O deserto que normalmente se tornam as tardes dominicais no Centro Histórico de Florianópolis foi quebrado pela batida de tambores e atabaques e artistas locais. Neste domingo de céu nublado e clima ameno, um grupo de moradores e frequentadores da região leste da Praça XV de Novembro ocupou a Rua Vitor Meireles, onde fizeram uma intervenção artística na Escola Antonieta de Barros, prédio que agoniza esquecido pelo poder público há exatamente uma década.

Continua depois da publicidade

O objetivo do evento foi chamar atenção para o abandono do edifício tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado e município, que já abrigou inclusive a primeira exposição do Museu de Arte de Santa Catarina, em 1948. Os pintores fizeram uma ocupação artística na fachada da escola, com grafites, pixos, fotografias e arte stencil, dialogando com as pinturas e cartazes já existentes. Tudo ao som dos músicos do projeto de percussão Africatarina, além de projeção de filmes na parede e uma feijoada para moradores de rua da região. Muitas pessoas que passavam pelo local se aglomeraram na via.

Fechada em 2008, quando apresentou problemas na estrutura pela falta de manutenção, a escola Antonieta de Barros virou apenas um estacionamento para servidores da Secretaria Estadual de Educação. O colégio abrigava 252 alunos das comunidades do Maciço do Morro da Cruz. Em abril do ano passado, o imóvel foi cedido por 30 anos para sediar a Escola do Legislativo, mas até agora nenhum tipo de recuperação foi feita.

— Essa região já se caracterizou como uma rota boêmia do Centro. São muitos bares e restaurantes no entorno. E vem aí o Museu Vitor Meireles. Por isso, seria legal que esse prédio também fosse recuperado para alguma atividade cultural. Como leva o nome da Antonieta de Barros, poderia virar um museu da etnografia negra em Santa Catarina — sugere um dos organizadores do evento, o jornalista Jeferson Lima, lembrando que Antonieta foi a primeira parlamentar negra do Brasil.

Continua depois da publicidade

Segundo Fifo, o movimento vai formar um grupo para pensar possíveis alternativas ao prédio tombado. Além de devolver o prédio a comunidade, o movimento também pede por um calçadão na rua que liga a Praça XV à avenida Hercílio Luz.

— Conseguir juntar essa gente toda nesse domingo já é uma grande vitória. São vários artistas juntos pensando a nossa cidade. Bem ou mal, só de estarmos aqui a gente já está revitalizando o Centro — destacou a artista visual Anna Morais.

(Foto: Marco Favero / Diário Catarinense)

Reforma foi anunciada ano passado

Foi publicado no Diário Oficial do Estado em abril de 2017 o termo de cessão do edifício do Governo do Estado para a Assembleia Legislativa. Esse acordo prevê que a Alesc assumirá a reforma e depois transferir para lá a Escola do Legislativo, que hoje funciona num prédio alugado na Rua Hercílio Luz, ao custo de R$ 30 mil mensais. O projeto de reforma foi orçado em R$ 159 mil, com tempo de execução de 90 dias.

Continua depois da publicidade

A Escola do Legislativo promove formação para políticos e servidores públicos, mas também existem convênios com colégios, universidades e a comunidade. Segundo a Alesc, o carro-chefe da Escola se chama – por coincidência – Programa Antonieta de Barros, que tem o objetivo de implementar políticas de ação afirmativas com ações que eliminem desigualdades de gênero, raciais e sociais.

Quando a escola completou oito anos fechada, a Hora esteve fez uma reportagem sobre o prédio. Encontramos um edifício degradado e sujo, que é usado de abrigo para moradores de rua e seus animais de estimação.

(Foto: Marco Favero / Diário Catarinense)