O Brasil precisa de uma agenda que leve a sério a ciência para passar a ser não só consumidor, mas produtor de tecnologia. A afirmação é do professor da Escola Politécnica da USP, Marcelo Zuffo. Ele foi o palestrante convidado para o 3º e último workshop Gestão de Valor, realizado nesta terça-feira no auditório da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). O objetivo do evento era debater os novos rumos da engenharia.

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Segundo o pesquisador, o Brasil é o terceiro maior consumidor de tecnologia do mundo e 90% do silício exportado globalmente saem daqui. Mas, enquanto a tonelada do silício é vendida a 250 dólares, quando a matéria-prima retorna para nós em forma de produtos eletrônicos importados, o valor alcança 250 mil dólares. É preciso investir em produtos de maior valor agregado na nossa economia. É aí que entram os engenheiros.

— Por não pensarmos a longo prazo, não temos nem um Nobel nem uma quantidade razoável de medalhas nas Olimpíadas — comparou.

“O entretenimento é o que faz a realidade aumentada ser consumida em massa”, diz professor da USP

Pelas constantes e cada vez mais rápidas mudanças, a engenharia, diz o professor, vive hoje uma crise de identidade.

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— Os engenheiros não vão mais resolver os problemas das indústrias. O engenheiro moderno tem que entrar na linguística, na biologia. A engenharia norte-americana viveu essa crise há cinco anos e criaram uma agenda de 14 grandes desafios para o futuro, entre eles aprimorar a infraestrutura urbana, desenvolver a engenharia de medicamentos e a engenharia reversa do cérebro — citou o professor.

Além do pesquisador, estiveram presentes representantes de entidades do setor como o Sindicato dos Engenheiros do Estado de SC (SENGE), a Federação Nacional de Engenharia (FNE), o Conselho Regional de Arquitetura e Engenharia (CREA-SC) e o Senai.

Inspirado nos insetos

O professor da USP também mostrou alguns dos projetos desenvolvidos no CITI. Um deles é o enxame de drones. Ao vermos uma foto, parece um enxame de insetos, mas, ao aproximar, vemos que são drones agrupados.

É o chamado sworm computing, ou computação em enxame, na tradução livre. A inspiração vem do comportamento dos insetos, que têm baixa inteligência, gastam pouca energia e, em conjunto, conseguem resultados surpreendentes. A nuvem de drones foi utilizada em experimentos de mapeamento 3D de edifícios e até de um sítio arqueológico no interior de São Paulo. Para isso, os drones fazem cerca de 2500 fotos em menos de duas horas e as processam em tempo real.

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Outro projeto mostrado foi a resolução de problemas do sistema elétrico por meio de realidade virtual, eliminando o risco de acidentes para funcionários que trabalham na manutenção das redes.