Antes de iniciar as apresentações dos Palcos Abertos na Feira da Sapatilha do 29º Festival de Dança, um grupo de bailarinos da Associação de Ballet para Cegos Fernanda Bianchini caminhou por toda a extensão do palco e tateou as cortinas que o revestem.
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O reconhecimento do espaço foi mais que obrigatório, pois, no intervalo de sete anos que os bailarinos de São Paulo não vinham ao Festival de Dança de Joinville, muita coisa mudou. Com patrocínio garantido, a associação conseguiu retornar para o evento trazendo quatro números de pas de deux, sapateado e balé livre.
Como o festival ainda não conta com uma categoria para deficientes físicos, o grupo veio dar uma prova de como a dança pode transformar nos palcos alternativos da cidade. Essa transformação começa lá na idealização do projeto, quando a bailarina Fernanda Bianchini resolveu assumir a responsabilidade de passar os passos de balé como um estímulo de vida.
– Eu que sou bailarina desde pequena tive que começar do zero, aprender a ensinar meninas que não sabiam nem o que era balé – lembra. Fernanda, apesar de ter seus sentidos completos, também foi transformada nestes 15 anos à frente do projeto voluntário.
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Nesta sexta-feira, a Associação de Ballet para Cegos Fernanda Bianchini é o único grupo de dança profissional só para deficientes.
– Eles têm apresentações praticamente toda a semana e recebem cachê pelo trabalho – ressalta Fernanda.
Ao todo, a iniciativa conta com 70 alunos, que podem começar as atividades a partir dos três anos. Para Joinville, vieram 16, quatro deles videntes que auxiliam os demais companheiros em palco. Geyza Pereira, 25 anos, é a bailarina com mais experiência do grupo. Ele começou a dançar aos dez anos, um ano depois de ter perdido a visão.
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– Eu sempre tive a vontade de dançar, mas meu pai não tinha recursos e, além disso, morávamos no Sertão de Pernambuco, onde tudo era muito difícil – lembra.
Quando, enfim, conseguiu realizar o sonho de menina, a bailarina percebeu que esse era o antídoto para superar os problemas comuns a qualquer deficiente físico.
– Eu achava que não poderia fazer mais nada, mas a dança foi como uma terapia – recorda.
Tanto Geyza quanto Fernanda sentiram que o Festival de Dança está mais aberto às diferenças.
– Percebi que a inclusão está melhor – aponta a diretora.
– O palco e a coxia da Feira da Sapatilha estão maiores, mais acessíveis, e isso nos dá mais segurança – acrescenta Geyza.
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Informações acessíveis O que Geyza e Fernanda perceberam é, na verdade, uma das preocupações desta edição do Festival de Dança. Mais voltado para a acessibilidade, o evento traz, pela primeira vez, toda a programação e informações importantes em braile.
O material está disponível no Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, na Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior e na bilheteria do Centreventos. E antes dos espetáculos, todas as informações ganham uma versão em libras, que podem ser assistidas pelos telões do Centreventos.
Os integrantes da Associação de Ballet para Cegos Fernanda Bianchini ficam em Joinville até domingo. O grupo também se apresentará no Palco Aberto do Shopping Cidade das Flores. Para conhecer mais sobre iniciativa de superação, acesse www.ciafernandabianchini.org.br .
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