O mês de setembro começava quando, em uma noite de 2003, luzes de laser anunciavam uma festa na Cidadela Cultural Antarctica. Era a celebração da criação do Instituto Luiz Henrique Schwanke, marcando que ali, em breve, haveria um museu de arte contemporânea de 6 mil m².

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Um novo mês de setembro começa, 12 anos depois. A estrutura que seria usada para o MAC Schwanke hoje está murada por tapumes para proteger o público das paredes e dos telhados comprometidos pelo tempo e pela falta de manutenção. No entorno, o complexo onde funcionava a cervejaria, a situação é menos desalentadora, mas nem por isso representa boas notícias.

A verdade é que, 15 anos depois do anúncio de que Joinville ganharia um espaço destinado para a cultura e o lazer, poucos metros quadrados do endereço na rua Quinze de Novembro realmente são aproveitados para este objetivo – e a situação não tem data para mudar.

.::Artistas organizam protesto à decadência da Cidadela Cultural Antarctica::.

.::Cidadela Cultural, em Joinville, espera há 14 anos pela execução do projeto original::.

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São dois os grandes empecilhos que dificultam a transformação da Cidadela Cultural Antarctica no local que seu nome propõe, mas ambos tem a mesma base: a questão financeira. Para que ela seja exclusivamente usada pelo setor cultural, órgãos da administração pública precisam ser retirados do local.

Atualmente, é sob o nome de Secretaria de Proteção Civil e Segurança Pública (Siprot) que funcionam as atividades que destoam do local, ainda que, para o grande público, estas sejam as protagonistas da Cidadela.

Ali, cerca de 140 funcionários (divididos em setores de proteção civil e de trânsito) atuam no prédio principal. Somente com a saída da Siprot, o local poderá ser ocupado efetivamente pela cultura – mas não há verba para realocálos em outro prédio.

– Estamos estudando possíveis soluções: a primeira, que era na antiga prefeitura, tem um valor muito alto para o restauro; enquanto o prédio dos Correios, na rua Timbó, está com um problema estrutural que, mesmo com convênios, será muito caro reformar. Além disso, o local precisa ser de fácil acesso para o público – explica o secretário César Roberto Nedochetko, da Seprot.

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Enquanto isso não acontece, a Prefeitura de Joinville já avisou que não disponibilizará a Cidadela para novas atividades. De qualquer forma, para que possa abrigar novos espaços culturais – lá funcionam o galpão da Associação Joinvilense de Teatro, dois galpões da Associação de Artistas Plásticos de Joinville e dois galpões do Museu de Arte – será necessário readequar o projeto original e reformar o complexo, em um restauro que deve ultrapassar os R$ 20 milhões.

– Com recursos próprios, isso não seria possível. Por isso, estamos preparando um projeto para ser enviado para a Lei Rouanet. Ele ainda seria para atualizar o projeto arquitetônico, já que há partes do original que não são mais viáveis – explica o diretor executivo da Fundação Cultural de Joinville, Guilherme Gassenferth – Depois, terão que ser criados dois projetos para captar recursos: um para restauro, outro para ocupação.

Uma briga da sociedade civil

Em outubro de 2014, uma consulta pública foi aberta no site da Fundação Cultural para questionar como a população desejava que a Cidadela Cultural fosse ocupada. Mais de 300 respostas chegaram e, a partir delas, uma relatório foi elaborado em fórum para criar uma proposição à Prefeitura de Joinville, solicitando que, a partir destas intenções, a promessa de uso exclusivo fosse cumprida, dando início aos trabalhos de restauro do local. Passados quase 12 meses, não houve respostas – mesmo depois de novas reuniões e solicitações do presidente do Conselho Municipal de Cultura, Maycon Santos.

– O problema é que não se estabelesse contato de fato com a Prefeitura, já que um diálogo é uma via de mão dupla e, neste caso, parece que estamos falando sozinhos – conta Maycon.

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Para garantir que a reforma e ocupação da Cidadela Cultural de Joinville não fique à mercê das mudanças de gestão, ela entrou nas metas do Plano Municipal de Cultura, aprovado em 2012. Elas faz parte das diretrizes e ações do Eixo Temático 3, que refere-se à Qualificação Democrática da Gestão Cultural, e estava listada como curto prazo: este, no caso, terminava em julho de 2014.

– A manutenção da Cidadela Cultural é lei, está no plano, que é uma conquista da sociedade civil para que projetos como este não tenham a fragilidade da descontinuidade das gestões, que não deixam de lado realizações da anterior por questões partidárias – argumenta ele.