O caso apontado pela polícia como o maior golpe já praticado em Joinville leva o rosto do empresário Marcos Antônio de Queiroz, acusado de arquitetar uma fraude imobiliária que lesou mais de 300 clientes e arrecadou uma quantia estimada em R$ 10 milhões com a venda de apartamentos na planta.

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Era Queiroz quem promovia os negócios do chamado Grupo Marcos Queiroz com a própria imagem em anúncios comerciais e panfletos. Ele foi preso três semanas depois que o caso veio à tona, em agosto, e segue detido em Joinville. Mas no centro da investigação também está a mulher dele, Ana Cláudia da Silva Queiroz, denunciada pelo Ministério Público com a mesma lista de crimes atribuída ao marido.

A Policia Civil chegou a pedir a prisão dela à Justiça, sem sucesso. O paradeiro de Ana Cláudia foi uma incógnita durante todo o processo – ela não havia sido encontrada em nenhum dos endereços registrados pelo casal em Joinville – mas “A Notícia” confirmou nesta segunda que ela passou os últimos dois meses na pequena Cambé, cidade vizinha de Londrina, no Norte do Paraná. De carro, uma viagem de Joinville até aquele município leva cerca de seis horas.

Sua casa é um imóvel alugado, construído junto a uma segunda residência, no bairro de Jardim Silvino. À primeira vista, não há qualquer indício de um possível padrão de vida milionário. Na garagem, vazia, há apenas uma lavadora de roupas colocada à venda. A reportagem de AN esteve no local nesta segunda e perguntou por Ana Cláudia. Quem abriu a porta foi Maria Aparecida Queiroz Monteiro, 69 anos, irmã mais velha de Marcos Queiroz, conhecida na comunidade por “Tatinha”.

Ela confirmou que a cunhada Ana Cláudia mora naquele endereço, mas informou que havia saído para levar a filha de seis anos ao postinho de saúde. Ana Cláudia não voltou para casa entre o período da manhã e o começo da tarde, nem deu retorno aos contatos telefônicos deixados pela reportagem.

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Rotina no anonimato

Ana Cláudia da Silva Queiroz, por enquanto, parece ser um nome desconhecido por vizinhos e moradores das redondezas do Jardim Silvino. As únicas referências na casa onde tem morado são dona Tatinha e o marido. Nem mesmo o dono da propriedade alugada, que mora numa casa do outro lado da rua, tem notícias da nova inquilina.

Por lá, a história do golpe milionário em Joinville nunca repercutiu.

– Nós temos preservado ela de tudo isso – comenta a irmã de Queiroz sobre a pouca exposição da cunhada.

A nova rotina de Ana Cláudia, diz a aposentada, está voltada aos cuidados da filha, que ficou abalada com a prisão do pai, e não inclui sequer a presença nos cultos da Igreja Prebisteriana que a família frequenta.

– No momento certo -, diz dona Tatinha, Ana Cláudia irá se manifestar em público sobre o que ocorreu. Por enquanto, prefere o silêncio.

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Apesar de as intimações anteriores terem sido frustradas, a mulher de Marcos Queiroz sabe das acusações que pesam em seu nome e já recebe orientação de advogados de Londrina. Ela e a família esperam para os próximos dias uma intimação expedida pela 4ª Vara Criminal de Joinville ao Fórum de Cambé (PR).

O recebimento do documento pela Justiça paranaense foi confirmado na semana passada. Na carta precatória consta o mesmo endereço onde AN esteve. Assim que for intimada, Ana Cláudia terá prazo para responder às acusações por escrito, como ocorreu com os outros cinco réus da ação penal (além dela e do marido, mais cinco ex-funcionários foram denunciados pelo Ministério Público e respondem em liberdade).

Mesmas alegações de Marcos Queiroz

A versão de Ana Cláudia, se depender do que é conversado na família, deve coincidir com o que alegou a defesa do marido dela na documentação entregue à Justiça, conforme mostrado por “A Notícia” no mês passado: o argumento é de que foi preciso deixar a cidade por segurança depois que os dois materiais de construção mantidos pelo casal foram alvos de saques e destruição. A linha de defesa sustenta, ainda, que todo o montante arrecadado com as vendas foi investido no grupo e que os negócios ruíram de vez após os saques.

Dezenas de ações individuais de cobrança e de rescisão de contrato também foram ajuizadas contra o casal. As contas de ambos foram bloqueadas judicialmente, sem que qualquer valor fosse recuperado, e os sigilos fiscais de ambos acabaram abertos para auxiliar na investigação. A ação penal ainda não tem audiências marcadas.

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Ebert Zamboni, um dos advogados de defesa do casal, uma das empresas do grupo Queiroz estava com uma necessidade de adaptação financeira e administrativo.

– O sucesso da loja de material de construção teria sido um sucesso, motivando a abertura de um segundo ponto comercial. Mas isso aumentou o custo operacional, sem aumentar consideravelmente as vendas dos imóveis, por isso houve uma necessidade de reestruturação de gestão reduziu o número de plantões, remanejando estoques das lojas e vendendo veículos.