O vento sobre as dunas carrega a areia e molda suas formas. Ao rumor do ar em atrito com os pequenos grãos, ele esculpe, talha, plana, arranha. Então, cessa. Acalma. Cede seu lugar de senhor do deserto para homens munidos com grandes óculos, camisetas e bermudas largas sobre uma prancha de madeira e fórmica. Serão eles a riscar o dorso dos morros de areia e marcá-los com seus saltos. O sandboard irá desenhar curvas até que o vento as apague.
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Se os rabiscos do sandboard começaram na Califórnia (EUA), foi nas areias de Florianópolis que viraram obra de arte sob os pés dos primeiros praticantes. Diogo Lazzaretti lembra do dia que um americano, instrutor de snowboard disse que estavam descendo as dunas da Califórnia durante o Verão com a prancha de deslizar sobre a neve. O americano deixou o equipamento para os amigos em Florianópolis e logo os catarinenses começaram a se divertir, pouco depois fariam da cidade o lugar onde o esporte evoluiu.
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– Nós já descíamos com tudo, até que percebemos que a fórmica deslizava muito melhor. Ainda testamos chapas de aço-inox, alumínio, pvc, mas nada era como a fórmica. Então, começamos a construir as nossas pranchas – lembra Lazzaretti que na época tinha 15 anos.
Logo as dunas da Joaquina, Ingleses, Santinho tinham novos habitantes. No fim de tarde se reuniam para descer em ziguezague pela areia. Skatistas, surfistas agora também eram sandborders e exploravam mais uma das atribuições da Ilha de Santa Catarina.
A prática leva ao aperfeiçoamento e à reinvenção. Depois de escolherem pela fórmica, eles se voltaram para as manobras e também passaram a testar novos meios de prender os pés à prancha. Primeiro presilhas comuns para os tênis até que conseguiram adaptar os suportes do snowboard às pranchas de sand.
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Com mais firmeza na base, os brasileiros se tornaram destaque nas provas que envolviam manobras após um salto. Duda Mesquita foi o primeiro a realizar um frontflip (cambalhota para frente), mas seria Digiácomo Dias a completar algo ainda mais difícil.
A sintonia dos esportistas com as dunas foi tão grande que o esporte facilmente se desenvolveu. Na metade de década de 1990, o sandboard chegou ao seu auge nas dunas de Florianópolis com a realização de campeonatos. Os catarinenses eram reconhecidos por suas habilidades e eram convidados para apresentações em outros estados. Duda Mesquista e Diogo Lazzareti também integravam uma equipe que recebia equipamentos para praticar o esporte.
– Tudo aconteceu de forma natural e muito rápida. Foi meio que uma loucura essa velocidade. Uma brincadeira que se tornou um esporte muito forte – avalia Lazzaretti.
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Impulsionado pela paixão daqueles que começaram 10 anos antes, Digiácomo Dias aproveitou o momento e se lançou em campeonato maiores. Em 2001 sagrou-se campeão mundial na modalidade Big Air (de manobras) com um inédito duplo frontflip.
– Eu estava criando um monstrinho ali nas dunas e nem sabia – lembra Mesquita sobre o início da carreira de Digiácomo.
O catarinense ainda comemorou outros três títulos mundiais (2003, 2005 e 2012). Mesmo com a referência perto de casa, o esporte perdeu força nas areias catarinenses. O que se perpetuou foi a paixão moldada pelas dunas e ligada à natureza.
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– Quando o sandboard surgiu em Florianópolis se criou uma nova cultura, um novo estilo de vida, que passou a viver a mesma natureza das dunas sob outra perspectiva. Importante é ter isso dentro da gente – conta Mesquita.