O atraso no pagamento do salário dos funcionários da empresa Nossa Senhora da Glória, responsável por cerca de 65% do transporte coletivo em Blumenau, é novamente motivo para uma paralisação nas linhas de ônibus da cidade. Em nota divulgada neste domingo de manhã, o Sindicato dos Empregados nas Empresas Permissionárias no Transporte Coletivo Urbano de Blumenau (Sindetranscol) confirmou a paralisação dos funcionários da empresa nesta segunda-feira à partir das 3h.

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– Estamos em estado de greve por conta da insegurança constante. A empresa deveria ter depositado o pagamento na sexta-feira para cair na conta dos funcionários até sábado, o que não aconteceu. As outras duas (Rodovel e Verde Vale) pagaram em dia, como a Glória não pagou vamos parar – explicou o presidente do Sindetranscol, Ari Germer.

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De acordo com o sindicato, somente os funcionários da Glória devem cruzar os braços, mas alguns trabalhadores das outras empresas podem entrar na paralisação em solidariedade. O trabalho deve voltar ao normal somente após o pagamento do salário. Nos últimos quatro meses, somente em outubro não houve paralisação no transporte público na cidade.

>>> Leia o comunicado do sindicato a respeito da paralisação

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Em nota divulgada pela Gloria em resposta ao comunicado do sindicato, a empresa afirmou que, por não ter recursos para o pagamento completo, ofereceu aos funcionários uma proposta de pagamento parcelado. A situação, de acordo com a empresa, deve-se a um histórico de atrasos na remuneração do serviço por conta do poder público e reajustes insuficientes, que teriam causado um prejuízo de cerca de R$ 3,5 milhões nos cofres da Glória nos últimos nove meses.

De acordo com Humberto Sackl, o Betinho, um dos administradores da Glória, a empresa pede uma compensação entre os valores de cada uma das três partes do Consórcio Siga. Nos cálculos da empresa, a tarifa de ônibus individualizada seria de R$ 3,56 para a Glória, R$ 3,17 para a Rodovel e R$ 3,20 para a Verde Vale. Assim, com a tarifa em R$ 3,30, a Glória trabalha em déficit, enquanto as outras empresas cobrem as despesas e têm margem de lucro. Segundo Betinho, o valor para a Glória é maior pelos custos da empresa com linhas de baixa demanda de passageiros.

Segundo o gerente do Consórcio Siga, Waldomir Perini, a câmara de compensação já existe e realiza a divisão do dinheiro entre as empresas, a partir do cálculo unificado realizado pelo Seterb.

Confira a nota de esclarecimento enviada pela empresa:

A Empresa Nossa Senhora da Glória Ltda., empresa de tradição no ramo de transporte coletivo e líder do Consócio SIGA, a respeito do comunicado de paralisação publicado pelo Sindicato dos Empregados nas Empresas Permissionárias no Transporte Coletivo Urbano de Blumenau, que anuncia a paralisação do serviço de transporte coletivo a partir das 03h00min do dia 09 de novembro de 2015, vem a público esclarecer o que segue:

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1. Compelida pela ausência de recursos para saldar as despesas com pessoal, a empresa encaminhou ao Sindicato da categoria, com cópia para a Câmara Técnica criada por ato do senhor Prefeito Municipal, uma proposta de pagamento parcelado dos salários, condicionada à manutenção regular da prestação dos serviços.

2. A crise real – e admita pelo próprio Sindicato – pela qual passa o sistema de transporte coletivo no Município de Blumenau, que impede a empresa líder de honrar pontualmente as despesas de pessoal, tem origem e se alimenta de causas bem conhecidas.

3. A primeira causa é a notória falta de remuneração do serviço. O fato já foi comunicado pelo Consórcio SIGA ao Poder Público por diversas vezes, e é conhecido pelo menos desde o ano de 2011, quando empresa de Consultoria contratada pelo próprio Poder Público, depois de examinar os primeiros cinco anos da concessão, foi enfática ao afirmar que o Poder Público não vinha cumprindo o contrato de concessão, apontando um prejuízo, naquela época, superior a R$ 40 milhões.

4. A segunda causa é a falta de distribuição equitativa dos recursos que são notoriamente insuficientes. Segundo cálculos efetuados pelo próprio Poder Público, a tarifa necessária para cobrir os custos da empresa líder, calculado em janeiro deste ano, é de R$ 3,56. Por outro lado, a tarifa calculada para as demais empresas permite que elas cubram os seus custos, e tenham lucro com a operação.

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5. Apenas para que se tenha uma ideia do desequilíbrio causado pela ausência de uma câmara de compensação, nos últimos nove meses a Empresa Nossa Senhora da Glória Ltda. amargou um prejuízo de R$3.526.377,97. Este recurso, que deveria ter ingressado nos cofres da empresa, lhe permitiria pelo menos honrar com as despesas de pessoal.

6. A empresa líder confia no bom senso de seus colaboradores e pede que sua proposta seja aceita. Confia também no Poder Público, esperando que a efetiva implantação da câmara de compensação seja feita imediatamente, como determina o decreto do Prefeito Municipal. Confia, também, que as medidas de incremento da remuneração, sem aumento de tarifa, sejam enfim consideradas, como meio de superar a crise no sistema de transporte coletivo de Blumenau .