A construção de três navios-sonda de perfuração no estaleiro da Petrobras em Rio Grande teria envolvido o pagamento de R$ 60 milhões em propina – R$ 40 milhões para o PT – e foi combinado entre Pedro Barusco (ex-gerente da estatal), João Vaccari Neto (tesoureiro do partido) e o empresário Milton Pascowich (operador da fraude). A rota do suborno foi detalhada por Barusco em acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
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Propinas incluem três obras da Petrobras no RS
Conforme ele, a Sete Brasil – empresa que nasceu de um projeto da Petrobras para fabricar sondas nacionais – venceu uma licitação em 2011 para produzir 21 navios desse tipo nos estaleiros de Rio Grande (RS), Jurong (ES), Kepel Fels (RJ) e Enseada do Paraguaçú (BA). Barusco ressaltou que o “maior contrato de sondas do mundo inteiro” ocorreu dentro da legalidade, mas envolveu um acordo de distribuição de 1% do valor de cada embarcação para as três partes do esquema criminoso.
Rosane de Oliveira: Dilma no pântano da desconfiança
Como cada navio teve um preço médio de US$ 720 milhões (R$ 2 bilhões), Barusco delatou ao MPF que R$ 60 milhões foram desviados do estaleiro de Rio Grande para serem distribuídos entre ele, o PT e a Sete Brasil. O partido da presidente Dilma Rousseff ficou com a maior parte do dinheiro, segundo ele.
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Moisés Mendes: Barusco é o mais falante dos delatores
“A divisão se dava da seguinte forma: dois terços para João Vaccari e um terço para a ‘Casa 1’ e ‘Casa 2’. A ‘Casa 1’ referia-se a pagamentos no âmbito da Petrobras, especificamente para o Diretor de Serviços, Renato Duque, e Roberto Gonçalves, e a ‘Casa 2’ referia-se ao pagamento de propinas no âmbito da Sete Brasil, especificamente para o declarante, João Carlos de Medeiros Ferraz, presidente da empresa, e, posteriormente, também houve a inclusão de Eduardo Musa, diretor de Participações”, aponta a delação.
As 21 unidades estão previstas para ser entregues a partir de 2016 e serão destinadas principalmente à perfuração de poços no pré-sal da Bacia de Santos, incluídas as áreas da cessão onerosa, de onde a estatal está autorizada a retirar 5 bilhões de barris de petróleo.
Jantar na Itália encaminhou acerto
Barusco revelou ao MPF que o operador da fraude em Rio Grande era o empresário Milton Pascowitch, que presta serviços à Ecovix, companhia do ramo de construção naval e off-shore. No depoimento, o ex-gerente da estatal falou que “demorou bastante bara se consolidar essa forma de pagamento por conta do grande número de pessoas envolvidas”.
ZH Explica: Entenda a nona fase da Operação Lava-Jato
Para não haver erro na execução do crime, Barusco, Julio Camargo (lobista da Toyo-Setal), Renato Duque (diretor de Serviços da Petrobras) e João Carlos Ferraz (então presidente da Sete Brasil) selaram o acordo em um jantar em Milão, na Itália, em outubro de 2011. Eles acertaram os detalhes da propina com o presidente do banco suíço Cramer e um agente da instituição, chamado Pierino Lardi.
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No dia seguinte, eles abriram contas em nome de off-shores no banco suíço, exceto Camargo, que já mantinha relacionamento com os europeus. Pedro Barusco contou que foram abertas 19 contas em nove bancos e confirmou que o esquema de propinas teve início em 1997.
Uma planilha montada por ele, além de seu depoimento, serviram para a Polícia Federal desencadear a nona fase da Operação Lava-Jato, na última quinta-feira, prendendo quatro pessoas. O quadro montado pelo ex-gerente e entregue aos procuradores da República tem cinco páginas e informa, entre outros dados, a obra, quem pagou, intermediário e destino do dinheiro.
O documento de Barusco abrange, no total, 87 dos principais contratos firmados pela Petrobras na última década no país e no Exterior. Somam a quantia de R$ 97 bilhões. Desse total, R$ 1,2 bilhão teriam sido pagos em propina. Zero Hora entrou em contato com a Engevix, que afirmou que “não fará comentários e prestará os esclarecimentos necessários à Justiça”. Já o PT ainda não se manifestou.
Os fatos que marcaram a operação: