Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras, afirmou ao Ministério Público Federal (MPF) que três contratos envolvendo obras no Rio Grande do Sul teriam sido foco de cobrança de propina por parte de dirigentes da estatal. O suborno, no Estado, teria alcançado valor equivalente a R$ 110,5 milhões – a maior parte paga em dólares.

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É o que disse o ex-dirigente da petroleira em depoimento prestado em novembro e divulgado pela Justiça Federal na última quinta-feira. O suborno teria sido obtido das empreiteiras por um grupo de agentes e políticos, para que as construtoras conseguissem firmar contratos com a Petrobras. Em contrapartida, os empreiteiros formavam um cartel, no qual conquistariam as principais obras.

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Ex-gerente da Petrobras aceita devolver US$ 100 milhões

Barusco fez as revelações em acordo de delação premiada. Em novembro, ao fechar o acordo, ele se comprometeu a devolver quase US$ 100 milhões (cerca de R$ 278 milhões). Segundo ele, a propina a ser paga a dirigentes da estatal e a partidos variava de 1% a 2% do valor contratado. A área da Petrobras para a qual Barusco trabalhava tinha como diretor Renato Duque, indicado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), segundo ele.

Planilha montada por Barusco, além de seu depoimento, serviu para a Polícia Federal desencadear a nona fase da Operação Lava-Jato, na última quinta-feira, prendendo quatro pessoas. O quadro montado pelo ex-gerente e entregue aos procuradores da República tem cinco páginas e detalha, entre outros dados, a obra, quem pagou, intermediário e destino do dinheiro.

Documento mostra dados de 87 obras

A planilha de Barusco abrange, no total, 87 dos principais contratos firmados pela Petrobras na última década no país e no Exterior. Somam a quantia de R$ 97 bilhões. Desse total, R$ 1,2 bilhão teria sido pago em propina.

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No Rio Grande do Sul, a planilha mostra três obras: oleoduto Osório-Canoas, montagem da plataforma P-53 e construção de oito cascos de plataformas. Ao menos outro projeto no Estado havia sido envolvido em pagamento de propina: a unidade de tratamento de diesel da Refap.

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ZH procurou no domingo as empreiteiras nas novas obras citadas. A Engevix informou que não faria comentários e prestaria esclarecimentos à Justiça. Alberto Toron, advogado de Ricardo Pessoa, ex-presidente da UTC, diz que não teve acesso à planilha de Barusco e não falaria no domingo. As assessorias da Queiroz Galvão e da Petrobras não responderam.

A planilha dos desvios

Documento fornecido por Barusco ao MPF detalha a cobrança de propina. Além de valores dos contratos e percentual do suborno, o documento especifica a divisão. O termo “casa” refere-se à Diretoria de Serviços da Petrobras, e “part”, ao PT, partido ao qual a diretoria estava vinculada:

As obras no Estado

Saiba mais sobre os empreendimentos no Estado mencionados por Barusco

Empreiteira: Engevix

Obra: Oito cascos

Valor do contrato: US$ 3,37 bilhões

Valor da propina:US$ 33,78 milhões

Empreiteira: Quip (Queiróz Galvão, UTC e IESA)

Obra: Plataforma P-53

Valor do contrato: US$ 523,72 milhões

Valor da propina: US$ 5,23 milhões

Empreiteira: UTC

Obra: Oleoduto Canoas-Osório

Valor do contrato: R$ 109,57 milhões

Valor da propina: R$ 2,19 milhões

Entenda o que é cada contrato

– A P-53 foi a primeira plataforma de petróleo montada no Estado. Deixou Rio Grande em outubro de 2008.

– Os oito cascos encomendados para a produção de petróleo no pré-sal estão sendo construídos no Estaleiro Rio Grande, operado pela Ecovix, controlada pela Engevix.

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– O oleoduto foi construído para aumentar o escoamento de petróleo e derivados entre o terminal da Petrobras, em Osório, e a Refap, em Canoas.

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