Antes de chegar à reunião com os líderes comunitários do bairro Costa e Silva, na noite de segunda-feira, dia 20, chamou a atenção um amplo espaço arborizado que a comunidade usa para caminhadas e passeios.

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O local fica pertinho da sede da Associação de Moradores Florescer (Amoflor), onde ocorreu o encontro. Durante o bate-papo, veio a informação de que se trata do Parque Linear da rua Vice-prefeito Luiz Carlos Garcia, um dos vários pontos positivos do Costa e Silva citados pelas lideranças.

Ficou evidente o orgulho desses líderes com a atenção que os moradores em geral dispensam à preservação da natureza, que é abundante no bairro. E também a revolta com a falta de cuidado que uma pequena parcela de moradores – e de muitos vindos de outros bairros – tem com a nascente do rio Cachoeira na rua Rui Barbosa, onde ainda não se conseguiu combater o despejo de lixo.

A conversa então se concentrou nos cinco itens considerados de maior urgência pela comunidade do Costa e Silva e que estão relacionados com saúde, educação, segurança, mobilidade e lazer. (confira o pdf com a lista dos pedidos e compromissos). É consenso que existe uma demanda muito grande por melhorias na mobilidade.

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– Até poucos anos atrás, tínhamos um bairro tranquilo. Agora, o trânsito para – confirmam Adaime de Souza, presidente da Associação de Moradores Rui Barbosa, e Antônio de Oliveira, vice-presidente da Associação de Moradores Florescer, entre outros comentários que mostram a preocupação de todos na reunião misturada à irritação com a demora de obras tão necessárias como a da rua Almirante Jaceguai.

O crescimento do bairro está evidente no movimento e nos números: em 1980, tinha 11.398 moradores. Em 2013, segundo o Ippuj, são 29.112 habitantes. O prefeito Udo Döhler garante que a Prefeitura vai avançar no atendimento aos pedidos do Costa e Silva, e o secretário da Subprefeitura Centro-Norte, João Luiz Sdrigotti, destaca a valorização imobiliária do bairro alavancada pelo grande comércio, pelas indústrias e a comunidade, “que é organizada, unida e exigente”.

Horta comunitária é motivo de orgulho

O loteamento Parque Douat, no Costa e Silva, tem um projeto perfeito para quem gosta de agricultura e do contato com a natureza. Espalhada por mais de 14 mil metros quadrados, a horta comunitária – outro ponto positivo do bairro citado pelas lideranças comunitárias na reunião do dia 20/10 – se destaca pela organização, sustentabilidade, trabalho em equipe e consciência ambiental.

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O projeto existe desde 2002 e funciona em parceria com a Prefeitura e a Eletrosul. É neste espaço que nos últimos 12 anos os moradores plantam, cuidam e colhem mais de 30 toneladas de hortaliças, legumes e raízes por ano.

Com técnicas de cultivo totalmente livres de agrotóxicos, a horta comunitária tem garantido uma alimentação mais saudável para as mais de 50 famílias que participam e são beneficiadas pelo projeto. Elas plantam alface, repolho, cenoura, morango, aipim, feijão, milho e várias frutas. A maioria cultiva apenas para consumo próprio e alguns vendem mudas aos visitantes e na comunidade.

Lourenço Foss Joenk, coordenador do projeto e presidente da associação de moradores do loteamento, explica que todos os procedimentos adotados na plantação são planejados para garantir a sustentabilidade dos processos de cultivo, a começar pelo preparo da terra e da adubagem.

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– Já tem 12 anos que trabalhamos aqui e conseguimos otimizar nossa compostagem. Com isso, produzimos cada vez mais e com mais qualidade – explica.

O processo de compostagem é, realmente, digno de registro. Nada se perde, e o adubo produzido, além de fortalecer o plantio, gera o biofertilizante por meio do chorume.

– É tudo natural aqui e cada horta é preparada manualmente – destaca Lourenço.

Hoje, existe até uma fila de espera por um espaço no projeto. Bem diferente do começo, quando faltavam pessoas para adotar um pedacinho de terra. Por isso, alguns moradores acabaram esticando um pouco o abraço e ficando com mais hortas.

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– Agora, temos uma lista com 18 pessoas querendo juntar forças com a gente – afirma Lourenço, orgulhoso, enquanto exibe as quatro plantações de sua responsabilidade.

O exemplo da horta é passado adiante nas visitas de escolas públicas, que, com orientação dos agricultores, aprendem as melhores técnicas de cultivo sustentável e a importância da consciência ecológica.

Entre a consciência e o desrespeito

Saúde, educação, segurança, mobilidade e lazer são as principais reivindicações da comunidade do Costa e Silva na segunda reportagem da série lançada em setembro pelo “AN”.

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Há dois locais ligados à natureza no bairro Costa e Silva que provocam sentimentos bem diversos na comunidade. Um é o Parque Linear da rua Vice-prefeito Luiz Carlos Garcia: acolhedor e bem cuidado, é um convite às caminhadas que os moradores têm prazer em atender.

O outro espaço, mesmo sendo essencial para o futuro da cidade, é desrespeitado ao extremo. Ao redor da nascente do rio Cachoeira, no final da rua Rui Barbosa, moradores (locais e de outros bairros) jogam todo tipo de lixo.

Quem passa por este acesso à BR-101, no final da Rui Barbosa, se espanta com a

quantidade de entulhos jogados pertinho da nascente. A limpeza é feita com frequência, com auxílio da comunidade – em maio, por exemplo, foram retiradas cerca de 30 toneladas de lixo daquela área. Mas logo uma montanha de entulhos novamente se forma no local.

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Para a comunidade, o único jeito de acabar com esta vergonha é a Polícia Ambiental e a Fundema fazerem rondas mais frequentes. Segundo o líder comunitário Lourenço Foss Joenk, os infratores deveriam ser punidos com mais rigor.

Uma das esperanças dos moradores conscientes era o Parque da Nascente, um projeto do Fonplatam anunciado anos atrás. O prefeito Udo Döhler e o secretário João Luiz Sdrigotti informam que este projeto vai ser refeito, mas que medidas para dar fim à agressão ambiental na área vão ser tomadas.

* Colaborou Átila Froehlich