“Todo mundo trabalhando um pouquinho, a gente vai conseguir cuidar das nossas crianças”. É com esse espírito que a Associação de Skate da Costeira do Pirajubaé (Ascop), em Florianópolis, promoveu neste domingo, 18, o “Game of Mesa”, uma competição divertida de skate envolvendo a comunidade da Costeira, com arrecadação de brinquedos, roupas e peças de skate para os moradores do bairro.
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A região é frágil no que diz respeito à geração de oportunidades para os jovens, tanto em estudo quanto trabalho, ocasionando a preocupação dos mais velhos com o futuro deles. Assim, moradores do bairro encontraram no esporte uma maneira de criar novas perspectivas e afastar a juventude dos riscos da criminalidade.
— Todo mundo fala que as crianças são o futuro do país, então temos que focar nossos esforços nelas. Se elas estiverem ocupadas, praticando um esporte como o skate, têm a perspectiva de viver disso, sem precisar trabalhar para o outro lado por R$ 50 — afirmou o presidente da Ascop, Alecsandro Silveira, vulgo Gaúcho, que se mudou para a Costeira há oito anos.

Aos pés do morro que abriga a comunidade está aquela que é considerada a melhor pista pública de skate bowl do país, inaugurada no ano passado e batizada com uma etapa de campeonato mundial da modalidade. Desde 2009 a praça nas margens da Via Expressa Sul já tinha uma pista, o que faltava era apoio para os skatistas, que nem sempre tinham dinheiro para comprar os equipamentos.
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— O skate me tocou o coração no campeonato do ano passado, que o manezinho Pedro Barros ganhou. Conversando com o Gaúcho, resolvemos montar uma loja aqui mesmo no posto, quase a preço de custo, para servir como ponto de apoio a quem usa a pista e ajudar alguns atletas do bairro que não têm grana para comprar os equipamentos — contou Luciano Sousa, dono do Posto Camarão, da Onze Skateshop e um dos realizadores do “Game of Mesa”.
Nativo da Costeira, Antonio Vieira, de 17 anos, é figurinha carimbada na pista e na loja. Empolgado com a participação no campeonato, lembrou seu começo no skate, quando pegava o “carrinho” emprestado do irmão, cinco anos atrás.
— Esse movimento no bairro é daora! A iniciativa deles, de apoiar a galera, é algo sem palavras. O campeonato está massa, vou lá tentar mandar um nose slide nollie big spin — disse “Tonho”, em cima do skate enquanto se preparava para a manobra.
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Novas perspectivas
Todas as manhãs de domingo, a Ascop promove uma aula gratuita de skate para a criançada da Costeira. A iniciativa ganhou ainda mais força depois que o esporte foi confirmado nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, no Japão, e é vista como uma oportunidade de construção de uma carreira profissional.
— Queremos trabalhar com as crianças, tirá-las da ociosidade e criar novas perspectivas. No futuro, elas podem se tornar profissionais do skate, não necessariamente competindo, mas também desenvolvendo produtos, atuando no comércio especializado, etc. A gente quer fortalecer e fomentar o skate como alternativa — comenta Silveira.
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O gaúcho sabe do que fala. Vinte anos atrás, quando tinha uma loja em Torres (RS), um menino chamado Luan de Oliveira pediu ajuda. Silveira estendeu a mão e fez o que pôde para aquele garoto, que décadas depois se tornaria um dos melhores skatistas do mundo.

Agora, é a vez do manezinho Luiz Felipe Coutinho, de 15 anos, receber apoio para aquisição de equipamentos e a participação em competições Brasil afora. Coutinho mora na Agronômica e deu suas primeiras “remadas” na pista da Trindade, mas ao menos duas vezes por mês vai à Costeira para dar um rolê com a galera. No domingo, não foi para pista, mas sim para o posto, participar do “Game of Mesa”.
— É algo raro a gente ver um campeonato de skate em um posto de gasolina. Achei massa! Esse tipo de campeonato [uma manobra] é sempre uma surpresa, vamos ver se acerto o nollie backside bigspin-moose – afirmou com a naturalidade de quem havia sido campeão de skate street na véspera (sábado), em uma disputa no Floripa Shopping.
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