Um cachorro Lhasa Apso marrom e diversas sacolas de roupas estavam no carro de um dos principais assaltantes de banco e carro-forte do Rio Grande do Sul, no momento de sua prisão, em Florianópolis, nesta sexta-feira. Luciano Bischof Comper, de 36 anos, o Peru, é especialista numa nova técnica de roubo com explosivos e suspeito de atuar em quadrilhas de Santa Catarina e Paraná. Com 14 anos de ficha criminal, estava há dois meses foragido.
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Calhas de ferro e cintas para amarrar cargas em caminhões eram as principais ferramentas usadas por Luciano Comper para abrir cofres com dinamite. A técnica herdada dos assaltos a carro-forte foi adaptada para a nova modalidade de roubo a banco que vem substituindo os ataques a caixa eletrônico: a explosão de cofres dentro das agências. O explosivo é o mesmo, mas a logística não.
– Os caixas eletrônicos já não têm tecnologia para suportar explosões. É inevitável que ocorra essse tipo de crime, afinal existem terminais em todo o lugar, é sinônimo de progresso inclusive. Com isso, os bancos diminuiram o montante de dinheiro nos caixas e passaram a guardar o volume maior nos cofres. Os criminosos, oportunistas, acabaram desenvolvendo novas técnicas como essa – observou o titular da Delegacia de Roubos e Extorsões do Departamento de Investigações Criminais (Deic) do RS, delegado Joel Wagner.
Dois roubos com este perfil, nos quais a participação de Comper é investigada, ocorreram no RS este ano: em 3 de março, em União da Serra, e em 7 de abril, em Barros Cassal. Em 10 de março, o Deic/RS apreendeu uma carga de dinamite em Porto Alegre que seria de Comper e prendeu um comparsa do assaltante, de acordo com o delegado Joel. No mesmo dia, Comper foi considerado foragido da Justiça porque não voltou para a cadeia, em Gravataí, onde cumpria pena por crimes de roubo, no regime semiaberto.
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A partir desse dia, o homem natural de Caxias do Sul com acusações de dois homicídios, prisões por assalto e formação de quadrilha, entre outros crimes, passou a ser prioridade da polícia gaúcha. Desde 2005, ele é investigado pelo Deic/RS. Há um mês, os policiais da Roubos receberam informações de que Comper estava em Santa Catarina. Não foi difícil chegar num dos esconderijos: a cobertura de um parente, em Jurerê, Norte da Ilha.
A prisão na Ilha
Há um mês equipes do Deic do RS e de SC acompanham os passos de Luciano Comper. Sua companheira foi vista diversas vezes pelos policiais. Até que chegou a grande oportunidade na tarde desta sexta-feira. A polícia foi avisada de que ele sairia à tarde da cobertura, provavelmente com destino ao próximo esconderijo: o Paraná. Um contrato de locação daquele estado estava com o casal. A informação era quente.
Por volta das 15h30min, o Hyundai HB-20 branco placas de Viamão (RS) saiu do prédio e seguiu pela rodovia SC-401, que liga o Norte ao Centro de Florianópolis. As equipes não chegaram a tempo e pediram para a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) interceptar o carro. Cerca de 16h, o carro branco passou na barreira, na altura de Santo Antônio de Lisboa. Comper mostrou documento falso. Em minutos, os policiais da Deic chegaram.
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– Você me conhece, Luciano? – perguntou o delegado do Deic.
– Sim, Joel Wagner – respondeu Luciano, vestido com jeans e jaqueta de couro.
A companheira do preso foi embora de taxi com o cachorrinho do casal. Luciano foi levado para a Deic de SC e seguiria para Porto Alegre nesta sexta-feira à noite. Ele foi preso por estar foragido e pelo mandado de prisão preventiva pelo crime de porte ilegal de explosivos, da apreensão de março, em Porto Alegre. Pareceu tranquilo durante a prisão. Na sede da Deic, em Florianópolis, não quis dar entrevistas.
A cultura do carro-forte
A técnica usada atualmente foi adaptada dos assaltos a carro-forte, crime muito praticado nos anos 1900 e 2000 por duas quadrilhas no RS: a do Papagaio e do Seco. Os dois assaltantes de banco são contemporâneos de Luciano Comper e podem ter ligação com ele, não confirmada pelo Deic/RS.
Mais de 30 comprovantes de depósito foram apreendidos com Comper. Desses, 14 foram feitos no mesmo dia, em abril, em cidades paranaenses. Todos tem o mesmo valor de R$ 1.500. A polícia acredita que Comper tenha feito um grande assalto no Paraná, em abril, e para não viajar com dinheiro preferiu depositar na conta da companheira.
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O assaltante gaúcho é suspeito de ter ligações com quadrilhas catarinenses e paranaenses. No RS, ele lidere seu próprio bando, mas nos estados vizinhos estaria sendo contratado para repassar sua técnica de explodir cofres com sucesso. Sua renda é relativa, de acordo com o número de participantes no assalto e com o volume roubado.
De acordo com o delegado Joel Wagner, há cofres com até R$ 500 mil. O policial vai analisar todos os crimes que Comper possa ter cometido na região Sul. Participaram da investigação e prisão, policiais da Delegacia de Roubos de Deic/SC, coordenados pelo delegado Anselmo Cruz.