiro da Cerveja, com o concurso de receitas e a feira de negócios, se consolidou como principal encontro do gênero da América do Sul, os eventos gastronômicos da região sempre trazem as cervejas da casa e a Escola Superior de Cerveja e Malte capacita centenas de pessoas todos os anos na produção da bebida.

Além disso, foi criada em Blumenau a primeira malteria especial do país. Sem falar que, recentemente, a cidade foi reconhecida como Capital Nacional da Cerveja por meio de um projeto de lei da Câmara dos Deputados. Tudo isso, avaliam lideranças do trade turístico, foi possível graças a uma soma de empreendedorismo e união de forças e associativismo da cadeia produtiva.

– Temos uma associação catarinense que funciona muito bem e as entidades estão organizadas. Há outras regiões com cervejarias se desenvolvendo, mas talvez elas não tenham a mobilização que temos aqui. Esse é o diferencial – diz Valmir Zanetti, presidente da Instância de Governança do Vale Europeu.

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A bebida como produto turístico

Lançada em março em meio ao Festival Brasileiro da Cerveja, a rota Vale da Cerveja, uma iniciativa conjunta de diversas entidades e que conta com apoio do poder público, é uma das principais apostas para impulsionar o setor e atrair amantes da cerveja durante os chamados meses “frios” do ano – não necessariamente no inverno, mas nos períodos em que não há eventos relacionados à bebida programados para a região, como as festas de outubro.

O presidente da Associação das Microcervejarias Artesanais de Santa Catarina (Acasc), Carlo Giovanni Lapolli, diz que as primeiras semanas foram importantes para identificar pontos a serem melhorados nos roteiros, que incluem visitas a cervejarias e comércios que englobam a cadeia produtiva da bebida.

Já há um consenso que é preciso aprimorar equipamentos turísticos – como hospedagem e restaurantes – e qualificar prestadores de serviços, a exemplo de taxistas e recepcionistas de hotéis. A ideia é que esses profissionais, que são os primeiros a terem contato com turistas, “vendam” o segmento aos visitantes.

O selo de qualidade da cerveja produzida na região é outro grande diferencial. Frequentemente as cervejarias do Vale são premiadas nos mais importantes concursos internacionais da bebida. Diante desses fatores, o secretário de Turismo de Blumenau e presidente do Conselho Estadual de Turismo, Ricardo Stodieck, já visualiza a cerveja como o principal produto turístico da região num futuro não muito distante.

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– Vai haver uma transformação no turismo da região do Vale a exemplo do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul. As operadoras já estão vendendo muito a região e a aceitação é grande – diz.