Suas definições de “desafio” foram atualizadas por Daniel de Oliveira. Conhecido como o homem que nada no rio Itajaí-Açu e encara as águas barrentas e turvas daquele que nos abastece, o triatleta decidiu zerar a vida, digamos assim. Depois de vencer o Quintuple Iron em 2016 (competição que equivale a cinco Ironman), ele quis dar um passo além. Ou melhor – com perdão do trocadilho –, milhares de passos, braçadas e pedaladas a mais. O objetivo é claro: tornar-se, ainda neste ano, o homem mais resistente de todo o planeta.
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Sabe quando você vai correr e estabelece uma meta? Talvez dois quilômetros, três, cinco ou até 10 para os mais experientes. Pois é. Daniel coloca tudo no chinelo, mas do seu jeito, é claro. Nesta quinta-feira o blumenauense embarca para León, no México, onde disputará a partir de domingo o Decaultratri, competição cujo próprio nome resume a insanidade que virá pela frente. Ele tentará percorrer todo o percurso que é megalomaníaco e diz respeito a 10 Ironman: pedalar 1,8 mil quilômetros (como ir de Blumenau até São Miguel do Oeste, voltar, e ir até o Extremo Oeste novamente), correr 422 quilômetros (como ir a Imbituba e voltar, saindo da Rua XV de Novembro) e nadar 38 quilômetros (consegue imaginar você dando braçadas do comecinho da Nova Rússia até a Vila Itoupava?). Ah, detalhe importante. Tudo isso durante menos de oito dias e com uma ou outra parada apenas para se alimentar, fazer necessidades e descansar. Ufa!
Daniel é o único brasileiro em meio a outros nove concorrentes – entre norte-americanos, britânicos, francês, italiano, esloveno e canadense – e ostenta o status de favorito para figurar no lugar mais alto do pódio. Ele vai sozinho nesta quinta-feira pela manhã ao território mexicano e terá apenas o staff da prova como apoio. No mais, é ele por ele. Nada além. Mesmo assim, a confiança é grande pelo equipamento que o blumenauense terá à disposição – incluindo uma bicicleta tão, mas tão cara, que nem o próprio atleta quis contar o preço.
– Vou ser agressivo e quero tomar frente nesse momento, liderar a prova e criar uma distância de segurança – revela Daniel.
– Me preparei para o calor, para o frio e para as mudanças de temperatura por lá. Para se ter ideia de madrugada faz 7 ºC e à tarde, 37 ºC. O corpo sofre com isso, compromete a estratégia e dessa vez eu já sei como me comportar – complementa.
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Alimentação será um dos pontos-chave na prova
Para Daniel de Oliveira, o pós-alimentação será o oposto do que muitos fazem após o churrasco de domingo. Sabe aquela leseira depois do almoço? Aquele soninho? Aquela alcalose pós-prandial? A soneca? Esqueça. É justamente na ingestão de alimentos hipercalóricos que o atleta terá energia para continuar a prova. E é aí que está outra parte bizarra da história. Sem condições de tomar suplemento – já que ele teria de ingerir litros e litros, o que traz como consequência um volume considerável de xixi –, ele precisa de uma segunda opção para não precisar urinar a todo o momento. Na verdade, mais parece a alegria de uma criança de oito anos: comer besteiras.
Antes de pegar o avião para o México, com o objetivo de engordar, um dos pratos prediletos de Daniel era macarronada com bolacha recheada. Sim, você leu certo. Um com o outro, para a loucura dos chefs. Durante a prova, essa alimentação será composta por tiras pomposas de bacon, hambúrgueres, achocolatados, pizza, sorvete, bolo. Tudo que possa servir de combustível aos atletas. Até tomar cerveja ele vai!
:: Loucura? Daniela de Oliveira, o atleta blumenauense que se nada no Rio Itajaí-Açu
– Porque serve até como relaxante muscular, além de fornecer importantes calorias. Vou precisar comer basicamente tudo que os organizadores do evento mandarem – relata.
E as dores? As cãimbras? O cansaço? O que fazer? Para Daniel, ignorar:
– Será uma jornada longa e com certeza se manter bem do começo ao fim vai definir a prova. Sentir a dor é inevitável, mas sofrer por ela é uma questão de escolha.
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Se terminar a prova em menos de oito dias, Daniel de Oliveira bate o recorde mundial e se transforma no homem mais resistente do mundo. Um super-homem? Talvez.