Consumida pela culpa, a auxiliar de limpeza de São José, Leidecléa da Silva, 42 anos, não conseguia acreditar quando recebeu o diagnóstico de câncer de colo de útero em 2010. A notícia abalou muito o estado emocional, pois mesmo com o corpo dando sinais de que algo estava errado – apresentava sangramentos há três meses e dores durante a relação sexual – ela foi adiando a visita ao médico e, quando foi, já era tarde.
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Primeiro foi ao posto de saúde para realizar o exame preventivo -Papanicolau – e a enfermeira já avisou que viu muitas feridas. Na hora, ela ainda pensou que seria algo simples, que iria receber uma pomada para se tratar e que tudo ficaria bem. Mas quando pegou o resultado do exame, viu que estava com câncer:
– Foi muito triste. Me senti mal, pois eu sabia que precisava fazer o preventivo todos os anos, mas acabava deixando de lado. A última vez que tinha feito foi quando minha filha (que hoje tem 12 anos) nasceu. Eu me arrependo muito disso – conta.
Durante o tratamento de um ano, Leidecléa passou por quimioterapia, radioterapia e braquiterapia (direto no local). Hoje, está praticamente curada, mas ainda frequenta o Cepon para exames regulares. Além de sequelas no corpo – dores localizadas – o que ficou para Leidecléa foi a gratidão por estar melhor e o aprendizado:
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– Eu falo para todas as mulheres que conheço que façam o exame sempre, não tenham vergonha ou preguiça. Oriento sempre minhas filhas mais velhas, e a de 12 anos já levei para tomar a vacina do HPV assim que saiu. Não tenho vergonha de contar minha história, acho que pode servir de lição para que outras mulheres não passem pelo que passei.
Prevenir é o melhor remédio
O câncer de colo do útero é o segundo de maior incidência entre as mulheres brasileiras e ainda tem grandes taxas de mortalidade. Segunda estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA), entre 2014 e 2015 serão diagnosticados 15.590 novos casos no Brasil. Em Santa Catarina, serão 480 mulheres atingidas. Este tipo de câncer é causado pela infecção genital do Papilomavírus Humano, o HPV. Na maior parte dos casos, a infecção por este vírus não causa a doença, pois é facilmente detectável pelo exame preventivo. Mais uma prova da importância de investir na prevenção.
No entanto, os números ainda são muito altos, especialmente se for pensado que a doença pode ser evitada. A presidente da Associação Brasileira de Portadores de Câncer (Amucc), Leoni Margarida Simm, explica que nos últimos anos as ações do Outubro Rosa também passaram a abordar o câncer de colo do útero:
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No caso de câncer de mama, falamos em diagnóstico precoce, pois não tem jeito de prevenir. Já o de colo do útero, tem 100% de prevenção com o Papanicolau. Dá para tratar antes que vire câncer – destaca.
Estatísticas do Inca mostram que 44% dos casos diagnosticados no Brasil são de lesão in situ precursora do câncer, ou seja, que ainda está restrita ao colo e não desenvolveu características de malignidade. Nessa fase, a doença pode ser curada quase na totalidade dos casos.
Apesar dos avanços e de políticas públicas para diagnóstico, Leoni destaca que ainda existem algumas lacunas a serem vencidas:
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– Vão desde a prevenção até os cuidados paliativos. Fazemos um trabalho para conscientizar as próprias mulheres a fazerem a o exame, e também enfrentamos problemas na qualidade da coleta do material, no armazenamento das amostras, na leitura das lâminas entre outros.
Exame preventivo – Papanicolau.
O teste de Papanicolau, também chamado de “exame preventivo”, é desenvolvido para diagnosticar alterações nas células no colo do útero que podem levar ao câncer. A médica ginecologista Daise de Carvalho Dias destaca que o fato de o exame apresentar alguma alteração não significa, necessariamente, que a mulher está com câncer:.
– O importante é fazer o exame justamente para investigar se tem alguma alteração, pois na maioria dos casos existe tratamento de lesões que não vão virar câncer. E além de fazer anualmente, a mulher tem que ir buscar o resultado, pois muita gente faz e nunca vai buscar – explica a médica.
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Todas as mulheres devem realizar o exame quando iniciam a vida sexual. Não existe nenhum risco. Basta ir até o posto de saúde do bairro e marcar a coleta, sem necessidade de requerimento ou pedido médico.
É um exame de demanda espontânea, basta chegar e pedir. As mulheres não devem esperar ter algum sintoma para fazer o exame, pois geralmente quando dá sintoma é porque já tem problema.
::Orientações antes de realizar o exame:.
Não usar creme e/ou óvulo vaginal;
Não utilizar ducha na região e não fazer lavagem interna;
Não realizar exame ginecológico com toque, ultrassonografia transvaginal e/ou ressonância magnética da pelve;
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Não manter relações sexuais 48 horas antes, com ou sem uso de preservativos;
Fonte:INCA
Campanhas buscam mais opções de tratamento pelo SUS para câncer de mama em metástase
Vacinação contra o HPV busca imunizar adolescentes
Desde 2014, as mulheres ganharam mais uma aliada na prevenção ao câncer do colo do útero, quando o Ministério da Saúde implantou no calendário anual a vacina contra o HPV ( vírus causador da doença) para meninas de nove a 13 anos. Em março do ano passado, quando começou a campanha, o país atingiu o objetivo e superou os 100% da população-alvo.
Este ano, a meta do Ministério da Saúde é imunizar até cinco milhões de meninas no país. Em Santa Catarina, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado (DIVE) espera atingir 149 mil adolescentes.
Apesar dos esforços, com campanhas de divulgação na mídia e escolas, os índices ainda não foram alcançados. Segunda a gerente de imunização da Dive, Vanessa Vieira da Silva, até agora foi atingido 68% da meta na primeira dose e 33% das meninas já tomaram a segunda dose:
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– A expectativa é de atingir a meta até o final do ano, visto que é uma vacina do calendário que está disponível todos os dias nos postos de saúde. Algumas meninas ainda irão atingir essa idade ao longo do ano – explica.
A vacina é tetravalente, ou seja, protege contra quatro tipos de HPV – 6,11,16 e 18 – responsáveis por verrugas genitais e 70% dos casos de câncer de colo de útero.
::Vacinação contra o HPV
– Período: disponível o ano todo. As campanhas ocorrem nos meses de março e setembro.
– Público: meninas de nove a 13 anos / mulheres de 14 a 26 anos de idade vivendo com HIV/Aids
*As meninas não necessitam de autorização ou acompanhamento dos pais nos postos de saúde. Basta que apresentem um documento de identificação ou a carteira de vacinação
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::Como funciona:
1ª DOSE
2ª DOSE ( DEPOIS DE SEIS MESES)
3ª DOSE ( DEPOIS DE CINCO ANOS)
*No site é possível encontrar mais informações sobre a vacina
Sexualidade da mulher com câncer de mama deve ser estimulada durante e depois do tratamento
::Perguntas e respostas
– O que é o HPV?
O Papilomavirus Humano (Human papillomavirus), conhecido também como HPV (Human Papillomavirus), é um vírus comum que se instala na pele e mucosas de homens e mulheres. Existem cerca de 150 tipos de HPV, mas quatro tipos são mais frequentes e causam a grande maioria das doenças relacionadas à infecção, que podem causar desde verrugas até cânceres.
A vacina distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é do tipo quadrivalente, que protege contra quatro tipos de HPV (6,11,16 e 18), ou seja, abrange os dois principais tipos responsáveis por câncer de colo de útero e daqueles responsáveis pelas verrugas genitais.
-Como o HPV é transmitido?
A transmissão do HPV ocorre por meio do contato direto com a pele ou mucosa infectada. Na maioria das vezes, a transmissão se dá através da relação sexual desprotegida, que inclui contato oral-genital, genital-genital ou mesmo manual-genital. Assim sendo, o contágio com o HPV pode ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal.
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No entanto, pode ocorrer, também, através do contato com mãos, objetos, toalhas e roupas contaminadas com secreção apresentando vírus vivo. Raramente, também pode ser transmitido de mãe para filho, durante o parto. Não há tratamento específico para eliminar o vírus.
-A vacina substitui o Papanicolau?
Não. É importante lembrar que a vacinação não substitui a realização da coleta do exame Papanicolau. As meninas vacinadas deverão realizar o exame quando atingirem a faixa etária (a partir dos 25 anos) ou quando já tiverem vida sexual ativa.
-Mesmo vacinada, é preciso usar o preservativo?
Sim, pois é imprescindível manter a prevenção contra outras infecções transmitidas por via sexual, como HIV, sífilis e hepatite B.
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Fonte: DIVE – Diretoria de Vigilância Epidemiológica