“Avião sem asa, fogueira sem brasa, sou eu assim sem você”. Parece meio trash começar esse texto com uma música de autoria de Cacá Moraes e Abdullah , mas você vai entender em algumas poucas linhas. A letra, famosa por ter sido hit de Claudinho e Buchecha nos anos 1990 na época do verdadeiro funk brasileiro faz referência às coisas que sem que estejam aliadas a outras não fazem sentido. “Circo sem palhaço”, ou “namoro sem amasso”, enfim.
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No sábado, às vésperas da partida entre Metropolitano e Maringá pela terceira rodada da Série D, fiquei sabendo que os torcedores não teriam como entrar com seus rádios de pilha – algo que já se imaginava que poderia acontecer – e que a organizada do Metrô não poderia levar a sua tradicional charanga para as arquibancadas do Sesi. Achei que poderia ser brincadeira. Mas não era. Um soco no rosto dos amantes do esporte que provavelmente está doendo até agora.
A impunidade e a incompetência em encontrar culpados por erros que trazem prejuízos nos trazem regras completamente desnecessárias, que acabam por punir as pessoas que nada têm a ver com determinadas situações. É um contrassenso que surge como um caminho rápido e fácil para resolver a ineficiência e encontrar “soluções” (enalteçam-se as aspas). O que é mais fácil, achar os bandidos travestidos de torcedores e colocá-los atrás das grades, ou impedir que o torcedor faça o seu batuque? Acertou quem marcou a segunda opção
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Um criminoso leva uma bomba caseira ao Heriberto Hülse que explode na mão de um torcedor. Resultado: todas as torcidas organizadas pagam o pato. Um criminoso acerta um artefato e mata um boliviano em uma partida da Libertadores. Resultado: pirotecnia é proibida nos estádios. Um bando de criminosos entra em confronto às vésperas de clássicos. Resultado: torcida única.
Percebe? As “soluções” encontradas são superficiais e não resolvem definitivamente o problema. É aquela velha história do “que tal proibirmos as pessoas de utilizarem seus veículos para anularmos as mortes no trânsito?”. Não se corta o motivo real dos problemas pela raiz e criam-se normas toscas. O que a charanga de uma torcida, a alegria que ela traz às arquibancadas, tem a ver com a violência no futebol? O que o ‘radinho’ tem a ver com a violência no futebol? Existem coisas que são peculiares do esporte aqui no Brasil e não adianta querer destruir isso. É cultural.
Vamos acabar com os hot-dogs nos estádios de beisebol dos Estados Unidos? Vamos acabar com as bandas argentinas, suas murgas e trompetes? Vamos acabar com as danças das torcidas africanas e seus trajes típicos em partidas de Copa do Mundo? Vamos acabar com os espetaculares mosaicos europeus? Estão vendo, são coisas que não fazem sentido e parecem querer acabar com uma coisa: o futebol.
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Tirar do torcedor a oportunidade de ouvir o jogo na sua estação de rádio preferida e de cantar com a charanga as músicas que enalteçam o seu clube do coração, para o brasileiro, é como tirar a bola do futebol com o argumento de que ela pode atingir e ferir alguma pessoa na arquibancada. Não faz sentido. Mas se isso acontecer, a música de Claudinho e Buchecha estará certa. “Futebol sem bola […] sou eu assim sem você”./