Até a metade da última sexta-feira, a vida continuava igual para a maior parte dos moradores de Urubici. Na base dos bombeiros da cidade, só uma ocorrência ou outra aparecia. Mas nada incomodava a insaciável tranquilidade do local. O telefone estava praticamente mudo. Mas às 11h47 da manhã tudo mudou.
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Do outro lado da linha, um morador da subida do Morro da Igreja relata, mesmo com poucas informações, que um ônibus havia caído num ribanceira. Sem dados de vítimas e da gravidade, um carro com três soldados parte para um socorro padrão. Maurício Jacobi Revelant, 25 anos, lidera a equipe sem saber ao certo o que vai encontrar pela frente.
O Morro da Igreja não é um dos lugares mais seguros da região. Vez ou outra um carro ou uma moto se embrenha na mata quando o motorista ou um piloto não conhece o trajeto. Mas um ônibus cheio de adolescente era difícil de imaginar, mesmo para quem já está acostumado com o aumento no número de ocorrências no inverno.
Em 2011, os bombeiros tiveram que socorrer à meia noite dezenas de estudantes que estavam quase em estado de hipotermia no topo da serra, já que o motorista havia desligado o ônibus e o frio fez com que o veículo não ligasse mais. As crianças estavam pouco agasalhada e já passando mal pela baixa temperatura, que beirava a sensação de -20°C.
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Mas um ônibus num barranco era um pouco difícil de imaginar. Jacobi e os colegas tiveram que se embrenhar na mata e limpar o acesso já que não era possível ver o veículo da estrada. Chegaram e já tiveram que prestar o socorro para a guia de turismo Roseli Terezinha Vieira, que estava praticamente sem vida. Outro bombeiro, Relkan de Oliveira, 26 anos, lembra ainda claramente o jeito como ela segurou sua mão a caminho do hospital, minutos antes de morrer. Ela não falou nada.
Já Didio Pereira, o agente de viagem, estava lançado no meio do trajeto que o ônibus fez ladeira abaixo e estava consciente. Conseguia até conversar.
Mesmo antes da chegada dos bombeiros, os estudantes do Colégio Santa Catarina, de Florianópolis, já estavam saindo do ônibus pela janela. O papel dos socorristas foi acelerar o processo e confirmar se todos estavam bem. No meio do resgate, o veículo dava sinal de que poderia se mover e cair ainda mais. Mas nada aconteceu.
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A retirada das vítimas terminou por volta das 13 horas. Porém o trabalho continuou no hospital da cidade e depois com o cuidado do equipamento. A situação só foi se normalizar por volta das 17h. Por toda a tarde, o telefone dos bombeiros não parou de tocar. A trégua chegou apenas ao cair da noite e ao intensificar do frio.
Pode não ter sido o primeiro resgate feito de veículo caído na ribanceira. Mas, para os cinco bombeiros que participaram da operação no local, incluindo ainda Antônio Godinho Nunes, 36, Éder de Souza Correa, 34 e Roberto de Oliveira, 38 anos, o acidente foi o mais complicado e mais emocionante. Uma história que vai ficar para a memória, seja pelos salvamentos, seja pela perda.