O pôquer é uma das atividades que mais crescem em número de adeptos no Brasil. Celebridades de outros esportes como Neymar e Ronaldo são embaixadores do jogo de cartas e ajudam a popularizar os sites de pôquer online que atraem milhares de jogadores todos os dias. Como não é considerado um jogo de azar, tem prática liberada no Brasil, mas sem regulamentação oficial
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::: Sem regulamentação atual, pôquer caminha em busca da oficialização no Brasil
Apesar de não ser um esporte oficial, cada vez mais praticantes largam tudo para se dedicar ao pôquer e profissionalizar o hobby. Em Blumenau, uma mansão em um condomínio fechado é um curioso centro de treinamento para jogadores profissionais do jogo pela internet. Nela, o atual campeão brasileiro, Rodrigo Garrido – paulista radicado em Santa Catarina – organiza a sua equipe com outros seis jovens que deixaram emprego e faculdade para viver das cartas.
A mansão possui quatro andares com ligação através de elevador dentro da casa, dormitórios exclusivos para cada jogador, piscina, churrasqueira, academia, sala de cinema e uma funcionária para fazer a limpeza e o almoço. Ali, respira-se pôquer 24 horas por dia, seja nos computadores onde os jogadores passam horas nos torneios ou em mesas, onde jogam entre si. Na decoração, as fichas, cartas de baralho e cartazes relacionados ao jogo dividem espaço com o luxo da residência. Cada jogador que mora ali assinou um contrato de um ano com o time de Garrido, que comanda tudo ao lado do sócio Celio Voelz.
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Para entrar, os jogadores passaram por uma seleção e pagaram uma taxa correspondente à permanência na mansão pelo período. O dinheiro usado para entrar nas competições é fornecido pelo time e os prêmios nas vitórias são repartidos: 70% para a equipe e 30% para o jogador. Conforme anunciado pela página oficial do grupo na web (Facebook/Garrido Poker Team),o custo de um curso intensivo de um mês na mansão é de R$ 6 mil. A reportagem do Santa tentou entrevistar Garrido, mas não conseguiu pois o jogador participava de um campeonato em Brasília.
Rafael Chaves é um dos moradores do quartel general do time de Garrido. Conhecido pelo apelido de Tenente, o jovem de 24 anos integrava o Exército em São Paulo até o começo de 2015, quando ficou sabendo da seleção para o projeto e decidiu trocar a carreira militar pela vida de jogador de pôquer:
– Descobri o pôquer em 2011, quando um colega do quartel me levou para uma partida entre amigos. Tive sorte de principiante e venci a primeira partida, me apaixonei pelo jogo.
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Coragem do novato impressionou profissional
Na partida que Rafael venceu estava um profissional, que se impressionou com a coragem do novato, o incentivou e deu dicas de estudos, mostrando que o pôquer era mais do que sorte. Um ano depois o militar abandonou a faculdade de Direito para dividir o tempo entre o Exército e as cartas.
– Tive que convencer meus pais que era o que eu queria e que estava me dando dinheiro. A partir daí eles me apoiaram e foi um caminho natural até este ano, quando pedi dispensa do Exército e comecei a me dedicar 100% ao pôquer – diz.
Jogador venceu preconceito e dá aulas
Além da rotina pesada de jogos, os atletas profissionais de pôquer encontram outros meios de bancar a prática. Guilherme Rebelo, 23 anos, é um dos jogadores de destaque em Blumenau. Além de jogar cerca de 12 horas diárias, acha tempo para dar aulas de estratégia e consultorias, inclusive para os moradores da mansão. Hoje é um profissional reconhecido e diz que teve que vencer o preconceito dos pais e da namorada para mostrar que poderia viver do pôquer.
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– Preconceito tem muito, mas está melhorando com a popularização do esporte. O pôquer é um esporte de longo-prazo e que demanda entrega do profissional. Você pode em dois meses ganhar 80 mil dólares e depois passar cinco meses sem ganhar nada. Não é como ter um salário fixo no fim do mês, tem variação – pondera.
Em suas aulas para os jogadores do time de Garrido, Rebelo usa uma sala de cinema na mansão para repassar à exaustão jogadas de partidas anteriores, analisando os erros e acertos nas estratégias. Para ele, há uma pequena parcela de sorte no pôquer, mas habilidade e conhecimento de probabilidades são fundamentais. Como parte do treinamento, vídeos de profissionais e livros sobre estratégias fazem parte da rotina.
Rotina inclui exercícios físicos e estudo
Na mansão desde julho, Tenente tem uma rotina regrada dedicada ao melhor desempenho no pôquer. Pela manhã, tempo para fazer exercícios físicos e estudar técnicas do jogo. Ao meio-dia, o almoço é feito pela cozinheira da casa, seguido de uma hora para tarefas pessoais. Às 14h os jogadores sentam em suas cadeiras na grande sala de estar repleta de computadores e começam a jogatina, que dependendo do dia vai até a madrugada. Tempo livre para sair, somente às sextas e sábados. De acordo com Rafael, eles participam de cerca de 40 torneios online por dia, jogando uma média de oito partidas ao mesmo tempo na tela do computador. O volume de partidas é o que gera a renda para que eles se mantenham somente do pôquer. Em partidas ao vivo, Rafael conta que conseguiria participar de cerca de cinco torneios por semana:
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– A primeira coisa que o jogador tem que saber é que vai perder muito. O psicológico no pôquer é muito importante. Sei que dos 40 torneios que jogo por dia, vou chegar na mesa final de uns sete talvez. Ganhar? Talvez um. Tem dia que nenhum. Mas essa vitória de um dia já pode valer o mês inteiro.