A modelo de Lages Carolina Thaler é a brasileira da vez no universo fashion. Foi a única, nascida no Brasil, a subir à passarela da poderosa Prada na última temporada. Neste mês, está na capa da Elle Brasil, ao lado de outros duas novatas como as apostas do mercado internacional.

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Confira o relato da repórter Cris Vieira sobre como foi fazer essa reportagem

Carol iniciou a carreira em outubro de 2008, ao ser finalista do concurso Supermodel, realizado pela agência de modelos Ford. De lá pra cá, uniu ao seu estereótipo perfeito à profissão uma personalidade de igual harmonia com a passarela: persistência, sofisticação, autoconfiança e raciocínio ágil para aprender e se adaptar às novidades. O trabalho dos bookers da Ford e, claro, um bocado de sorte também permitiram a fluência de trabalhos que fizeram ascender sua carreira.

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Mas não é só. Uma tragédia pessoal, que poderia fazer dela uma garota insegura e frágil, foi digerida por Carol de maneira a torná-la uma adolescente forte – capaz de superar os “muitos nãos” do início da carreira. Aos oito anos, ela perdeu a mãe, com câncer de mama:

– Um trauma para sempre que aprendi a conviver e, de alguma maneira, me tornou uma mulher forte – revela (pela primeira vez falando sobre a mãe), em entrevista concedida ao Donna, no último dia 22 – data em que completou 20 anos. Carol estava em Paris para a temporada de alta-costura. Mais tarde teria um jantar romântico com o francês Hugo Hen, com quem namora há um ano e meio e que deve conhecer Lages, em agosto, quando será apresentado à família.

A ausência da mulher da casa entrelaçou ainda mais os laços entre os Thaler: Carol, a irmã Ana e o pai André. Daí, resulta um outro ingrediente que faz desta lageana uma supermodel: a força interior incomum.

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Confira o vídeo com o depoimento do pai e amigas da modelo

A seguir, o Donna DC reconstrói, cronologicamente, a trajetória de Carolina Thaler.

2008

Outubro de 2008. Uma fila de 200 meninas e meninos está formada na porta da Ford Models, em Florianópolis. Eles são os selecionados entre 750 inscrições do concurso Supermodel of The World, um dos mais eficientes no mundo em revelar top models. A equipe da Ford da Capital terá trabalho duro. Devem escolher 15 semifinalistas, ensaiá-los durante a tarde para que desfilem à noite. Da porta da agência, a equipe observa a fila, e uma menina “muita alta, muita magra, muito branquinha”, mas com olhos verdes saltantes e cabelos escuros chama atenção. Carolina Thaler tinha 16 anos e, à primeira impressão, começava a conquistar seu lugar entre os 15.

Meses antes, Carol tinha visto na Revista Caras uma ficha de inscrição do concurso. A menina era obstinada por se tornar uma top model. Cresceu ouvindo que o seu biotipo era de modelo e, assim, ainda na infância, já tinha decidido sua profissão. Ela preencheu a ficha, tirou duas fotos em casa, colocou em um envelope e mandou para a publicação. O pai ainda comentou que as fotos eram feias. Era o primeiro concurso, depois de uma dezena de tentativas, que a menina tinha conseguido convencer o professor universitário André Thaler a deixá-la participar.

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A Ford de São Paulo recebeu as imagens da lageana. A simplicidade das fotos, sem make, sem produção – caseira no genuíno sentido da palavra – revelava o que a agência queria: o potencial natural de Carol à profissão. Imediatamente, a carta da lageana foi remetida à filial catarinense que fazia a seleção.

– Eu nunca vou me esquecer. Liguei para ela para perguntar se podia vir a Florianópolis, porque ela estava entre os primeiros escolhidos. Essa menina não acreditava. Ela ria tanto no telefone. Dizia: “não acredito. Claro que eu vou. Eu vou sim”. E não conseguia parar de rir – conta Everaldo Antunes, booker da Ford SC.

Na tarde de 22 de outubro de 2008, Carol ficou entre as cinco finalistas da etapa estadual e foi à etapa nacional. Não ganhou, mas nem saiu de São Paulo naquele final de 2008. A Ford SP fez questão de mantê-la em seu casting.

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2009

No Brasil, o ano para a moda começa em janeiro com o Fashion Rio. Carol é modelo há apenas quatro semanas. Nunca fez um desfile para uma marca. Mas entra no casting de Fashion Rio e São Paulo Fashion Week. Na semana carioca, é escalada para abrir o desfile da Maria Bonita Extra, sua primeira grande responsabilidade, o que ela considera uma “sorte”. Vem a São Paulo Fashion Week no final do mesmo mês. Carol se destaca no evento. O respeitado site Style.com escreve ela é “next big Brazilian thing”.

O jeitinho de menina, os olhos felinos verdes e a naturalidade com que se movimenta na passarela fazem o mundo da moda se voltar para Carol. E, neste universo, está Reinaldo Lourenço. Ele cai de amores pela lageana. Carol fotografa a campanha de verão 2010 do estilista e sobe exuberante na passarela de Reinaldo, em junho, na SPFW edição verão.

– O Reinaldo sempre gostou de mim. Daí em diante, sempre me chama para os seus desfiles. É um fofo – comenta Carol.

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Ser a queridinha de um estilista de renome é ingrediente comum no currículo de supertops. O começo da menina de Lages não poderia ser melhor.

Além de subir à passarela de Reinaldo na temporada de Verão 2010, Carol desfila para outras 43 marcas, tornando-se a recordista de desfiles, somando SPFW e Fashion Rio.

Ainda em 2009, a modelo encara seu primeiro editorial de moda e é logo para a versão brasileira da Vogue.

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– Comecei bem, né? – brinca a lageana.

2010

No Brasil, depois de ser tornar a new face aposta das temporadas 2009, Carolina Thaler começa a receber críticas pelo jeito, às vezes, desengonçado de se apresentar. Alguns falam que suas pernas são tortas. Outros que Carol precisa melhor a postura.

A Ford decide mandá-la para o Japão, um mercado bom para se ganhar dinheiro, pois os trabalhos são mais comerciais. Carol passa duas temporadas de três meses cada uma no país oriental e conquista sua independência financeira. No Japão, fica amiga de uma modelo holandesa e com ela aprende a falar inglês fluentemente – outro requisito essencial na carreira de uma modelo internacional.

A lageana passa a fazer fisioterapia e ginástica direcionada para melhorar sua postura. Mas as críticas permanecem. Carol se irrita:

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– Sinceramente, eu me ofendi. Pensei: Ah, vocês vão ficar me criticando? Então vou fazer minha carreira no exterior e depois volto.

2011-12

Manuela W. Martinez, booker internacional de Carol Thaler, analisa que, em 2011, Carol deve morar em Paris, sem data para voltar. A passagem pela Capital parisiense dará à modelo sofisticação e a fará perder o jeito de menina tão criticado. Carol aceita as orientações e topa morar sozinha, aos 18 anos, num país em que não fala a língua nativa. É a fase dos “nãos” na sua carreira. Ela fica oito meses sem trabalho.

O pai de Carol já tinha se casado novamente e teve um bebê, com quem Carol é super apegada.

– Ela é muito determinada. Ela sofreu muito na França. Ouviu todas as nossas orientações. E Paris sofisticou a Carol. O quê planejamos deu certo – comenta Manuela.

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Em agosto de 2011, acontece o desfile que é um marco na carreira da modelo, como ela mesma conta:

– Meu booker me colocou no casting da Dior. Eu fui. Só mandaram eu andar e depois disseram: “tchau. Muito obrigada”. Saí de lá pensando que não tinha sido escolhida. Mas, no dia seguinte, estava selecionada. Foi um dos desfiles mais incríveis que eu já fiz. Fui maquiada pelos melhores maquiadores do mundo. Só tinha top no desfile. O backstage tinha um clima espetacular. As pessoas ficavam gritando: lindas. Vocês estão lindas.

Carol diz que entrou e saiu da passarela nervosa e é “sempre assim quando se faz um grande desfile, ou então, você não entrou de fato naquela passarela”.

Em janeiro deste ano, a lageana desfilava na São Paulo Fashion Week, quando ligaram da França convidando-a para desfilar para a Dior novamente. Carol saiu da Bienal, passou no hotel, pegou a mala e foi para a França. Dali, encadeou 30 desfiles internacionais, entre eles, Chanel, Roberto Cavalli, Dolce Gabbana, Gucci e, finalmente, a única brasileira a subir na passarela da Prada.

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Na edição impressa do Donna, confira o perfil de Carolina Thaler na íntegra