A prisão de um ex-presidente não é um fato inédito na história do Brasil. Antes de Lula, que deve se entregar à Polícia Federal nesta sexta-feira, seis líderes do período republicano foram presos ou tiveram a sua liberdade restringida depois ou durante o exercício de um mandato presidencial. O último caso aconteceu em 1968, quando o ex-presidente Juscelino Kubitschek ficou encarcerado por nove dias depois da proclamação do AI-5 pela ditadura militar.

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O caso de Lula é diferente, entretanto, por se tratar de um crime comum e de uma prisão em função de sentença judicial. Veja abaixo a lista dos ex-presidentes presos.

1) Hermes da Fonseca

O gaúcho de São Gabriel foi presidente do Brasil entre 1910 e 1914. Antes disso, fez carreira militar até chegar ao posto de marechal, o mesmo ocupado pelo seu tio, Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil. Em julho de 1922, presidia o Clube Militar e fez críticas a uma intervenção federal nas eleições de Pernambuco. Como resultado, Hermes foi preso, a pedido do presidente Epitácio Pessoa, e o Clube Militar foi fechado. Hermes da Fonseca ficou preso por seis meses, até janeiro de 1923, quando conseguiu um habeas corpus. Uma das consequências da prisão foi a chamada revolta dos 18 do Forte, em Copacabana. Hermes morreu poucos meses depois de ser solto.

2) Washington Luis

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O paulista era o presidente em exercício quando ocorreu o golpe que levou ao poder Getúlio Vargas, em outubro de 1930. Esse episódio é conhecido na História do Brasil como o fim da República Velha. O paulista Julio Prestes havia vencido as eleições daquele ano, mas foi impedido de tomar posse. Washington Luis, que era correligionário de Prestes, foi então preso com o apoio de lideranças dos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. Washington Luis ficou preso por 27 dias no Forte de Copacabana, sendo exilado na sequência. Passou 17 anos fora do país. Morreu em 1957, em São Paulo.

3) Arthur Bernardes

Mineiro, foi presidente entre 1922 e 1926. Em 1932, no governo de Getulio Vargas, apoiou a revolução comandada pelos paulistas. Mas foi preso em setembro de 1932 no interior de Minas Gerais ao tentar organizar um levante contra o governo federal. Foi levado ao Rio de Janeiro, onde ficou preso por aproximadamente dois meses, seguindo depois em exílio para Portugal. Retornou ao Brasil anos mais tarde, exercendo mandatos de deputado federal. Morreu em 1955, aos 79 anos.

4) Café Filho

Assumiu a presidência do país em 1954, depois do suicídio de Getulio Vargas. Em novembro de 1955, afastou-se por problemas de saúde, já que teve um infarto do miocárdio. Em seu lugar, a presidência ficou nas mãos de Carlos Luz, o presidente da Câmara. Luz estava alinhado com o candidato derrotado nas eleições presidenciais daquele ano, o udenista Eduardo Gomes. Temendo um golpe, o marechal Herique Teixeira Lott organizou um “contragolpe”. O presidente Carlos Luz foi retirado do poder apenas oito dias depois de assumir. A sessão de impeachment no Rio de Janeiro teve tanques do lado de fora do Congresso. Quando recebeu alta médica, Café Filho foi posto em prisão domiciliar por dois meses e meio até que o presidente eleito, Juscelino Kubitsckek, assumisse o cargo em janeiro de 1956.

5) Jânio Quadros

Foi presidente por apenas sete meses, em 1961. Renunciou ao cargo alegando que “forças terríveis” o obrigavam a deixar o cargo. Em julho de 1968, foi posto em confinamento na cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, pelo regime militar. O governo queria afastar figuras políticas históricas importantes das manifestações que ocorriam no país — e Jânio havia feito críticas públicas ao golpe de 1964. O confinamento durou quatro meses e ele esteve acompanhado o tempo todo pela esposa, Eloá. Nos dois primeiros meses, pode almoçar e jantar fora do hotel Santa Mônica, onde estava hospedado no sexto andar. Policias federais acompanhavam o ex-presidente todo o tempo. Nos dois últimos meses, não podia deixar o hotel. A história virou livro. Diário de um confinado foi escrito pelo jornalista Mauro Ribeiro, que acompanhou o caso na época.

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6) Juscelino Kubitschek

No dia em que foi baixado o Ato Institucional 5 (AI-5), que levou ao período de maior repressão da ditadura militar, o ex-presidente foi paraninfo de uma formatura no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Ao sair, foi detido por militares e levado para um quartel em Niterói, onde permaneceu encarcerado por nove dias (de 13 de dezembro até o dia 22). Ao ser libertado, passou a dedicar-se ao universo empresarial. Morreu em um acidente de carro em 1976.

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