O Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório (Casep) de Itajaí passará por uma intervenção do Estado. A medida foi anunciada ontem pelo diretor do Departamento de Administração Socioeducativo (Dease), Sady Beck Júnior, e foi motivada por uma nova fuga da unidade, a quarta do ano. Na noite de domingo, dois adolescentes armados com barras de ferro renderam um monitor e fugiram do local. Até a tarde de ontem, os jovens ainda não tinham sido localizados.
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Ao todo, 22 menores infratores escaparam do Casep desde janeiro. A primeira fuga em massa de 2013 foi registrada no dia 12 de janeiro, quando nove adolescentes fugiram. Depois, no dia 31, duas escapas no mesmo dia renderam uma baixa de 13 garotos à unidade. Beck informou que hoje será montada a equipe para iniciar a intervenção no Casep. Ele disse que foi avisado da última fuga na noite de segunda-feira e mostrou extremo descontentamento com a situação na unidade.
– Todas as fugas foram por procedimento falho dos agentes. Não estou dizendo que houve facilitação, mas no mínimo negligência houve sim – afirma.
Com a intervenção do Estado será instaurada uma sindicância para apurar as causas das evasões. Após a primeira delas, três monitores acabaram demitidos por justa causa. Com a intervenção, esse novo procedimento deve ir mais longe e pode resultar, inclusive, na rescisão do contrato de um ano com a atual administradora da unidade, explica Beck. Hoje, o Casep é mantido com verba do governo estadual, mas administrado pela ONG Associação Deportiva Sonhos de Liberdade, de Belo Horizonte (MG).
– Eles não estão ganhando pouco para manter a unidade. Tem que fazer um bom trabalho – comentou o diretor do Dease em uma fuga anterior.
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A ONG assumiu a administração do Casep em 1º de dezembro de 2012 após processo de licitação. A entidade recebe R$ 117 mil mensais da Secretaria de Justiça e Cidadania para gerir os 30 internos que a unidade comporta. Ontem, nenhum responsável foi encontrado na unidade para comentar a fuga. Um servidor se limitou a dizer que o clima estava tranquilo no local, mas não soube informar quantos adolescentes restaram no centro. A Polícia Militar também não recebeu muitas informações da administração para ajudar a encontrar os adolescentes. Apenas os primeiros nomes dos garotos foram repassados.
Reforma
Em 2012, o governo de SC por meio do Dease investiu R$ 600 mil na reforma do Casep de Itajaí. A obra se fez necessária devido à precariedade na estrutura, apontada como a principal causa para as fugas. Desde dezembro de 2011 até a metade de 2012, foram 29 registros. O local ficou mais de cinco meses em obras até que a ONG pôde assumir a administração em 1º de dezembro.
Fuga de menor deixa pai apreensivo
Um dos adolescentes que fugiu no domingo tem 17 anos e tantas passagens pela polícia que já se tornou conhecido. Usuário de drogas, o garoto já praticou furtos e roubos. O pai do jovem, um comerciante que já foi policial militar, disse não saber da fuga. José Manoel Luiz, 65 anos, contou que imaginava que o filho estivesse apreendido na região da Grande Florianópolis e não em Itajaí.
– Para mim, seria melhor que ele estivesse preso (apreendido), pelo menos eu saberia que ele está lá dentro – disse.
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Luiz não escondeu a angústia ao saber que o filho está pelas ruas, mas foi firme ao dizer que não concorda com o comportamento do jovem e não o aceitaria em casa. Dono de um bar no Monte Alegre, em Camboriú, o comerciante acredita que o problema do filho é psicológico
– O juiz e o promotor estão tentando internar ele em uma clínica psiquiátrica. Só isso vai resolver, porque ele mesmo já me disse que é uma coisa ruim que dá nele e faz ele fazer essas coisas – conta.
José Luiz, que tem outros 13 filhos, conta que quando tinha dois anos de idade, um portão caiu sobre o adolescente e desde então ele sofre com problemas de comportamento. O pai atribui ao acidente, um possível problema de saúde mental, que acarreta no comportamento nocivo. Mesmo entristecido com a fuga, José Luiz espera que o filho esteja bem.
– Sempre que vem alguém pedir comida aqui eu dou, porque sempre penso no meu filho. Ele pode estar precisando, passando por necessidade na rua. O garoto já fugiu de outras unidades onde esteve detido pelo Estado e, segundo a polícia, já foi até baleado.
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Fugas registradas no Casep em 2013
12 de janeiro – Ao serem levados para uma sala para assistir televisão por volta das 22h30min, os adolescentes renderam os monitores e fugiram da unidade em um carro e uma motocicleta que pertenciam aos profissionais. Inicialmente foi informada a fuga de quatro jovens, mas depois foi confirmado que nove fugiram.
14 de janeiro – Três dos quatro monitores que trabalhavam no Casep no momento da fuga dos nove adolescentes são demitidos por justa causa. Os monitores contaram à polícia que foram agredidos com cadeiras e pedaços de pau pelos jovens.
31 de janeiro – Dois internos escaparam no local durante a tarde e, à noite, outros 11 fugiram. De acordo com a Polícia Militar, eles teriam rompido cadeados usando barras de ferro retiradas das grades das janelas e rendido os monitores, que abriram as portas.
10 de fevereiro – Dois adolescentes, armados com barras de ferro, renderam o monitor na noite de domingo e fugiram.
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