Os últimos anos têm mostrado uma mudança significativa na balança comercial de Joinville. Cidade que, historicamente, detém o maior produto interno bruto (PIB) do Estado, Joinville agora importa um volume de insumos e produtos industrializados muito maior do que há 15 anos. É o que aponta o levantamento feito pelo jornal ¿A Notícia¿, comparando os dados divulgados pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) entre os anos de 2001 e 2016.

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No início do século, Joinville registrou um volume de US$ 172 milhões em importações e de US$ 563 milhões em exportações, o que resultou em um superávit comercial de US$ 391 milhões. Com o passar dos anos, as importações cresceram e ultrapassaram as exportações em 2012, consolidando uma nova tendência. No ano passado, o déficit comercial de Joinville atingiu US$ 491 milhões, e a perspectiva é de que continue assim, com base nessa característica importadora.

Entre janeiro e junho deste ano, a balança comercial joinvilense registrou déficit de US$ 280,4 milhões – foram exportados US$ 519,2 milhões e importados US$ 799,6 milhões. A última vez em que a balança local registrou superávit foi em 2011, ainda que por uma pequena margem. Naquele ano, o município exportou US$ 1,67 bilhão e importou US$ 1,65 bilhão.

Para a economista Maria Teresa Bustamante, que é presidente da Câmara de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), uma das explicações para essa variação está na redução do consumo no mercado interno e no aumento dos custos da matéria-prima brasileira. A instabilidade econômica e política, mais forte nos últimos dois anos, também contribuiu tanto para a queda no saldo de importações e de exportações quanto para a mudança de perfil.

– Com o aumento no preço dos produtos nacionais, as empresas passaram a importar mais e, de 2015 para cá, com a instabilidade política, o dólar se converteu em um bumerangue, contribuindo para essa inversão. A indústria passou a buscar fornecedores no exterior por encontrar preços mais competitivos de venda. Com isso, ela acaba importando mais insumos e componentes, até porque o dólar tem oscilado pouco e, às vezes, para baixo. Isso ajuda a elevar as importações – explica.

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Posição semelhante tem a presidente do Núcleo de Negócios Internacionais da Associação Empresarial de Joinville (Acij), Carla Pinheiro. De acordo com ela, além do fator preço, a própria característica das empresas instaladas na cidade, de ¿fabricar, industrializar e trabalhar com produtos, em sua maioria, manufaturados e com maior valor agregado¿, tende a fazer com que a matéria-prima utilizada pelas indústrias de Joinville precise ser trazida de fora do Brasil.

Déficit não indica enfraquecimento

Outros fatores determinantes para esse quadro são o impacto da crise, que ainda torna o mercado interno brasileiro menos competitivo internacionalmente, e o fato de Joinville não ser um grande exportador de commodities, produtos que podem ser estocados sem perda de qualidade, como grãos, fumo e frango, teve crescimento no mercado externo.

Essa variação ajudou a elevar os embarques catarinenses ao exterior no primeiro semestre. Entre janeiro e junho, as exportações do Estado alcançaram US$ 4,1 bilhões, registrando aumento de 16% no comparativo com o mesmo período de 2016. Para Maria Teresa, Santa Catarina voltou a buscar o mercado externo e está conseguindo resultados positivos com a exportação.

– Joinville, pontualmente, apresenta um movimento ainda tímido porque o mercado internacional se tornou maior, mas os custos (da sua matéria-prima) continuam menores para se comprar fora e, no momento, o preço de venda ainda não está tão competitivo no mercado externo. Isso mostra que as empresas da região voltaram sua política para ativar o mercado interno – afirma Maria Teresa.

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Na opinião das especialistas, é sempre importante manter a balança comercial positiva, mas o fato de Joinville registrar déficit não significa que o mercado local enfraqueceu. Conforme Carla Pinheiro, isso acontece porque a instabilidade cambial recente impacta diretamente nas relações comerciais com outros países e, consequentemente, abre caminhos mais promissores para vendas no mercado interno.

– Talvez (Joinville) esteja com um mercado consumidor diferente e, mesmo havendo esse déficit na balança comercial, nós temos algumas empresas dentro de Joinville que têm destaque por terem aumentado a sua exportação, e esse movimento é importante destacar – aponta Carla.

Olhar para o mercado interno

O desempenho das indústrias que têm base em Joinville passou por variações importantes desde o início dos anos 2000. Considerando a lista das empresas mais exportadoras e mais importadoras do País, entre 2001 e 2016, houve queda de representatividade da cidade na lista das 500 que mais exportam insumos e produtos. Em compensação, houve crescimento de duas para oito companhias entre as 500 que mais importam.

Cinco empresas da região estavam na lista das 500 mais exportadoras em 2001: Embraco (exportações acima de US$ 100 milhões); Tupy e Busscar (entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões); e Whirlpool e Döhler (entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões). Quinze anos depois, o cenário mudou bastante. A Busscar decretou falência e foi vendida em março deste ano para a Caio Induscar, que vai retomar a produção em Joinville.

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Das outras quatro empresas, duas continuam na lista das 500 mais exportadoras. Uma delas é a Tupy, que em 2016 exportou acima de US$ 100 milhões e pulou da 90ª para a 87ª posição no ranking. A outra é a Whirlpool, também com exportações acima dos US$ 100 milhões, e que passou da 111ª posição para a 102ª posição no ano passado.

Para a presidente do Núcleo de Negócios Internacionais da Acij, Carla Pinheiro, apesar de hoje a cidade contar com apenas duas companhias entre as 500 maiores exportadoras, Joinville registra aumento no número de empresas que buscam se inserir no mercado internacional. Além disso, há uma força-tarefa entre o Estado e entidades empresariais para promover o mercado de exportação.

– Empresas que antes não exportavam agora começam a exportar. Em 2015, muitas delas começaram a se preparar para entrar no mercado internacional por causa da crise, só que ainda é um movimento tímido, pois primeiro têm que fazer sua marca lá fora, ganhar confiança do mercado, dar continuidade ao atendimento e ter capacidade produtiva.

Em relação às importações, a presença joinvilense aumentou. Em 2001, eram duas na lista das 500 mais importadoras; hoje, oito estão no ranking, sendo quatro intermediárias (trading) de fabricantes e compradores nas operações de exportação ou de importação.

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A balança comercial

2001

Exportação: US$ 563,29 milhões

Importação: US$ 172,11 milhões

Saldo: US$ 391,18 milhões (superávit)

2016

Exportação: US$ 971,03 milhões

Importação: US$ 1,46 bilhão

Saldo: US$ 491,88 milhões (déficit)

1º semestre de 2016

Exportação: US$ 493,26 milhões

Importação: US$ 656.31 milhões

Saldo: US$ 163,05 milhões (déficit)

1º semestre de 2017

Exportação: US$ 519,22 milhões

Importação: US$ 799,65 milhões

Saldo: US$ 280,43 milhões (déficit)

Entre as 500 mais exportadoras do País em 2016

Empresas com base em Joinville

Tupy: Acima de US$ 100 milhões

Whirlpool: Acima de US$ 100 milhões

Entre as 500 mais importadoras do País em 2016

Empresas com base em Joinville

Ascensus Trading e Logística: Acima de US$ 100 milhões

Britânia: Acima de US$ 100 milhões

Copper Trading: Acima de US$ 100 milhões

Plasinco: Acima de US$ 100 milhões

Whirlpool: Acima de US$ 100 milhões

BMW: Entre US$ 50 e US$ 100 milhões

Mexichem (Amanco) Trading: Entre US$ 50 e US$ 100 milhões

Parter Trading: Entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões