Equilíbrio. Quando que realmente se está em pé na vida? Firme diante o mundo e suas forças físicas e matemáticas, seguro entre nuvens de pensamentos, expectativas, dores e amores. Qualquer passo à frente gera vibrações que estremecem a base e entortam o corpo. A fita, antes parada, balança assim que o peso recai sobre suas fibras. Ela tem 2,5 centímetros de largura, mas será sólida ou instável de acordo com a intensidade da presença de quem caminha. No highline, o equilíbrio se encontra no desafio de mais um passo.

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Um estalo forte ressoa no ar calmo do fim de tarde na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Vinícius Goulart, praticante do esporte há dois anos, cai da fita e fica suspenso apenas pelo cabo de segurança, a 15 metros de altura do solo, na imensidão do horizonte.

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Junto com ele, mais dois amigos e colegas de esporte: o mineiro Henrique Brasil, que trabalha como alpinista industrial, e Rafel Bridi, highliner catarinense e uma das referências nacionais da técnica de andar nas alturas.

Eles e os demais apaixonados pelo highline, esporte que ganha adeptos pelo Estado e movimenta comunidades para desenvolver a prática, encaram as quedas como mais um passo na busca pelo equilíbrio.

– O equilíbrio existe em poucos momentos da sua vida e ele surge quando nos encontramos em algo especial. São momentos raros mas que marcam nossa vida – ressalta Goulart.

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As semelhanças com a vida, lutando por equilíbrio entre uma queda e outro passo, tranformam a prática em um exercício que supera os aspectos físicos de força e técnica.

– Todos desejam chegar a algum objetivo. Mas não basta só querer, tem que dar um passo de cada vez. Nos dias normais também é assim – compara Rafael Bridi.

OS PRIMEIRO PASSOS

A imensidão da altura pode motivar, mas só com ela não se aprende a caminhar. Até chegar ao equilíbrio é preciso evoluir e o primeiro passo é o conhecimento.

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No highline, para garantir a segurança é importante entender sobre as técnicas de como prender o sistema de cordas e fita que serão a base para a prática do esporte, a chamada “ancoragem”. Também se deve prestar atenção aos equipamentos e saber dar os nós certos. Ninguém fica em pé sozinho e o trabalho precisa ser feito em grupo.

A troca de experiências ajuda a saber melhor sobre o tipo de pedra onde são presos os grampos, formas para esticar a fita com segurança e força adequada, o melhor jeito de montar um sistema de segurança com corda e ancoragem independentes.

Bridi buscou aprender com outros highliners até se sentir seguro para montar o primeiro em Florianópolis, junto com Henrique Brasil, no dia 13 de abril de 2013, em um dos costões da praia da Lagoinha do Leste. Ainda assim, o medo permanece, mas sem pavor.

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– O medo está sempre presente. Ele é parceiro da adrenalina. Acho que não faríamos highline se não quiséssemos essa sensação. Mas não é só isso. A gente tem todo um estudo, um desenvolvimento das técnicas para garantir a segurança. E o medo, aquele ruim que desespera, diminui. Se fortalece aquele sentimento gostoso de adrenalina – explica Bridi.

NO TOPO DO MORRO

Para montar o highline em um dos morros que cercam a Lagoa da Conceição, já próximo da praia da Joaquina, Rafael Bridi, Vinícius Goulart e Henrique Brasil levaram 40 minutos de trabalho. Antes, foi quase uma hora de caminhada pela mata, arranhando as pernas descobertas nos gravatás espinhentos. O caminho avança na crista do morro e encanta pela beleza das águas emolduradas pelos costões e o verde da mata.

Ao chegar no local marcado, primeiro se esvaziam as mochilas: cordas, a fita na qual eles caminharão, mais cordas, polias, ganchos. Um pequeno vale separa os dois pontos mais elevados do morro. Entre esses dois pontos a distância é de 62 metros.

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No lado de melhor acesso, será montado o sistema de polias que irá dar a tensão da fita. No outro será preciso escalar uma pedra para prender em seu topo a fita e a corda do sistema de segurança.

TUDO SOBRE A MESMA LINHA

No alto do morro são aproximadamente 250 metros de altitude.Cabo de segurança preso na cadeirinha que veste o quadril. Pés descalços sobre a pedra morna que recebe os raios já âmbares do sol que se encaminha para o poente. As mãos sobre a fita e em um impulso Goulart está sentado com as pernas balançado livres no ar. Em seguida, encaixa os pés e se levanta ereto para exercer seu peso verticalmente sobre a fita que balança a 15 metros de altura do solo (um prédio de 5 andares) . Uma queda, duas quedas, diversos sorrisos.

– Dar o passo. Isso é highline, querer dar um passo e acreditar nele. É sentir-se ali, é você, é o seu peso – afirma Goulart.

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Bridi e Brasil vão na sequência. O primeiro, mais experiente, caminha como se estivesse sobre um meio-fio à beira da calçada em uma rua da infância. Ao brincar de balanço, forçando a fita com seu próprio peso, oscila dois metros para cima e para baixo e confunde o observador: será ele ou o morro ao fundo que se move?

Henrique Brasil, o último, coloca a mão sobre a testa para cobrir o sol e enxergar toda a extensão da fita. Diante dele estão a linha, altura, medo, coragem, luz, concentração e o seu prazer de estar ali na busca de algo que deseja para a vida.

– O prazer não é apenas atravessar a fita. É viver e entender esse estado de equilíbrio.