O empresário e presidente do Criciúma, Antenor Angeloni, me atendeu na tarde desta terça-feira, antes da reunião do conselho deliberativo do clube, que oficializou sua saída do comando do Tigre até o final desta temporada. Aos 81 anos de idade, a primeira coisa que ouvi na conversa foi:
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– Cansei. Fiz o que foi possível.
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Senti nas palavras do velho amigo um misto de decepção, com ainda alguma esperança de futuro.
Em momento algum ele perde a linha. Mais: não ouço do presidente do Criciúma uma crítica a quem quer que seja. Nosso papo foi curto, porém, objetivo, na medida em que Antenor Angeloni tem seus minutos contados e todos dedicados à empresa e ao clube.
Antenor e o Tigre
Iniciada em 2010, esta é a quarta vez que Antenor Angeloni comanda o Criciúma. A primeira foi em 1963. Depois, ainda presidiu o clube carvoeiro entre 1978 e 1980, além de uma breve passagem no ano de 1984.
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DC – Presidente, o senhor jogou a toalha?
Antenor – Cansei, Roberto. Aos 81 anos de idade vejo muita incompreensão no futebol.
DC – Como assim?
Antenor – Ninguém é capaz de reconhecer o trabalho administrativo. Quando assumi a presidência, minha primeira ação foi recuperar o estádio (Heriberto Hülse). Estava com uma parte destruída. Hoje ninguém lembra que temos lá um patrimônio de valor e dos mais bonitos.
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DC – Mas isso não ganha jogo, hein, presidente?
Antenor – Exatamente por isso. O futebol chegou a um determinado momento de paixão que está inclusive perigoso. Tudo que se faz é esquecido em minutos se no campo não houver resultados contundentes. E não temos tido sucesso nos últimos dois anos.
DC – Incompreensão de quem? Da imprensa?
Antenor – Não é isso. As críticas acho normais. Não adianta reclamar. Quando você se mete neste jogo de paixão que é o futebol, tem que admitir tudo, especialmente as críticas. Acho normal, não vejo problema nisso.
DC – Então, o que é?
Antenor – É que estou levando muito malho e não tenho mais idade para isso. Fiz o melhor que foi possível. O futebol está inviável do ponto de vista financeiro. Quem paga a conta? Vou entregar o Criciúma sem dívida, esta vai ficar para mim.
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DC – E a torcida?
Antenor – O torcedor faz a sua parte, apoiou. Não posso reclamar. Mas as vitórias não vêm e o pau ronca.
DC – E o futebol?
Antenor – Eu procurei contratar os melhores profissionais. Não deu certo. Fazer o quê?
DC – E o (diretor comercial do Criciúma) Claudio Gomes?
Antenor – Não entendo, rapaz. O Claudio é homem da minha confiança. Tudo que preciso ele faz e com competência e correção. Não adianta. Ele resolve meus problemas, mas não está lá no futebol.
DC – Não tem volta, não?
Antenor – Estamos conversando muito a respeito do futuro do Criciúma. Minha cota de trabalho expirou.
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DC – E agora? Quem vai pegar a bomba de assumir?
Antenor – Olha, tem gente sim. Estamos preparando alguém que goste do futebol e já sabemos quem é. Não posso te adiantar o nome, mas em dois dias no máximo podemos divulgar.
Reflexões
Antenor Angeloni se despede sem criticar ninguém, sem citar um nome sequer para o bem ou para o mal dentro do futebol, aceitando críticas de todos os lados, mas sentindo-se cansado. Tentei saber se havia alguma mágoa e ele não deixou transparecer, embora pudesse ter, sim.
São cinco anos nesta passagem pelo Criciúma e, neles, a queda para a Série B, tentativas de subir e um momento muito delicado.
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Pessoalmente, acho que o futebol vai perder muito com a sua saída. Credibilidade, respeito e seriedade: o futebol está perdendo tudo isso e um pouco mais com sua saída.