Quando Ernani Antônio de Oliveira decidiu, há cerca de um ano, que a cegueira não o impediria de dançar, o sonho dele na verdade era maior do que subir aos palcos. O que o movia era a oportunidade de viajar. Como parte do corpo de baile da companhia da Associação de Balé e Artes Fernanda Bianchini, a primeira viagem para fora de São Paulo foi ao Rio Grande do Sul em 2010.

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Na quarta-feira, o rapaz de 26 anos chegou a Joinville para dançar nos palcos abertos do Festival de Dança, mas não chegou a participar de nenhuma das três apresentações. Os outros 14 bailarinos fizeram a viagem de volta na sexta; ele, não. A pneumonia que causou sua morte no fim da tarde de terça-feira, no Hospital São José, já começara a se manifestar.

Ernani começou a praticar dança para poder viajar

Mesmo que sua morte pareça súbita, Ernani era mais forte do que se possa pensar. Há um ano e oito meses, ele passou por um transplante de rim e pâncreas no Hospital das Clínicas de São Paulo. A cirurgia foi necessária para sanar os danos de uma diabete hereditária que ele enfrentou desde menino e o deixou cego aos 15 anos. Soa triste, mas Ernani não o era, pelo contrário.

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– Apesar dos momentos difíceis, das internações constantes, ele gostava muito de viver. Queria muito. Era muito batalhador -, conta o pai de Ernani, Pedro Antônio de Oliveira.

Ao falar do filho, o garçom de 50 anos repete com frequência, inconscientemente, uma mesma palavra para descrevê-lo: “carismático”. Tanta dedicação o fez conquistar a vaga na companhia, conta a diretora da escola, Fernanda Bianchini. “Joinville era um sonho para ele, que até o fim falava de como estava feliz por estar no festival”, conta.

Na terça, o pai e a madrasta de Ernani, acompanhados secretária da associação, Elaine Rosa de Leitiis, andavam por Joinville para providenciar o sepultamento do rapaz. Será na quinta-feira, em São Bernardo do Campo (SP).

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Cansado, mas sereno, Pedro se dizia preocupado em como contar o ocorrido à filha Érica, de 20 anos. Internada em São Paulo também por causa da diabete, era muito apegada ao irmão. Não por menos.

– Era uma qualidade dele, ele era muito legal. Meu filho era bacaninha -, lembra, sorrindo.