No primeiro semestre deste ano, seis empresas joinvilenses entraram com pedido de recuperação judicial para tentar superar a crise financeira e evitar um possível processo de falência das companhias. O número já supera o registrado de janeiro a dezembro de 2016, quando cinco empresas entraram com o pedido na Justiça.

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O total de pedidos no semestre também é três vezes maior quando comparado ao mesmo período do ano passado, quando apenas duas empresas solicitaram recuperação judicial. Somente em Joinville, de 2012 até junho deste ano, 36 empresas fizeram o pedido de recuperação e a Justiça deferiu – autorizou a abertura de processo – 24 solicitações, mas concedeu apenas 12.

O levantamento da Serasa Experian mostra também que 33 companhias da cidade decretaram falência nesse período. Apesar do crescimento registrado em 2017, provocado pela dificuldade das empresas de Joinville em vencer a recessão econômica, entre 2015 e 2016 houve queda de 61,5% nos pedidos de recuperação judicial na cidade.

Segundo dados da Serasa Experian, no auge da crise, há dois anos, 13 companhias estavam nesta situação; no ano passado, o número caiu para cinco. A solicitação é feita em juízo, de acordo com a lei 11.101/2005, e tem o objetivo de preservar as atividades produtivas e econômicas de empresas que enfrentam crises financeiras e passam dificuldade para honrar dívidas com credores.

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Se aprovado o pedido, a empresa deve seguir um plano de recuperação em até dois anos depois do aceite judicial. Caso descumpra as obrigações previstas no acordo, a companhia pode ter a falência decretada. Autor do livro Recuperação Judicial de Empresas Médias e Pequenas: Guia Prático para o Credor e o Devedor, o especialista Júlio Cesar Teixeira de Siqueira destaca que o aumento no número de pedidos de recuperação judicial nos últimos anos se deve aos reflexos da crise econômica.

Segundo ele, a alternativa é buscada por empresas que já não conseguem quitar dívidas e desejam reconquistar a confiança do mercado.

Dificuldades atingem as grandes

Entre as empresas de grande porte que passaram ou que passam pelo processo de recuperação judicial estão a Busscar, que já foi a segunda maior fabricante de carrocerias de ônibus do Brasil e teve falência decretada em 2012, e a Wetzel S.A., ainda com o processo em andamento e referência no País nos segmentos automotivo, de eletroferragem e instalações elétricas.

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A Wetzel entrou com o pedido no ano passado e teve o plano de recuperação aprovado pelos credores no dia 13 de junho. Também se destacam os casos da Douat Têxtil e da Metalúrgica Duque, que chegou a ter falência decretada judicialmente em 2015, mas a sentença acabou sendo anulada pelo Tribunal de Justiça de SC em fevereiro de 2016.

Hoje em processo de recuperação judicial, a Duque busca emplacar um novo plano. Para o administrador judicial da Wetzel e da Duque, Agenor Daufenbach Júnior, as condições econômicas atuais do Brasil dificultam o cumprimento dos planos de recuperação das empresas.

Além das duas companhias, a Glaudius Consultoria, na qual ele é sócio, administra outros quatro processos de recuperação em Joinville: Manchester Logística Integrada/Manchester Empreendimentos Imobiliários; Indústria de Máquinas Eldorado; Juane Alimentos e Bebidas/Congevin Alimentos e Bebidas; e Athletic Way Comércio de Equipamentos para Ginástica e Fisioterapia.

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– A situação econômica dificulta o quadro de recuperação dessas empresas. No caso da Duque, ela tenta cumprir o acordo e evitar a falência, mas está enfrentando muita dificuldade – diz.

O administrador judicial da Douat, Rogério Dantas, foi procurado para falar da situação da empresa, mas até esta quarta-feira não havia retornado às solicitações.

Nova Busscar prepara retomada

O parque fabril da Busscar Ônibus, que foi uma das líderes nacionais na fabricação de carrocerias de ônibus no Brasil e teve a falência decretada em 2012, com dívidas superiores a R$ 1,6 bilhão, será reativado no ano que vem. É que os bens da massa falida foram arrematados em leilão por um grupo de investidores, dentre eles, sócios da Caio Induscar, que prometeu investir mais de R$ 100 milhões na retomada da produção de ônibus rodoviários na cidade.

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A nova Busscar já começou a selecionar trabalhadores em Joinville, cujas vagas devem ser preenchidas conforme a necessidade apontada pelas análises que estão sendo feitas pela arrematante. Ainda não há data certa para o início das atividades na fábrica. Segundo Maurício Lourenço da Cunha, um dos investidores da empresa, foi comprada parte dos ativos da massa falida, mas não assumiu as dívidas da Busscar.

– O pagamento das dívidas da Busscar será realizado em juízo, mediante análise e autorização da 5ª Vara Cível de Joinville – diz.

O Instituto Professor Rainoldo Uessler, administrador judicial da massa falida da Busscar, contabiliza que cerca de 6 mil credores ainda têm valores a receber. Os pagamentos dependem da consolidação, na Justiça, dos processos de venda e transferências dos bens da massa falida, além de impugnações de crédito pendentes.

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Duque descumpre acordo

Os obstáculos da Duque S.A. se intensificaram há cerca de dois meses, quando a empresa não conseguiu pagar a primeira parcela do total de 36 dos credores trabalhistas, estimada em, no mínimo, R$ 195 mil. O valor pagaria parte da dívida trabalhista da companhia, que já passa de R$ 30 milhões.

Outros dois pontos do acordo atual foram descumpridos: não foram vendidos maquinários e equipamentos inservíveis e não houve desmembramento da matrícula 54.524 – referente ao parque fabril instalado e ocioso em Joinville. A dificuldade em cumprir o plano de recuperação judicial é confirmada por Nelson Friedmann, representante da Duque.

Segundo ele, uma petição foi feita no dia 16 de junho para esclarecimentos e a possibilidade de apresentação de um novo plano de reestruturação aos credores. O pedido foi realizado em razão da ¿dificuldade econômica pelo qual o País está passando e o que acaba prejudicando a execução do plano de recuperação da companhia¿.

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O administrador judicial protocolou, no dia 1º, o parecer referente aos pedidos e esclarecimentos realizados pela empresa. Ele discordou da possibilidade de aquisição de ativos imobiliários e das estruturas industriais por outra companhia, conforme proposto na petição. Além disso, o administrador pede novo leilão para a alienação de um imóvel da Duque.

Wetzel tenta se reerguer

Em processo mais recente, a Wetzel tenta se recuperar e sanar dívidas de cerca de R$ 90,8 milhões. Fundada na década de 1930, a companhia é uma das mais tradicionais de Joinville e entrou com o pedido de recuperação no ano passado por causa da queda nos volumes de produção na indústria automobilística, de fundição e no setor de instalações elétricas.

Além disso, constam no pedido o aumento da necessidade de capital de giro e o alto custo das fontes de financiamento.Conforme Agenor Daufenbach Júnior, apesar da dívida milionária, a empresa está cumprindo o que foi proposto e apresenta boas perspectivas de reestruturação.

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A empresa diz que ainda não há perspectiva de retomada de crescimento neste ano, mas a expectativa é de que haja retorno de crescimento nos mercados de atuação da companhia a partir de 2018. A Wetzel informa ainda que na unidade de eletrotécnica existe a possibilidade de crescimento no curto prazo com a atualização tecnológica que ocorre no setor de iluminação a LED.

De acordo com Márcia Hermann, diretora de relacionamento com investidores da Wetzel, as linhas de crédito com bancos ¿sumiram¿ devido à recuperação judicial pela qual a empresa passa, mas houve migração para os fundos de investimento em direitos creditórios e um processo de reconquista de fornecedores.

— A reação (do mercado) vem sendo muito boa e nossos executivos vêm sendo chamados pelo staff dos principais clientes para discutir novos projetos. Essa situação não ocorria desde nosso pedido de recuperação judicial.

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