Ana* tinha 19 anos quando soube, na hora do parto, que não poderia amamentar seu primeiro filho. Foi naquele momento que ela descobriu que havia contraído HIV de seu marido, com quem morava havia três anos e não usava preservativo. Neste mês o ex-companheiro, que era usuário de drogas, faleceu por não seguir o tratamento à risca.

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– A doença mudou, os remédios estão mais fortes, mas o preconceito continua o mesmo. Muitos dizem que dá para viver bem com HIV, mas não é fácil, você não pode beber porque corta o efeito do remédio e se quiser ter filhos tem que ter acompanhamento médico – reforça a moradora de Palhoça, hoje com 26 anos.

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Além do preconceito, Ana passou por uma depressão, mas atualmente enfrenta, com otimismo, a dose diária de seis comprimidos e planeja o futuro ao lado do filho que não foi infectado. Os jovens continuam sendo um dos grupos que mais preocupam em relação ao vírus, junto à população carcerária e profissionais do sexo, pela vulnerabilidade e alta concentração da epidemia.

Entre 2013 e 2014, o número de soropositivos entre 15 e 24 anos saltou quase 30% em SC, o maior percentual entre as faixas etárias. Em 2015, até outubro deste ano, foram 378 novos casos entre os jovens. Porém há grupos, como é o caso dos idosos, que também apresentam aumento nos casos, embora de forma mais lenta, e que acendem o alerta pela falta de ações específicas.

Para o infectologista Fábio Gaudenzi de Faria, superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde, a prevenção da aids envolve uma mudança de comportamento, que é o uso de preservativos, por isso a resposta às medidas de saúde pública são mais lentas.

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– As gerações mais novas não viveram o pânico da década de 80 e 90 que a aids representava dentro da população, então acabaram valorizando muito pouco a prevenção com preservativo. Outras DSTs têm aumentado também, como a sífilis – explica.

Faria reforça que hoje um dos grandes desafios em SC é implementar o teste rápido em todas as unidades de saúde do Estado, além de capacitar as equipes médicas para o tratamento precoce:

– Quanto mais pessoas souberem antes do seu diagnóstico, mais cedo a gente inicia o tratamento e menos transmissão temos – resume.

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Para a professora do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisadora do tema Betina Schlindwein Meirelles, há inúmeros desafios na prevenção e controle da infecção pelo HIV, que não se resolvem em campanhas pontuais:

– Precisamos de ações que estejam incorporadas no cotidiano dos serviços de saúde, com qualificação contínua dos profissionais, bem como o planejamento de ações integradas nesse âmbito. Isso implica no envolvimento também de outros setores da sociedade, como educação, trabalho, organizações da sociedade civil.

*O nome original foi alterado a pedido do entrevistado, para preservar a identidade e barrar o preconceito.

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