Marcelo Marcondes Galizio nasceu em Florianópolis, tem 28 anos e trabalha descendo cachoeiras de caiaque. Diante de uma queda d’água ou de uma corredeira, Galizio enxerga muito mais do que a água explodindo sobre as pedras e ouve mais que o turbilhão que surge quando o rio se espreme em um desfiladeiro.
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Ele vê pedras submersas, ouve o ruído mais fino do estalo de qualquer cascata, percebe onde há uma caverna e sabe dizer onde a água, que despenca de 27 metros de altura, retorna a superfície formando bolhas. Marcelo Marcondes Galizio enxerga a sua realização.
Entender o que ele sente dentro do seu caiaque, alternando remadas cada vez mais perto do limite entre o horizontal e vertical até se incorporar à cachoeira, é um exercício de imaginação, restrito a quem pratica caiaque extremo.
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– O prazer está em fazer isso bem feito e sobreviver para continuar fazendo. É uma questão pessoal de vencer os meus limites e puxar os limites do esporte. Há uma adrenalina especial que se sente durante esse momento. Uma total concentração naquilo que se faz – explica Galizio.
A paixão pelo caiaque surgiu quando Marcelo foi fazer um curso de primeiros socorros no Rio Cubatão, em Santo Amaro da Imperatriz. Durante a atividade, conheceu o caiaque e já deu as primeiras remadas. A identificação com o esporte cresceu e, como sempre gostou de algo mais radical, uniu no caiaque extremo diversos prazeres.
– O caiaque envolve aspectos de outros esportes que eu gosto. Trilhas, primeiros socorros, lidar com equipamentos específicos, técnicas de cordas e estar em meio a natureza – avalia Galizio que antes fazia rapel em cachoeiras.
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Ele trocou as cordas pelo caiaque, mas continuou na procura das cachoeiras perfeitas.
– É como procurar por um lugar especial. Onde acabo também me encontrando. Estou perto da natureza, do barulho do rio e da cachoeira. Ainda hoje, o que mais gosto é de dormir no rio. Vamos em equipe, que no fim é um grupo de amigos, e seguimos remando. Ao fim da tarde montamos o acampamento e fazemos nossa própria comida. Aquela roupa seca gostosa – lembra com um sorriso no rosto.
Mais que coragem, técnica
Galizio está acostumado a ser chamado de louco. Mas ressalta que há muitas coisas por trás do fato de remar cachoeiras e corredeiras abaixo. Há técnica, estudos, e também medo.
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– Sinto bastante medo e isso é bom para prestar atenção aos movimentos que tenho que fazer e o riscos que corro. A diferença de um principiante para quem está treinado é como lidar com esse medo. Mas há uma análise profunda da ação e então as coisas dão certo.
Antes de descer alguma cachoeira, ele faz pesquisas, conversa com quem já conhece o lugar. Passa horas analisando a água correndo pelas pedras e observa todos os detalhes de como a água pode guiar seu caiaque.
– Cada cachoeira é um quebra-cabeça diferente que tenho que montar. Depois é preciso se imaginar dentro dele. Traçar linha de descida e todas as possibilidades que podem ocorrer. Prever os erros para saber como corrigir. Então me sinto seguro. Quando estou no caiaque, já estou completamente focado e só executando aquilo que planejei.
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Então, Marcelo Galizio rema.