As cenas de barbárie na madrugada de terça-feira na praça Almirante Tamandaré, em Balneário Camboriú, impressionaram pela violência e pela ousadia do grupo que atirou garrafas contra guardas e policiais militares. Mas para muita gente a única novidade do quebra-quebra foi a proporção que ele tomou. Consumo excessivo de álcool, presença constante de usuários de drogas e pequenas confusões aparecem na maioria dos relatos de quem trabalha na região e descreve o cotidiano do local. Diante do sentimento generalizado de insegurança, todos preferem manter o anonimato.
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É consenso entre os comerciantes os abusos em relação a bebidas alcoólicas, grande parte cometida por menores de idade. Embora seja proibida a venda para quem tem menos de 18 anos, amigos maiores de idade acabam comprando os produtos e repassando aos mais jovens.
– A gente sabe que isso acontece, mas não tem como controlar na venda. A fiscalização do consumo é que deveria ser melhor, mas falta policiamento aqui – diz a dona de um comércio na avenida Atlântica.
– Sempre tem gente bebendo e usando droga, incluindo adolescente, e ninguém faz nada. Quase todo dia tem uma briga entre dois ou três, a polícia chega, aparta e vai embora. Já é comum pra gente – revela o funcionário de um restaurante na beira-mar.
Policiamento
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Quem trabalha na areia da praia tem uma visão privilegiada do que acontece na praça, e o cenário geralmente é de confusão depois da meia-noite, segundo alguns comerciantes. Um deles passa praticamente a madrugada inteira nas proximidades da Tamandaré e garante que a situação está fora de controle.
– Aquela imagem turística de Balneário Camboriú durante o dia some quando chega a noite. Aqui virou um ponto de encontro de bêbados e drogados, que de vez em quando ainda arranjam confusão – afirma.
A falta de ação policial também é recorrente nos comentários sobre a realidade da praça, mesmo com o posto da guarda municipal instalado no local.
– A gente vê os guardas mais dentro do que fora do posto, isso quando estão por aqui. E a Polícia Militar aparece uma vez ou outra, mas nunca fica pra dar apoio. Só na terça-feira que tava cheio de policial, por causa da confusão da madrugada – diz um senhor que trabalha em um dos prédios das redondezas.
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– Não sei se tem pouco efetivo ou se guarda e polícia não se entendem muito bem, mas eu acho que eles deveriam trabalhar de forma conjunta pra melhorar nossa segurança. O medo vem crescendo a cada dia aqui – acrescenta o funcionário de um ponto comercial na orla da praia Central.
Nova praça, problemas antigos
Para os trabalhadores a revitalização da Almirante Tamandaré, que terminou no fim do ano passado, não tem influência nas confusões registradas no local. A maioria acredita apenas que as mudanças na estrutura física deixaram a configuração da praça mais aberta, e com isso os problemas que são antigos se tornaram mais visíveis. Os transtornos, porém, não são de hoje.
– Acho que antes era menos iluminado, era um pouco mais fechado e as pessoas bebiam e se drogavam um pouco mais escondidas. Agora está mais fácil de perceber – considera a dona de uma loja na avenida Atlântica.
Outros avaliam que a infraestrutura de Balneário Camboriú em geral não foi planejada para o crescimento do município, o que agora estaria se refletindo na violência crescente.
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– Revitalizaram a praça, ela ficou mais bonita e mais atraente. Mas não tem estrutura e policial o suficiente para o número de pessoas que frequenta o lugar. Tenho medo que quando os policiais que vieram para o verão forem embora a situação piore muito – argumenta a proprietária de um comércio de bebidas.
Praça é ponto estratégico da segurança, diz PM
Comandante da PM de Balneário Camboriú, o tenente-coronel Marcello Martinez Hipólito diz que a praça Almirante Tamandaré é, ao lado do Pontal Norte e da avenida Central, um dos principais pontos de preocupação no município. Ele garante que mesmo com os guardas municipais atuando no local, a polícia sempre presta apoio e é presença constante na região.
– A praça é um ponto estratégico e é importante que a polícia esteja presente, além da guarda. E temos estado presentes – afirma, garantindo que não há qualquer tipo de rixa entre PM e Guarda Municipal:
– Temos problemas pontuais como existe em qualquer relação, mas sempre trabalhamos em parceria.
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Sobre os problemas envolvendo principalmente as bebidas alcoólicas e as dificuldades de fiscalização, o tenente-coronel aponta que um caminho possível seria a proibição do consumo em vias públicas.
– No primeiro mundo em geral isso é comum, aqui em Santa Catarina já temos o exemplo de Jaraguá do Sul. Não é proibir a bebida, é proibir beber em lugar público, porque aí muda de figura. Permitindo o consumo só em locais privados se tem uma vigilância responsável, porque senão o próprio dono do estabelecimento pode ser responsabilizado por algum problema – explica.
A reportagem do Sol Diário tentou entrar em contato com o secretário de Segurança de Balneário, Dão Koeddermann, mas não houve retorno até a noite desta quarta-feira.