A chegada do serviço de transporte privado Uber a Joinville gerou expectativa e curiosidade de quem usa outros meios de locomoção, como táxi, ônibus e carro particular. Elogiada pela qualidade do serviço e o preço mais em conta, a plataforma tem conquistado usuários em várias cidades do Brasil e em todo o mundo. ?AN? decidiu testar o serviço, no primeiro dia de funcionamento na cidade.
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Solicitei o serviço pelo aplicativo às 15h42 no final da rua Visconde de Taunay, próximo ao Cemitério Municipal. O objetivo era não me identificar como jornalista para que o atendimento não fosse diferente do dos demais usuários por se tratar de uma matéria de teste do serviço.
Como chovia, permaneci embaixo de uma marquise, sem visão para os carros que vinham pela rua. Por isso, não percebi quando o Honda Fit passou por mim. Enquanto checava no aplicativo a localização do veículo, fui surpreendido pelo condutor me chamando pelo nome. Ele havia parado em frente ao local, em um posto de gasolina, e sugeriu dar a volta na quadra para estacionar onde eu esperava, evitando que me molhasse. Recusei gentilmente e atravessei a rua para começar a viagem.
Entrei às 15h47 no carro, um modelo novo, equipado com ar-condicionado e bem limpo, como pede os requisitos mínimos da empresa para que o motorista preste o serviço. Ele me disse que ainda estava se adaptando e perguntou o melhor caminho para chegar ao meu destino, um shopping na zona Norte da cidade. Em seguida, me ofereceu balas e água. Não me questionou se me sentia à vontade com a temperatura ou com a música que tocava e, por sorte, nenhum dos dois me incomodava.
Após alguns segundos de silêncio, a conversa começou a se desenrolar. Ao longo do percurso, contou que é engenheiro eletricista e está desempregado há cerca de seis meses após ser demitido do cargo, pelo alto salário que tinha. Ele nunca foi motorista de transporte de passageiros, mas viajava para vários lugares dirigindo pelo antigo trabalho. Desempregado e com parcelas do carro para pagar, ele decidiu virar motorista do Uber para ajudar nas contas.
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? Estou na quinta corrida do dia, isso porque comecei agora às 14 horas. Eu estou gostando, já conheci pessoas novas e bacanas nesse pouco tempo ? avaliou.
Protestos dos taxistas
Outras cidades que receberam o Uber no Brasil também tiveram protestos por parte dos motoristas de táxi, que reivindicam a regulamentação do transporte privado. Questionei o motorista sobre essa possível discussão e ele se mostrou solidário ao ponto de vista dos taxistas. Segundo ele, a categoria paga muito caro para ter a liberação para o transporte de passageiros, além de várias taxas, enquanto os motoristas do recém-chegado serviço à cidade não precisam arcar com esses gastos.
Cheguei ao ponto final às 16h11, após 23 minutos de viagem, em um percurso de 9,82 quilômetros. O valor cobrado foi de R$ 17,42, sendo R$ 2 de preço-base, R$ 10,80 pela distância percorrida e R$ 4,62 pelo tempo gasto no deslocamento. Todos os detalhes foram encaminhados ao meu e-mail após o encerramento da corrida, não antes de o motorista agradecer pela viagem e me desejar um bom fim de semana.
Taxistas cobram multa maior para transporte clandestino
Um grupo de taxistas apresentou reivindicações sobre o transporte privado de passageiros ao prefeito Udo Döhler, nesta sexta-feira, em Joinville. De acordo com Fernando Luis da Silva, presidente da cooperativa Rádio Táxi, não há cobrança especificamente sobre o Uber, mas contra todo o modelo de transporte de pessoas que seja clandestino. A intenção dos taxistas é de que esses serviços atuem na cidade apenas se forem regulamentados.
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? A conversa foi muito boa. Nós também falamos sobre a multa para o transporte clandestino, que precisa ser aumentada. Essa é uma luta nossa desde 2014 e o prefeito nos disse que é uma questão que precisa ser resolvida pelo Legislativo. Nós esperamos que a Câmara de Vereadores coloque esse projeto na pauta até quarta-feira ? explicou.
O projeto de lei ordinária nº 420/2014, do vereador Sidney Sabel, já foi aprovado nas comissões de Legislação e Urbanismo e lido no plenário, mas precisou retornar para apreciação da Comissão de Finanças na Câmara.
Além de exigir que o transporte remunerado de passageiros (táxis e vans, principalmente) tenha prévia autorização da Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra), o texto também reforça o valor das multas.
Hoje, quem for flagrado fazendo o serviço paga o equivalente a duas unidades padrão municipais (UPMs), cujo valor para dezembro de 2016 é de R$ 267,90. Ou seja, a multa máxima é de R$ 536,80.
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O projeto prevê o aumento do valor para 30 UPMs (R$ 8 mil) e a apreensão do veículo flagrado fazendo o transporte irregular (50 UPMs em caso de reincidência). A expectativa da Câmara de Vereadores é de que o projeto seja liberado pela comissão de Finanças em uma reunião extraordinária nesta segunda-feira, seguindo diretamente para plenário e, posteriormente, à votação. As sessões do Legislativo encerram-se na próxima quarta-feira, quando a casa entra em recesso de fim de ano.
O que diz a Prefeitura:
A Prefeitura de Joinville informa que os serviços de transporte privado de passageiros que não estão de acordo com a regularização no município ? lei nº 3.282 ? são considerados ilegais e estão sujeitos às penalidades impostas pela legislação.
A fiscalização é realizada pela unidade de transporte da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), e as denúncias podem ser encaminhadas pela Ouvidoria por pelo telefone 156 ou pelo site da Prefeitura de Joinville.
De acordo com a Prefeitura, atualmente cerca de dez fiscais da Seinfra circulam pela cidade para realizar a fiscalização de irregularidades. As punições são analisadas caso a caso e podem chegar a multa, apreensão de veículo ou, caso existam taxistas usando o serviço de forma irregular, perda da concessão.
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A Prefeitura informa também que, no momento, não há projeto de lei sendo elaborado com propósito de normatizar os serviços de transportes de passageiros privados, que não sejam táxis, solicitados exclusivamente por meio de aplicativos ou outras tecnologias.