Suspeito de participar do esquema que facilitaria a transferência de pacientes em tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o atendimento prioritário, o assessor parlamentar Sérgio Samuel foi exonerado de seu cargo na Assembleia Legislativa estadual (Alesc). Ele trabalhava com o deputado estadual Altair Guidi (PPS) e se encontra detido desde segunda-feira no Presídio Santa Augusta, em Criciúma, no Sul de SC.

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O esquema foi desarticulado pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco). A prisão de Samuel nesta semana foi a primeira da Operação Hígia, que investiga fraudes no sistema público de saúde principalmente no Sul de Santa Catarina. Como a investigação segue em sigilo, a suposta função do assessor parlamentar no arranjo não foi divulgada.

O objetivo do esquema era agilizar o agendamento de cirurgias de alta complexidade – especialmente cardíacas e de redução de estômago. A polícia e o Ministério Público (MP-SC) acreditam que cada paciente pagasse de R$ 5 mil a R$ 10 mil, em média, para burlar a fila de espera do Sistema de Regulação Estadual (Sisreg) da Superintendência de Serviços Especializados e Regulação. Os procedimentos cirúrgicos foram feitos tanto em hospitais catarinenses quanto fora do Estado.

Segundo a promotora de justiça Cristine Angulski da Luz, da 2ª Promotoria de Araranguá, a investigação aponta ainda que não apenas os responsáveis pela negociação recebessem parte do pagamento, mas também os próprios médicos que faziam as cirurgias.

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Acredita-se que pessoas ligadas à administração municipal de Araranguá também estejam envolvidos na prática. Na segunda-feira, o Gaeco fez buscas em escritórios da Câmara de Vereadores da cidade. O nome dos suspeitos não foi divulgado.

– É uma rede que envolve muita gente. Pacientes que pagaram para burlar a fila também podem ser penalizados – reforça a promotora.

Assessor lidava diretamente com pacientes

O deputado Altair Guidi conta que as funções de Sérgio Samuel na assembleia eram diversas, de “acompanhamento de pacientes a motorista”. No perfil do Facebook do assessor, imagens o mostram com pacientes ou visitando pessoas que acabaram de passar por cirurgias.

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Samuel trabalhava com Guidi há pelo menos cinco anos. O parlamentar afirma jamais ter desconfiado de nenhum tipo de atividade ilegal do assessor nem saber como o esquema funcionava. Guidi também diz que não entrou mais em contato com Samuel após a prisão dele, na segunda-feira.

– Levei um susto, trabalho com ele há bastante tempo e não imaginava que algo assim pudesse estar acontecendo.

Samuel é representado pelo advogado Randerson Peruchi Ribeiro. O advogado foi localizado pela reportagem e afirma que acompanhou o depoimento do cliente na segunda-feira, mas ainda não teve acesso aos documentos da investigação. Ribeiro deve se pronunciar nesta quarta-feira, após analisar o caso.

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As acusações aos envolvidos configuram diversos crimes, como inserção de dados falsos em sistema de informações, corrupção passiva, falsificação de documento público e formação de quadrilha. Além de pedir a prisão temporária e a quebra do sigilo bancário de Sérgio Samuel, o MP-SC também requisitou mandados de busca e apreensão de documentos de outros envolvidos.