Você aceitaria ficar uma semana sem smartphone? A designer de interiores Luiza Freitas Lopes, de 32 anos, aceitou o desafio, para perplexidade de todos os amigos com quem comentou o assunto. Deixou de lado dois smartphones, tablet e leitor de e-books durante quase uma semana para um teste de sua “smart-dependência.”

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“Uma pessoa consulta o celular cerca de 1,5 mil vezes por semana”, diz especialista em tecnologia

Teve que voltar a usar um Nokia “sei lá que número”, sem acesso à internet – pôde manter um celular básico para telefonar por causa do trabalho -, voltar a ligar o computador para acessar o Facebook e a ler livros de papel.

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Olha como foi

No seu vício diário, ela não está sozinha. No mundo todo, mais de 1,6 bilhão de pessoas usam smartphone. Mais de 2 bilhões de pessoas no mundo terão um smartphone em 2016, seguindo o ritmo atual de vendas.

Cada lançamento de aplicativo ou nova atualização tenta criar um novo hábito para o nosso dia a dia. Alguns até conseguem. Quem imaginaria que iríamos querer bater fotos quadradas, como no Instagram?

De todo esse pessoal, conta o psicólogo Cristiano Nabuco, especialista no estudo dos vícios em internet e celular, de 10% a 30% dos usuários podem estar viciados no sensação de prazer que dá receber uma curtida ou passar de fase no Candy Crush.

Tratamento e resultado

Para fazer a “detox”, Luiza teve que desligar o smartphone à meia-noite de domingo. Não podia mais usar aquele celular, o tablet ou outros dispositivos que conectassem à internet de forma mobile. Teve que usar um daqueles telefones antigos (que a bateria durava a semana inteira).

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Luiza só poderia voltar a usar o smartphone no sábado. Mas parece que o “tratamento” funcionou. Ela revela que só voltou a tocar o aparelho, em que era viciada, no domingo, para mostrar uma foto do Facebook para a mãe:

– Foi uma surpresa. Eu tinha acordado na sexta-feira já com a expectativa. E esqueci – conta Luiza.

Leia o “diário de bordo” da experiência, escrito pela Luiza

Segunda-feira

Oi. Vamos começar o meu diário dos cinco dias sem smartphone. Meu “novo smartphone” é uma agendinha, porque costumava usar no celular muito a parte de agenda e de anotações. Desenterrei um bloquinho que tenho há alguns anos. Posso dizer que, por enquanto, foi mais tranquilo do que eu imaginei.

Teve coisas que me surpreenderam. Ontem a noite tive pesadelos, pela ansiedade de como seria ficar sem. E de manhã já veio a primeira estranheza do dia. Sempre tive costume de acordar, pegar o smartphone, abrir Instagram, Facebook, Twitter e dar aquela olhadinha básica. Várias vezes olhei para meu criado mudo e pensar: “Cadê? Não está ali. Ah, tá. Não estou usando”.

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Outra coisa que fugiu do comum. Esqueci das redes sociais. Fui no shopping de manhã, fiz algumas coisas do meu trabalho e o dia foi correndo. Só fui checar as redes sociais à tarde, perto das 14h30min. Foi o primeiro contato que tive com o computador o dia todo. A ansiedade da espera de o computador ligar e eu poder abrir as redes sociais? Como demora.

Queria entrar e ver o que estava acontecendo no mundo virtual. Chequei a sentir que o coração disparou. Depois, comentei com meu marido: “Nossa, que ridículo, que coisa boba”. Tudo ia continuar ali. Não ia mudar nada.

Terça-feira

A experiência está sendo de altos e baixos. Descobri que o 102 ainda existe. Estava fora de casa e precisava do contato de uma loja para uma coisa do trabalho. Pensei em pedir para meu marido procurar na internet, mas decidi fazer de um jeito antigo. Disquei. E não é que ainda existe? Eles cobram pelo serviço, mas me deram certinho o endereço e o telefone do local.

Mas teve um momento em que senti bastante falta. Precisava fazer uma transferência no banco. E sempre uso um aplicativo para isso. Tive que ir até a agência bancária e fazer no caixa eletrônico.

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Faz muita falta também para o meu trabalho, em que uso para pegar fotos de referências de decoração. Tive que desenterrar a máquina fotográfica.

Também sai para ir na abertura de um bazar em que a minha mãe participa. Sempre vou. Ele acontece uma vez por ano e, para ajudar, eu twitto e posto fotos. Foi um desafio ficar sem ter como fazer isso!

Hoje fiquei esperando a confirmação da clínica de fonoaudiologia da minha filha. E estou sem Whatsapp. Quando me toquei, tive que ligar para confirmar a consulta. Com esse celular que estou, praticamente só dá para ligar.

Quarta-feira

Comentei com meu marido, o José Vitor, como estou me sentindo isolada nesses últimos dias. Não é fácil ficar sem saber o que as pessoas estão fazendo, sem as piadas dos grupos de “whats”. É como se tudo estivesse acontecendo sem eu saber.

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Fiz um selfie hoje com meu Nokia sei lá que número. Queria postar na internet e não consegui. Procurei o cabo de celular, mas não encontrei em nenhuma das gavetas. Desisti.

Hábito é o que mais pega nessa experiência. Tudo que eu via de notícias e outros vídeos eu assistia pela internet. Praticamente não via televisão. E agora percebi que, antes de dormir, deito na cama e voltei a assistir, zapeando entre os canais.

Hoje foi o pior dia. Descobri que estou com uma infecção urinária. Precisei ir no NAS (Núcleo de Atenção à Saúde da Unimed) porque estava com muita dor. Esperei na fila pelo atendimento, ou seja, ficar horas sem smartphone e ver todos ao redor usando! Inclusive meu marido.

Tive que tomar soro. Fiquei assistindo televisão. E não tinha nada passando. Eram três horas da manhã, né? E adivinha? Todo mundo em volta no celular.

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Quinta-feira

Hoje estou de cama. Automaticamente, longe do computador. Acabei me forçando a levantar e ver meus e-mails. Assisti mais TV essa semana do que no último ano. Hehehe!

Só estou torcendo pra não precisar ficar mais três horas na Unimed sem smartphone de novo!

Fazendo uma apanhado da semana, percebo que o smartphone facilitou em muito coisas básicas como procurar o telefone de um local, saber se ainda está funcionando. E deixou incrivelmente mais rápida a comunicação. Levei um minuto para digitar “me liga” nesse celular antigo.

Minha filha, a Ana Rosa, deve estar estranhando a ausência de fotos. Pensa que tirávamos em média umas 30 fotos por dia e essa semana toda tiramos apenas duas!

Meu marido também notou algumas coisas. Agora levo livros na bolsa e pro banheiro, como eu fazia há dez anos. Minha bolsa está bem mais pesada. Além do livro, tenho que carregar várias anotações do trabalho (antes tudo isso ficava dentro do celular).

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Sexta-feira

Último dia. Acordei empolgada com a certeza de que, à meia noite, vou trocar o chip do celular de volta para o meu smartphone. Aproveito para contar também porque topei ser cobaia do desafio.

Queria saber se eu conseguiria mesmo, se estou tão refém e viciada no smartphone porque já estava tentando há um tempo diminuir a utilização. Eu perdia umas três horas por dia no celular. Já tinha até apagado o aplicativo do Facebook para me policiar mais.

E foi melhor do que eu imaginei, não foi tão difícil assim. Ainda ganhei essas horas para fazer outros serviços e coisas mais produtivas. Até arrumei o meu armário. Mas o computador ficou ligado direto os cinco dias.

Li muito, um hábito que eu tinha perdido. E brinquei bem mais com a minha filha (sem ser com o tablet!). A gente acaba recorrendo aos joguinhos por ser mais prático, mas é sempre com bem menos contato. Precisava de uma desintoxicação dessa.

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Acho que rolar a timeline é o novo abrir a geladeira para pensar. A gente nem percebe como aquilo está tomando tempo dentro do nosso ócio do dia a dia.