Embora a arrecadação de Araquari, no Norte de SC, cresça ano a ano com o boom industrial, nada se compara ao fôlego que a BMW vai proporcionar às contas da prefeitura local. Ela será a única empresa da cidade a superar um bilhão de reais em faturamento _ de largada, já terá uma receita de R$ 2 bilhões.
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Hoje, a maior receita é da multinacional Hyusung, fabricante de fios de elastano, na ordem de R$ 300 milhões. Em cinco anos, a BMW quer faturar R$ 15 bilhões, montante que representa o dobro da receita apurada em 2013 pela Weg, a maior empresa da região.
A fatia que caberá à Araquari na divisão do repasse do ICMS ainda não foi calculada. O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Clenilton Carlos Pereira, porém, anima-se com a perspectiva de triplicar a receita da prefeitura, hoje de R$ 75 milhões, em até quatro anos. A conta inclui outras empresas instaladas recentemente _ mas a BMW é o carro-chefe.
Como o repasse de ICMS só acontecerá dentro de dois anos, a Prefeitura aguarda os recursos para custear as obras de infraestutura que sustentarão o crescimento. Com 31 mil habitantes, Araquari é a cidade catarinense com maior aumento populacional nos últimos dois anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A constatação acendeu a luz amarela no governo. A prefeitura decidiu, então, colocar um freio na expansão populacional com a não liberação de novos condomínios residenciais. Quem compra um imóvel precisa de saneamento, posto de saúde, ônibus e escola, e o poder público local não tem conseguido suprir novas demandas por serviços básicos. Na educação, o turno intermediário será reativado para dar conta de novas matrículas no ensino fundamental, onde não há mais vagas.
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_ Se o desenvolvimento econômico acontece a 100 km/h, a infraestrutura não passa de 10 km/h _ admite Josué Vieira,secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão.
A BMW, apesar de toda a importância econômica que representa, não pressiona o já esgotado serviço à população. Isto porque grande parte dos trabalhadores da empresa não mora em Araquari _ o ônus dos serviços fica nas cidades-dormitório. Tampouco a contratação de profissionais de cidades vizinhas, como Joinville, preocupa a mão de obra local. Assim como outros municípios, Araquari vive a situação de quase pleno emprego. Ou seja, a chegada da BMW é considerada um daqueles casos em que todos ganham.
Crescer quanto e para onde?
Nos últimos cinco anos, várias empresas se instalaram em Araquari atraídas por subsídios fiscais. Quem passa pela BR-280 percebe uma transformação constante, com vários galpões sendo construídos ao longo da rodovia _ tendência que deve se intensificar com a BMW. Por enquanto, as áreas disponíveis para novos empreendimentos estão localizadas, principalmente, às margens da BR-101 e da BR-280, caracterizadas como zona de interesse industrial.
O governo tem como bandeira o desenvolvimento da cidade, mas a questão é: crescer quanto e para onde? Um estudo encomendado com a empresa ETS, de Florianópolis, vai dar a resposta. Algumas localidades não podem ser mexidas porque são terras indígenas, enquanto outras apresentam mata densa. O perímetro urbano corresponde a cerca de 30% do município de Araquari e concentra 90% da população. O objetivo é expandir a área urbana para 50% do território, que totaliza 384 km².
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Chamariz para novos negócios
A presença da BMW mudou a rotina dos negócios em Araquari. Do dono do hotel ao empresário de galpões, todos sentem a influência da marca de carros de luxo. Desde a confirmação do investimento, o valor do metro quadrado de terrenos industriais pulou de cerca de R$ 60 para até R$ 150. Proprietários de áreas residenciais próximas à fábrica passaram a pedir quase dez vezes mais pelo imóvel.
O empresário Tiago Sewald, de 28 anos, dono da empresa PS Transporte e Turismo, simboliza o fascínio em torno da BMW. Em 2013, ele foi contratado pela Perville, responsável pela construção da fábrica, e começou a transportar trabalhadores para o canteiro de obras. A van foi vista por outros potenciais clientes, que anotaram os contatos informados em um adesivo colado na lateral do veículo. O telefone de Sewald começou a tocar. Hoje, ele tem parcerias para contar com mais dois veículos trabalhando para ele.
– Araquari é uma cidade dividida e necessita de transporte para deslocamento. Acredito que com a BMW teremos muito serviço indireto – aposta o empresário.
O mercado está de olho em oportunidades com a vinda da BMW e a movimentação impactou Gilberto Correa da Silva, de 48 anos, que trabalha há 15 anos no ramo de aluguel de galpões industriais na região. Sua empresa, a Logos Empreendedores, registrou um aumentou de mais de 50% na procura por aluguel desde que a BMW comprou terreno na cidade.
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Ubiratã Suppis, outro empresário do ramo, decidiu nos últimos anos instalar uma unidade em Araquari por causa do crescimento econômico da cidade. Acertou em cheio. Desde a vinda da montadora alemã, a primeira pergunta que ele ouve de seus potenciais clientes é: “sua empresa fica a quantos quilômetros da BMW?”.
Suppis considera o mercado promissor porque fornecedores de peças precisam de locais para armazenar os produtos, e o empresário quer estar preparado. Para isso, está construindo um condomínio de 15 mil m² para abrigar três galpões às margens da BR-280, com pé direito de 15 metros de altura para permitir armazenagem vertical.
Sinuelo antecipa obras por causa da montadora
Quando chegou em Araquari, em 1970, o Grupo Sinuelo foi considerado um divisor de águas para a cidade. O empreendimento oferece desde posto de combustível e restaurante a parque temático. A vinda da BMW é considerada um novo marco, e a empresa quer crescer junto. Sua principal aposta é o complexo comercial de 12 mil m², já em obras às margens da BR-101.
Idealizado em 2010, antes do anúncio da BMW, o empreendimento previa em seu cronograma a inauguração da primeira fase em 2015. Com a confirmação da abertura da fábrica alemã no próximo dia 9, o administrador do grupo em SC, Ulisses Molon, decidiu acelerar o projeto e finalizar a primeira etapa da obra em dezembro. O complexo prevê posto de combustível, restaurantes, praça de alimentação, adega, salas comerciais, auditórios, salão de eventos, parque de recreação e heliporto.
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Novos clientes
Há 21 anos no mercado, a churrascaria Viapiana é bem conhecida dos moradores de Araquari e um dos locais preferidos dos visitantes. Nos últimos três anos, a atividade econômica se intensificou e, cada dia mais, o estabelecimento recebe clientes que trabalham em empresas terceirizadas de grandes corporações que se instalaram na cidade. A BMW é a mais recente delas. O proprietário Nelci Dias Maciel diz que o faturamento do restaurante aumentou 30% no período.
O lado bom da chegada de grandes empresas aparece no aumento da clientela e, para atendê-la bem, Maciel investiu no treinamento dos trabalhadores. O lado ruim é lidar com a rotatividade, que aumentou 20%. Muitos profissionais estão deixando o comércio para trabalhar na indústria. Uma das medidas para reter os funcionários foi aumentar os salários.